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quinta-feira, 24 de julho de 2014

São Paulo integra projeto internacional de megatelescópio

Um dos principais telescópios do mundo terá a participação de pesquisadores do Estado de São Paulo em suas operações, resultado da integração da FAPESP no consórcio internacional do Giant Magellan Telescope (GMT), que começará a ser construído em 2015, nos Andes chilenos.


O GMT, que deverá funcionar plenamente em 2021, ampliará em cerca de 30 vezes o volume de informações acessíveis aos telescópios atualmente em operação.

A FAPESP investirá US$ 40 milhões no projeto, o que equivale a cerca de 4% do custo total estimado. O investimento garantirá 4% do tempo de operação do GMT para trabalhos realizados por pesquisadores de São Paulo, além de assento no conselho do consórcio.

De acordo com Hernan Chaimovich, membro da Coordenação Adjunta de Programas Especiais e coordenador dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP, estão sendo conduzidas negociações com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para cofinanciamento e ampliação da participação a instituições de todo o Brasil.

“Há o interesse genuíno de ambas as partes que pesquisadores de todos os estados possam usufruir do telescópio e se beneficiem das possibilidades de pesquisa abertas”, disse Chaimovich.

Foram quase três anos de análises desde a solicitação inicial para participação da FAPESP no consórcio, feita por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em outubro de 2011. Em julho de 2012, a proposta foi submetida à avaliação de assessores internacionais, e os pareceres, todos positivos, foram recebidos em janeiro de 2013.

Em novembro do mesmo ano, como parte das avaliações da proposta, a FAPESP organizou um workshop científico sobre o projeto na sede da Fundação. “O objetivo foi aferir o interesse e o potencial da comunidade científica paulista na área”, explicou Chaimovich.

Participaram do evento diretores e cientistas do GMT, astrônomos do Estado de São Paulo e pesquisadores e gestores do Laboratório Nacional de Astrofísica, do Observatório Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), entre outros.

Também foi realizado um workshop com representantes de indústrias interessadas em participar do projeto. “O Brasil tem grandes empresas capazes de atuar em diversos setores do processo, desde a produção de peças mecânicas para o telescópio até a construção civil”, disse Chaimovich.

Em junho de 2014, a Coordenação Adjunta de Programas Especiais da FAPESP deu parecer favorável e o Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da Fundação aprovou o financiamento, assim como a continuidade do diálogo com o MCTI para obtenção de cofinanciamento. Também está sendo tratado com a USP o estabelecimento de um Centro de Gestão de Grandes Projetos de Astronomia na universidade. 

Novos horizontes

Para o astrofísico João Evangelista Steiner, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, o GMT abrirá novas fronteiras em quase todas as áreas da astronomia contemporânea.

“Com essa medida, a FAPESP assegura que a comunidade astronômica brasileira estará na vanguarda por muitas décadas, com grandes oportunidades de descobertas científicas, atraindo novos talentos e também levando inovação para a nossa indústria por meio de parcerias internacionais. Trata-se de um salto quantitativo e qualitativo que firmará a posição do país como participante pleno da astronomia mundial”, disse à Agência FAPESP.

De acordo com Steiner, o trabalho seguirá os moldes da participação brasileira em outros grandes projetos da área, também financiados pela FAPESP: o Gemini, em operação desde 2004 com dois telescópios “gêmeos”, um nos Andes chilenos e outro no Havaí; e o Southern Observatory for Astrophysical Research (Soar), operando nos Andes desde 2005.

“O Brasil levará ao GMT as experiências e os conhecimentos acumulados no Gemini e no Soar, que foram de extrema importância para os pareceres positivos da comunidade científica internacional nas avaliações feitas pela FAPESP sobre o projeto”, disse Steiner.

O acesso a um telescópio das proporções do GMT será decisivo na formação da comunidade acadêmica brasileira, segundo Steiner. “Participar de pesquisas em instalações de classe mundial será essencial para atrair estudantes e para manter a qualidade da investigação científica na área no mais alto nível”, disse.

Para o pesquisador, o cenário já está em transformação. “Antes de o Brasil ingressar no Gemini e no Soar, os programas de pós-graduação em astronomia não eram muito atraentes. Mas, com a perspectiva de ter acesso a essas instalações internacionais, o interesse dos alunos aumentou, tanto em quantidade como em qualidade. Os jovens, em geral, têm anseio pelo desafio. A chance de atuar com um telescópio de 25 metros de diâmetro, como o GMT, certamente oferece um futuro desafiador”, disse.

O Brasil tem 19 programas de pós-graduação em astronomia, seis deles no Estado de São Paulo.

O megatelescópio

O GMT será instalado no Observatorio Las Campanas, na região do Atacama, na Cordilheira dos Andes, próximo à cidade chilena de Vallenar – região privilegiada para observações astronômicas por conta da altitude de mais de 2.500 m, da escuridão do céu do hemisfério Sul e do clima seco.

Os equipamentos permitirão aos astrônomos investigar a formação de estrelas e galáxias logo após o Big Bang, medir a massa de buracos negros e mapear o ambiente imediato em torno deles. Com o GMT será possível descobrir e caracterizar planetas em torno de outras estrelas, com possibilidade de detecção de exoplanetas semelhantes à Terra, e estudar a natureza da matéria e da energia escuras.

“Embora a descoberta de novos exoplanetas esteja crescendo exponencialmente, questões relevantes sobre como são formados os sistemas planetários e o quanto eles são estáveis requerem grande abertura e alta resolução espacial. Os estudos no GMT poderão mostrar, por exemplo, se planetas gasosos se formam como o nosso”, estima Steiner.

O GMT usará sete dos maiores espelhos ópticos já construídos para formar um único telescópio de 25,4 metros de diâmetro. Lasers potentes serão usados para medir e corrigir distorções induzidas pela atmosfera da Terra, produzindo imagens de objetos celestes distantes com clareza sem precedentes.

A área coletora de fótons será cem vezes maior que a do telescópio espacial Hubble e a nitidez das imagens, no infravermelho, será dez vezes melhor.

Mais de uma centena de engenheiros e cientistas dos escritórios do GMT – localizados em Pasadena, na Califórnia (Estados Unidos) e nas instituições parceiras – estão envolvidos no desenvolvimento do projeto. O primeiro espelho óptico, de 8,4 metros, já foi finalizado no Steward Observatory Mirror Lab da University of Arizona. Outros dois estão sendo lixados e polidos, e o vidro do quarto espelho deverá ser derretido no forno do laboratório em março de 2015.

Também são parceiras do projeto as instituições Astronomy Australia Limited, Australian National University, Carnegie Institution for Science, Harvard University, Korea Astronomy and Space Science Institute, Smithsonian Institution, Texas A&M University, University of Chicago, University of Texas at Austin e, com a entrada da FAPESP no consórcio, a USP.

Além do GMT, há outros dois projetos de telescópios gigantes sendo desenvolvidos internacionalmente: o European Extremely Large Telescope (E-ELT), coordenado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), e o Thirty Meter Telescope (TMT), administrado pelo California Institute of Technology e pela University of California. A participação do Brasil no E-ELT, aprovada pelo MCTI em 2010, aguarda aprovação do Congresso Nacional.

Mais informações sobre o GMT em www.gmto.org

Fonte: EcoDebate

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