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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sonhar e realizar, artigo de Gilmar Passos

A partir do século XVI grandes mudanças aconteceram no lado ocidental do globo terrestre. Embarcações saíram para ganhar o mundo, conquistando novas terras. Novas mudanças no cenário social, político e religioso europeu deram continuidade a novos sonhos e conquistas. O Ocidente estava se transformando num gigante de conquistas, de sonhos e esperanças.


Formou-se a consciência de conquista que entrou fortemente no pensamento das pessoas, da sociedade, da religião e da política. Todos passaram a acreditar que era possível conquistar novos espaços, junto a isso estava se concluindo o pensamento de liberdade. Como era sentida a necessidade da liberdade e tendo sido concluído a consciência da mesma, tudo o que tinha a presença humana manifestava o protesto em ser livre. Agora estavam aliadas a conquista e a liberdade.

Cada conquista dava sinais de liberdade. Rapidamente se espalhou a ideia de conquista dos sonhos, dos desejos e outras coisas semelhantes. Mas o que mais marcou o ser humano foi à descoberta de que todas essas conquistas seriam também individuais. E assim as conquistas se individualizaram e cada pessoa passou a buscar sua própria liberdade, conquista, realização e satisfação.

Historicamente, novos acontecimentos problematizaram ainda mais o ser humano e tornou-o mais fracionado. Marcas de sangue derramado, provocados pelas guerras mundiais e outras coisas mais que aconteceram e acontecem cotidianamente. Essas e outras questões fragilizaram o ser humano psicologicamente, deixando uma marca de escuridão entranhada na história de tal modo que quando nasce um novo ser rapidamente ela é introjetada nele. Temos, pois, uma doença grave a ser curada.

Devido a essa terrível doença, cada vez mais estamos numa sociedade fracionada e cheia de intrigas. As motivações são impessoais e desumanas com uma vaga dose de conteúdo e solidez. A mente do se humano ocidental está tão fragilizada que tem perdido a criatividade e passou a repetir coisas desconexas.

A falta de criatividade em dialogar tem incentivado guerras, massacres, descuidos estúpidos e suicidas pela natureza e pela vida. Ficamos reféns do próprio ser humano e presos à sua ignorância. As consequências são tão cruéis e desumanas que criaram uma enorme quantidade de seres humanos pobres psicologicamente de tal modo que se encontram fragilizados em manter vivos os sonhos e ou de realizá-los.

Não são os sonhos que se perderam, eles se enfraqueceram porque a capacidade humana de sonhar foi esmagada, pisoteada pelo sistema esmagador de sonhos. O medo de sonhar é hoje realidade, muitos nem sabem por onde começar.

Somos, pois humanidade com predominância da ausência de sonhos reais e essenciais. Há alguns ensaios de sonhos que não passam de voos de galinha e outros que são como ventos de verão, aparecem fortes e se desaparecem como poeira. Esses tipos de sonhos são assim porque não partem do desejo mais profundo do ser humano.

Todo ser humano tem sua fonte de desejos, e nela está a origem das vias que levam as mais fantásticas e belas realizações humanas, a felicidade. O que dificulta essa realização última é um conjunto de distorções de valores ou pressões que agridem psicologicamente às pessoas, em conjunto social ou individual, fazendo com que elas não acreditem nos sonhos.

Estamos, pois, com um número elevado de seres humanos que não acreditam nos sonhos, as pessoas ficam presas ao imediato e não planejam bem o futuro. A situação é tão agravante que a sociedade está presa ao imediatismo e ao conformismo, numa dependência quase que total de lideranças, mas os líderes também foram educados na mesma sociedade.

Se tudo continuar como está a tendência é atrofiarmos a capacidade humana pelos sonhos. Mas podemos fazer diferente, isto é, alimentado nossos desejos e acreditando nos pequeninos sonhos, mesmo que sejam sonhos infantis. Precisamos acreditar nas pequenas coisas, nos sentimentos, nos pequenos gestos. Necessitamos valorizar nossas pequenas ideias e imaginações para o bem, para o belo e para o Infinito.

Deixando fluir a imaginação pelo belo e para o Infinito, nos aproximamos de nós mesmo e no alegramos. Com ela ultrapassamos os limites da escuridão gerados da desordem e ambição humana. Por isso, no momento não é necessário controlarmos a imaginação, mas deixarmos ela livre. Não precisamos ter medo da liberdade, até porque a liberdade constrói e incentiva a persistência para se alcançar a realização humana.

Toda atenção dada aos detalhes iniciais dos sonhos e desejos pelo Belo é significativa e impulsiona o pensamento a colorir a vida, a sociedade e todos os ambientes interplanetário.

Sonhar para o Infinito e por ele. Não ter pressa em ver os sonhos realizados, mas sonhar, simples assim. O ser humano que deixa fluir do seu íntimo os sonhos mais iluminados, sadios e sinceros encara o mundo plantando jardins de esperança, cuidado, ternura e afeto. É o tipo do ser humano que não aceita a injustiça, a inimizade, a mediocridade, por isso está sempre atento para denunciá-las e fazer convite para substituí-las pela beleza e magia do amor.

A liberdade em sonhar honestamente vence paulatinamente as pressões adquiridas pela história da humanidade. Incentivemos, pois, o encanto pela vida. Acreditemos na magia da poesia no íntimo do ser humano. Fomentemos o desabrochar da ternura inquietante, do serviço e do cuidado do ser humano por ele mesmo, por outros seres e por toda a realidade que compõe o universo sem necessidade de pagamento. Incentivar que todo gestos pessoais e sociais sejam cuidadosamente e carinhosamente para ajudar a formação das pessoas para a realização humana da vida.

Gilmar Passos é sacerdote da Diocese de Estância (SE) e tem uma formação cristã ampla. Estudou Filosofia no Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição, Aracaju-SE e Teologia no Seminário Diocesano Rainha das Missões. Obteve a validação do Curso de Teologia pelo MEC na Faculdade Católica de Fortaleza. Atualmente cursa Pós-Graduação em Docência do Ensino Superior no Instituto de Ciências Humanas João Paulo II (IJOPA). Passos é autor de dois livros: Identidade cristã no século XXI (2012) e Miopia humana e mensagem cristã: uma leitura de fé em tempos de crise (2013), ambos publicado pela Fonte Editorial.

Fonte: EcoDebate

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