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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Políticas de Estado

Tem sido cada vez mais difícil emitir uma opinião sobre qualquer assunto neste país.
Antes de terminar uma frase alguém já te colocou numa caixinha, num escaninho, acompanhado de um rótulo: petista, tucano, vendido, radical, inocente, maluco. A lista é enorme e depende do interlocutor. Sem falar nos casos em que não é preciso abrir a boca. Como no velho Maracanã, algumas cadeiras ou ideias seriam cativas.

Vivemos um Fla x Flu diário, eterno e entediante. Só que sem a graça do futebol. Palavras como ouvir, refletir, argumentar, ponderar, ouvir novamente e, principalmente, pensar, teriam sido banidas definitivamente do dicionário. Não há nada de novo. Tudo já teria sido dito e pensado. Portanto, basta jogar o indivíduo num dos muitos sacos de gato disponíveis. Uma mistura de preguiça com burrice. Um ambiente assim já seria lamentável em qualquer época da história e em qualquer parte do planeta. Mas ele se torna especialmente perigoso diante dos desafios que estamos enfrentando e dos que nos aguardam nos próximos anos. Na segunda-feira, 345 cientistas brasileiros, membros do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), divulgaram um relatório mostrando que a temperatura média do país subirá entre 3°C e 6°C até 2100. Teremos menos chuvas na Amazônia, mais secas no Nordeste e mais inundações e desabamentos no Sul e no Sudeste. É importante ressaltar que não estamos falando de 345 loucos que se reuniram numa praia paradisíaca para fuMar um baseado e prever o fim do mundo olhando para uma bola de cristal. Trata-se da nata da Produção científica nacional na área, que se dispôs a reunir num documento todo o conhecimento acumulado em anos de pesquisa. Nomes reconhecidos internacionalmente, inclusive com o prêmio Nobel. Apesar disso, o destaque dado para este estudo em todos os veículos e nas Redes sociais foi mínimo. Na verdade, ínfimo, se coMPArado com o que daremos para a próxima tragédia ambiental e os seus mortos. Seguimos nos preocupando com o eu, o aqui e o agora. Dando destaque para a política com p minúsculo que vemos todos os dias. Vai ficar mais quente? Em 2100? Isso é longe demais. Tenho outros problemas. Só que não é bem assim. O trabalho dos pesquisadores mostra que teremos mudanças na vazão dos rios, declínio da Biodiversidade e aumento do nível do Mar em cidades costeiras, como o Rio, por exemplo. Perda do potencial de Pesca do país, acidificação dos oceanos e aumento da migração da população rural para as cidades. Efeitos que afetam a todos, que já se manifestam hoje e tendem a se intensificar ao longo do tempo. Somos vulneráveis, mas podemos mudar esse cenário.

6°C

É o limite máximo de aumento da temperatura no Brasil até 2100. O relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que reúne 345 cientistas, prevê ainda menos chuvas na Amazônia, mais secas no Nordeste e mais enchentes no Sul e no Sudeste do país.

E a hora é agora. Não temos tempo a perder. Não importa se teremos Dilmas, Marinas, Aécios, Josés, Joaquins ou Eduardos no próximo governo. A realidade nos obriga a trabalharmos juntos. Pelo menos desta vez, precisamos agir como um grupo e não como um bando. Se não dá para concordar em tudo, precisamos buscar o consenso em coisas básicas. O país precisa de políticas de Estado. Políticas com P maiúsculo, que estejam acima das cores partidárias. Não consigo imaginar um partido, da extrema direita à esquerda radical, que seja contra a universalização do saneamento básico. Continuamos coletando e tratando menos de 50% do esgoto gerado. Que tal uma meta mais ousada e recursos para acabar com essa vergonha em dez anos? Se a ciência diz que teremos menos chuvas na Amazônia nos próximos anos, é preciso rediscutir a política energética e as Hidrelétricas na região. A volta das usinas a carvão não resolve o problema, agrava. A redução do Desmatamento nos últimos anos foi um passo importante. Graças a ela diminuímos as nossas Emissões de gases de efeito estufa em 35%. Tudo indica que vamos bater a meta assumida em Copenhague sem grandes dificuldades. No entanto, o estudo divulgado agora mostra que depois de 2020 a tendência é de crescimento. A agropecuária e a energia são as maiores fontes de emissão de carbono e precisam mudar as suas lógicas de Produção. Não dá mais para aceitar a baixa produtividade da pecuária, com menos de uma cabeça de gado por hectare. Nem as nossas ruas lotadas de carros que não andam. Investir em mobilidade urbana e em Energia Limpa não é mais uma boa ideia, mas uma necessidade. Ainda dá tempo de minimizar os efeitos das Mudanças Climáticas, mas é irresponsável achar que nada vai acontecer. Os cientistas estão fazendo a parte deles, precisamos fazer a nossa. É uma questão de ética e de solidariedade. l

Autor: AGOSTINHO VIEIRA - oglobo.globo.com/blogs/economiaverde
Fonte: http://www.cliptvnews.com.br/mma/intranet/amplia.php?id_noticia=23662

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