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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Sacas herméticas protegem os cultivos

Às vezes, as melhores soluções podem parecer tão simples que é difícil imaginar como não foram inventadas há séculos. Esse é o caso das sacas para proteger os cultivos armazenados na África. São grandes sacos de plástico, semelhantes às sacas tradicionais, com diferentes capacidades, de 50 a 100 quilos de caupí, ou feijão-frade, ou de qualquer outro produto agrícola. Eles reduzem a perda de cultivos e fomentam a renda dos pequenos agricultores ao preço de US$ 2 cada um.

Grande parte do crédito dessa invenção é atribuída a Larry Murdock, professor da Universidade Purdue, dos Estados Unidos, que inventou os primeiros sacos de Armazenamento Melhorado de Feijão-Caupí de Purdue (PICS). Posteriormente a letra C passou a representar “cultivos”, porque a última geração dessas embalagens foi projetada para variados produtos agrícolas.

As sacas PICS são uma recordação de que a implantação de melhores ideias exige algo mais do que um toque de genialidade, é necessária uma quantidade certa de determinação e de trabalho prévio de campo e no campo.

O Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) trabalha nas sacas e fez mais de 1.500 demonstrações de produtos em mais de 25 Estados da Nigéria. O Instituto é a “principal fonte de informação” sobre o que, antes de tudo, não é apenas um produto simples, explicou o economista nigeriano Tahirou Abdoulaye, coordenador de projeto da instituição e que fez doutorado em Purdue.

O argumento para a criação dos sacos PICS é definitivamente convincente. Ao manter a produção seca guardada de forma hermética pode-se controlar a ameaça que representam os insetos. Dessa forma se revoluciona o valor potencial do alimento cultivado, pois diminuem os riscos de ataques pelos vorazes carunchos, que são capazes de destruir facilmente metade da colheita em menos de dois meses quando se usa os métodos tradicionais de armazenamento.

Com sua colheita melhor conservada, os agricultores podem garantir alimento suficiente para o consumo doméstico e impulsionar os preços à alta no mercado porque não estão obrigados a vender o excedente por medo de que apodreça. Uma análise concluiu que os produtores de feijão-frade aumentaram sua renda em 50% graças às sacas PICS.

O IITA há sete anos promove o uso dessas embalagens, com a ajuda de vários sócios e da Fundação Gates. Uma das características da saca PICS é que devem ser fabricadas em escala local, o que se organiza em numerosos países africanos, sendo Ruanda o último. Na Nigéria, a empresa Lela Agro distribuiu mais de um milhão de sacas. Mas, mesmo entregando a licença do produto e autorizando sua produção, a cadeia de fornecimento requer uma rede de distribuição.

O uso de sacas PICS dispara quando há um distribuidor local, destacou Abdoulaye. Na Nigéria, se existe um em uma área de sete quilômetros, os agricultores usam as sacas, o que significa muitas contratações. O IITA realiza painéis para treinar os vendedores na tecnologia, constrói capacidades entre as redes existentes de agentes de extensão, aproveita a publicidade e faz dezenas de demonstrações diretas entre agricultores.

Isso também exige tempo. Em geral, depois de dois meses, um membro da equipe de Abdoulaye volta para entrar em contato com um voluntário e acerta para que a produção do agricultor seja aberta após dois meses. Nesse momento, de alguma forma, a venda já está fechada. A perda de feijão-frade, do qual Níger é o segundo exportador mundial, é desprezível em relação ao que ocorre quando são utilizados métodos tradicionais de armazenamento ou sacos de polietileno, que nesses casos aumenta em 20%.

Também há outros benefícios adicionais. Por exemplo, os produtores podem usar pesticidas, tanto durante o período de cultivo como para tratar a colheita depois de seca. O preço desses químicos pode chegar facilmente a US$ 10 a tonelada, o que representa metade do preço das bolsas PICS que, em geral, durarão duas ou três safras.

Abdoulaye coordena os esforços do IITA na África ocidental. O Instituto é um centro de pesquisas sem fins lucrativos, que há quase 50 anos se dedica a erradicar a fome e combater a pobreza e a má nutrição. O projeto PICS é um exemplo de como os três problemas podem ser atendidos de forma integrada.

Primeiro, a perda de alimentos, a ruína da África subsaariana, diminui.

Segundo, o feijão-frade e outros cultivos similares, considerando que cerca de metade dos legumes secos da região é cultivada para a venda, têm um elevado teor de proteínas, o que melhora enormemente as perspectivas nutricionais e de forma acessível.

Por fim, os métodos de armazenamento seguro permitem aos agricultores escolher quando vender o excedente, e assim esperar um preço ótimo no mercado. Esse fator pode ter um impacto dramático em tempos de seca, e em épocas normais eleva a renda dos agricultores entre 10% e 15%, segundo Corinne Alexander, economista especializada em agricultura na Perdue.

Muitos mercados africanos também oferecem uma qualidade excepcional de legumes que não têm buracos nem descolorem em razão de outros tratamentos contra as pestes.

Outro possível beneficio é que as sacas podem ajudar a combater as aflotoxinas, produzidas por fungos que destroem as colheitas e até debilitam o sistema imunológico dos seres humanos. Estudos empíricos intensivos mostraram provas sólidas de que os sacos herméticos impedem o desenvolvimento de mofo e o acúmulo de aflotoxinas nas colheitas armazenadas.

O IITA também difunde o AflaSafe, um produto de controle biológico que basicamente elimina o fungo Aspergillus, que produz as aflotoxinas, e criou uma fábrica de baixo custo na Nigéria. Mas talvez o mais importante seja que a adoção de tecnologia como o uso desses sacos implica muito aprendizado colateral, que o IITA está disposto a proporcionar, pois, ao conhecer melhor seus problemas, os pequenos agricultores, sem dúvida, poderão desenvolver melhores formas de enfrentá-los.

Fonte: EcoDebate

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