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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

CEPID guarda o mais importante banco de tumores da América Latina

Quando a FAPESP e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer lançaram o Projeto Genoma Humano do Câncer, em 1999, o hospital A.C. Camargo – ao qual o Instituto estava associado – começou a armazenar amostras de tecidos tumorais de pacientes com câncer. Esse material deu origem ao primeiro, maior e mais importante biorrepositório da América Latina, com amostras de tumores de mais de 30 mil pessoas.

Esse banco de tumores tornou-se um precioso instrumento de pesquisa e de desenvolvimento para diagnóstico, prognóstico e tratamento de câncer. Cada amostra está correlacionada aos dados do paciente e ao histórico de sua doença. Assim, em paralelo ao banco de tumores, que contém os dados patológicos, há um banco de dados clínicos, com informações sobre cada paciente, e os dois estão integrados.

Dessa forma, é possível estudar as características de cada tecido tumoral em relação à evolução da doença do seu doador e à resposta a tratamentos, por exemplo. E, ao mesmo tempo, analisar e comparar esses dados com aqueles originários de tecidos e respostas clínicas de outros doadores, procurando mecanismos que permitam antecipar o diagnóstico ou prever o desenvolvimento da enfermidade.

“Graças à existência desse banco de tumores, pudemos pleitear nossa participação no Programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), possibilitando que o projeto fosse levado adiante e crescesse”, contou o patologista Fernando Soares, diretor do Departamento de Anatomia Patológica do hospital – recentemente renomeado como A.C. Camargo Cancer Center.

Soares coordenou o Centro Antonio Prudente para Pesquisa e Tratamento do Câncer, aprovado no primeiro edital do Programa CEPID, em 2000, e apoiado pela FAPESP por um período de 11 anos. As pesquisas realizadas por este CEPID prosseguiram no Centro Internacional de Pesquisa Ricardo Brentani, e a sua infraestrutura laboratorial foi incorporada pelo Centro de Patologia Investigativa (CPI), ambos instalados no A.C. Camargo Cancer Center.

As amostras depositadas no banco de tumores são recolhidas de pacientes submetidos a cirurgias. O tumor retirado é analisado por patologistas para a definição do tratamento e o material excedente é processado em “condições altamente controladas”, antes de ser congelado em nitrogênio líquido ou isolado em parafina, entre outros procedimentos.

“Ensaios de imuno-histoquímica ou técnicas de análise genômica permitem não apenas fazer o diagnóstico, mas também obter várias outras informações a respeito dos tumores, como a resistência a determinados tratamentos e a mensuração de biomarcadores prognósticos”, detalhou Vilma Martins, diretora do Centro Internacional de Pesquisa Ricardo Brentani.

Com a estrutura atualmente disponível no Centro de Pesquisa, é possível ainda gerar linhagens celulares a partir desses tumores e utilizá-las em modelos animais para o entendimento dos mecanismos associados ao processo tumoral. “Temos hoje uma estrutura que nos permite estudar esses tumores em nível molecular, celular e de sistemas, usando diferentes abordagens experimentais”, disse Vilma Martins.

A coleta e a armazenagem das amostras são realizadas apenas com a autorização do paciente ou de seu responsável legal. O material armazenado é codificado para assegurar a privacidade do doador e de todas as informações associadas. As pesquisas com o material são avaliadas e aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa e, em alguns casos, também pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.

Os pacientes que chegam todos os dias ao A.C. Camargo Cancer Center são beneficiários diretos desses estudos. “Existe hoje um conjunto de procedimentos de rotina no hospital que são decorrência direta da pesquisa, conhecimentos adquiridos no estudo que foram incorporados à atenção ao paciente”, destacou Fernando Soares.

Prevenção e diagnóstico

Um dos principais usos das amostras do Banco de Tumores do A.C. Camargo Cancer Center é a busca de alterações genéticas que aumentam o risco de câncer. Os portadores dessas alterações são beneficiados com medidas preventivas ou diagnóstico precoce. Uma alteração de DNA, por exemplo, pode permitir identificar os riscos da doença em pacientes ainda sem sintomas clínicos e desencadear ações de prevenção.

“Um exemplo prático é a detecção de mutações associadas com as síndromes de cânceres familiais, que permitem identificar pacientes assintomáticos com risco para desenvolver a doença. Nesse caso, os pacientes podem ser acompanhados, diagnosticados e tratados precocemente”, exemplificou Vilma Martins. “Os pacientes e suas famílias também são encaminhados ao Serviço de Oncogenética para aconselhamento genético, criado e ampliado durante o projeto CEPID”, continuou.

Uma linha de pesquisa avaliou mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 em mulheres que desenvolveram câncer de mama em idade jovem. As mutações nesses genes, que têm como função a supressão tumoral, predispõem ao câncer de mama e ao câncer de ovário.

O estudo, desenvolvido em conjunto com pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), foi realizado em mulheres que tiveram câncer de mama entre os 20 e os 35 anos. Ambos os genes foram analisados a partir do sequenciamento do DNA do sangue das pacientes. O maior benefício desse estudo foi possibilitar a identificação não só de pacientes em risco, mas também de famílias com alto risco. A partir da pesquisa, o hospital passou a disponibilizar o teste para detectar mutações naqueles genes, de forma a antecipar diagnósticos.

“As mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, associadas a uma história de ocorrências de câncer de mama ou ovário na família, indicam maior probabilidade de que a doença venha a se manifestar. Então, o sequenciamento desses genes passou a ser oferecido a pacientes que tenham esse tipo de histórico familiar”, relatou Vilma Martins.

Síndrome de Li-Fraumeni

Outra possibilidade de câncer familial caracterizada foi a Síndrome de Li-Fraumeni, que predispõe ao desenvolvimento de tumores em crianças (cérebro, rins e glândulas adrenais), adolescentes (sarcomas) e adultos jovens (mama). No Brasil, a presença de uma mutação no gene TP53, denominada R337H, foi identificada em pacientes com essa síndrome ou em síndromes relacionadas e estima-se que ela esteja presente em 0,3% da população da região Sul, aumentando o risco de desenvolvimento de cânceres ao longo da vida.

“Os estudos desenvolvidos no A.C. Camargo levaram à implantação do teste genético para identificação dessa mutação e diagnóstico em pacientes portadores de tumores com herança familial associada à síndrome. O teste é oferecido aos familiares e os portadores da alteração genética são acompanhados regularmente para a detecção precoce desses tumores”, afirmou Vilma Martins.

Com os estudos propiciados pelo banco de tumores foi possível estabelecer protocolos para convocação de indivíduos com alto risco de tumores hereditários. Se identificada uma condição de risco real, os pacientes passam a receber um acompanhamento médico mais rígido, o que aumenta sua probabilidade de sucesso.

Mais um estudo em câncer de mama vislumbrou a identificação de marcadores que pudessem predizer a progressão de um tumor ainda em estágio bem inicial. Esse tipo de tumor, denominado in situ, tem baixa possibilidade de se tornar uma doença importante, mas uma porcentagem pequena dos casos pode evoluir.

O grande desafio era identificar, ainda nos estágios iniciais, os tumores que tinham risco de se tornar doenças invasivas e tratar adequadamente suas portadoras, poupando as demais dos tratamentos mais agressivos. A pesquisa chegou em um conjunto de genes com tal potencial que, agora, estão sendo validados em um número maior de casos.

Metaplasia intestinal

Outra pesquisa, também voltada ao diagnóstico precoce, analisou amostras de tecido de pacientes com gastrite, metaplasia intestinal (diferenciação da célula epitelial gástrica em célula intestinal) e câncer de estômago.

Alguns pacientes com gastrite desenvolvem a metaplasia intestinal. A pesquisa revelou que há genes muito parecidos nos portadores de metaplasia e de câncer de estômago. Avaliando a expressão gênica e comparando esses dois grupos, além de tecidos normais, foi possível identificar classificadores, que permitiram distinguir entre amostras tumorais e não tumorais.

“Dois módulos funcionais, um relacionado ao metabolismo de lipídios (ativo em amostras de metaplasia e inativo em adenocarcinoma) e outro relacionado a citocinas (inativo em amostras de tecido gástrico normal), possibilitaram identificar os pacientes com maior risco de desenvolver o câncer de estômago e realizar a remoção antecipada da lesão antes de ela se tornar cancerígena”, explicou Vilma Martins.

O Centro desenvolveu também pesquisas com a proteína claudina 7, cuja presença pode indicar maior probabilidade de recorrência de tumores de mama e que passou a ser utilizada como marcador.

Outras pesquisas estão direcionadas a maior eficácia em tratamentos. Em uma delas, ainda em andamento, procura-se identificar um marcador sanguíneo capaz de indicar a terapia mais adequada para os cânceres metastáticos de pulmão, pâncreas, ovário e colorretal.

Com uma coleta simples de 8 mililitros de sangue, é possível identificar e quantificar células tumorais na circulação e correlacioná-las com a resposta ao tratamento e a progressão da doença. Até o momento, 150 pacientes já foram incluídos no estudo, e, assim que validado, o teste será realizado em todos os pacientes que forem atendidos no A.C. Camargo Cancer Center, como forma de acompanhar a evolução da doença e definir a melhor terapia.

Fonte: Fapesp

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