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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Brasil precisa ter sistema de monitoramento a longo prazo sobre mudanças climáticas, diz secretário do MCTI

Para Carlos Nobre, é central o país ter um conhecimento muito apurado do impacto das mudanças climáticas sobre a economia, a sociedade e o ambiente. O tema está sendo debatido em workshop em Brasília.


O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (Seped/MCTI), Carlos Nobre, abriu nesta terça-feira (16) o workshop internacional Desafios para o Monitoramento e a Observação dos Impactos de Mudanças Climáticas, na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em Brasília.

Ação do projeto Diálogos Setoriais entre Brasil e União Europeia, com organização do MCTI e apoio da Embaixada Britânica, o encontro segue até amanhã (17), em busca de identificar desafios e elaborar recomendações para observar impactos de mudanças climáticas, além de induzir a formação de uma rede de pesquisadores e gestores que possa compartilhar conhecimento e contribuir para a estruturação de um sistema brasileiro de monitoramento.

“Consideramos central para o planejamento e as estratégias de desenvolvimento sustentável do Brasil nós termos um conhecimento muito apurado sobre como as mudanças climáticas estão impactando e irão impactar a economia, a sociedade e o ambiente, com ênfase na nossa imensa biodiversidade”, afirmou Nobre. “Nesse sentido, o MCTI, já há alguns anos, começou um projeto, com fundos brasileiros, para desenvolver um conceito, uma ideia, um programa, para monitorar e observar esses impactos”.

Antecipação

Na visão do secretário, estruturar um sistema seria o passo seguinte a iniciativas como a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), estabelecida em 2008, após a publicação do 4º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

“A Rede Clima tem produzido uma série de resultados, muitos deles na direção de entender impactos”, disse Nobre. “A decorrência desse incipiente e novo conhecimento é ensejar o desenho de um sistema de longo prazo, de décadas de monitoramento, que nos permita nos anteciparmos, para que a sociedade não seja tomada de surpresa quando impactos de fato estiverem ocorrendo.”

O secretário lembrou que o 4º Relatório do IPCC apontou concentração na Europa, nos Estados Unidos e no Japão dos sítios observacionais com estudos de impactos das mudanças climáticas, com raros exemplos na América Latina.

“A situação mudou um pouco para melhor no 5º Relatório, divulgado neste ano, mas nenhum dos sítios apresentados localiza-se no Brasil”, comparou. “Isso já chamou a atenção, porque não temos observações sistêmicas de longo período sobre os impactos nos mais diversos setores de atividades econômicas”.

Para atingir o objetivo de contribuir para o futuro sistema, segundo Nobre, o workshop trouxe especialistas brasileiros e estrangeiros de diversos setores, como agricultura, biodiversidade, ecologia, energia, recursos hídricos, oceanos, saúde e zonas costeiras: “A discussão é muito relevante para o Brasil, porque grande parte do produto econômico do país tem a ver com recursos naturais”.

Origem

Nobre associou a complexidade do sistema à existência de vários motivos desencadeadores de mudanças climáticas. Ele citou três exemplos aplicados ao cenário nacional, divididos por origem antropogênica, local e global.

O primeiro caso diz respeito às savanas tropicais do Brasil Central, onde tradicionalmente há aumento considerável de incêndios de vegetação por ação humana de agosto a outubro, período de seca nessas regiões.

“Isso perturba muito o ambiente biológico do Cerrado, ou seja, os impactos são muito grandes na biodiversidade, mas a fumaça das queimadas também gera um grande problema de saúde pública”, alertou.

De acordo com o secretário, as chuvas na cidade de São Paulo estão entre 30% a 35% maiores, mais volumosas e mais intensas do que 100 anos atrás. “Essa é, principalmente, uma mudança climática de origem local, uma ilha urbana de calor, um impacto da urbanização”, explicou. “O atual cenário agrava a questão dos desastres naturais em uma região por onde transitam 20 milhões de pessoas”.

Acerca da origem global, Nobre cita o 5º Relatório do IPCC, publicado em 2013 e 2014. “O documento sugere, com forte embasamento científico, que a alternância de secas e inundações na Amazônia na última década já seria um resultado das mudanças climáticas globais”, disse. “Particularmente na região da floresta, nós já estamos vendo como detectar, medir e enxergar impactos, como desenhar sistemas que possam de forma precursora sinalizar grandes alterações, de modo que se permita ao setor público, e também aos setores econômicos, se precaverem e adotarem políticas de adaptação”.

Intercâmbio

Presente na abertura do workshop, a secretária de Gestão Pública do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), Ana Lúcia Amorim, abordou o projeto Diálogos Setoriais, gerido pela pasta, que apoia a realização de estudos nas mais diversas áreas temáticas.

O diplomata português Rui Ludovino, diretor da Delegação da União Europeia no Brasil, lembrou que, desde 2007, o país é parceiro estratégico da Europa. “Temos um acordo de cooperação assinado entre as duas partes que engloba inúmeras áreas, da econômica à tecnológica, da ambiental à social”, observou.

Na opinião da diretora de Ciência e Inovação da Embaixada Britânica, Caroline Cowan, o Brasil inova ao propor a criação de uma rede de monitoramento e observação. “Até agora, não temos no mundo um sistema assim. Vamos ver como podemos trabalhar juntos para estabelecê-lo. Em adaptação a mudanças climáticas, já atuamos bastante com a União Europeia e o Brasil”.

Os debates do workshop devem gerar um documento de recomendações. Entre os palestrantes, estão pesquisadores dos institutos nacionais de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI) e de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTI) e do Centro Comum de Pesquisa da Comissão Europeia (JRC, na sigla em inglês).

Fonte: EcoDebate

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