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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Eutrofização, artigo de Roberto Naime

Todos tem uma ideia, e bastante clara, dos significados e dos efeitos da eutrofização nas águas, com a excessiva oferta de nutrientes e o crescimento descontrolado das plantas aquáticas.


Mas é válida uma abordagem que agregue informações e interpretações pertinentes, sem a preocupação com visualização puramente científica, mas respeitando e incorporando todos os princípios já disseminados e em conformidade com visões científicas.

O meio aquoso apresenta 2 tipos principais de plantas. As que se movem livremente com a água, conhecidas pela denominação de plantônicas e as espécies fixas, designadas de bentônicas ou bênticas. Ambas são afetadas pelo fenômeno da eutrofização, que é definida pela concepção de que o crescimento exagerado das plantas pela oferta de alimentos possa interferir nos usos e destinações que a civilização humana procura atribuir ao curso de água.

A eutrofização tende a ser maior em lagos do que em situações onde ocorra a presença de água em movimento, mas ocorre em ambos os ambientes. A lixiviação causada por altas taxas pluviométricas sobre áreas agrícolas, solubiliza e leva aos cursos de água, principalmente Nitrogênio (N) e Fósforo (P), que são fundamentais na proliferação de plantas e principalmente de algas que são grandes responsáveis por estes processos. Também a contribuição de esgotos urbanos não tratados e “chorumes” provenientes de aterros sanitários, contribuem decisivamente para a implantação de processos eutróficos.

Considerando a influência dos processos antrópicos com estas ocorrências, geralmente eutrofização é acompanhada por grande assoreamento ou entulhamento por partículas dos solos ou outras ocorrências associadas. A eutrofização e o assoreamento estão geralmente associados ao incremento da ocupação antrópica, e até da urbanização nos sítios considerados. Nas regiões onde a presença de matas e florestas é hegemônica, as atividades eutróficas são muito reduzidas, limitadas pela oferta de nutrientes. Mas nas áreas agrícolas, a disseminação do uso de adubação química contribui para a lixiviação de nutrientes para os cursos de água e elevação da eutrofização com assoreamento dos cursos de água que tem seus canais de drenagem entulhados. Estes nutrientes em excesso, atingem inicialmente rios e posteriormente espelhos de água de represas e até lagos.

A grande quantidade de algas e outros elementos vegetais poderá dificultar a vida de peixes que sejam muito sensíveis aos níveis de oxigênio das águas. A ocupação urbana aumenta intensamente o assoreamento, e também a efeméride do eutrofismo, pois esgotos e drenagens pluviais carreiam para o curso de água considerado, grande quantidade de sólidos e elevada carga de nutrientes.

Esta elevada oferta de nutrientes, considerando altas taxas de insolação, poderão gerar eventos de “superpopulação” de algas, também conhecido como “floração das algas”. Mais do que qualquer problema ou consequência identificada, a ocorrência destes fenômenos atesta grande desequilíbrio ecológico, extrema desarmonia entre fatores de regulação e equilíbrio da vida. Mas entre os problemas identificados estão, além do crescimento descontrolado de vegetais, a presença de insetos e eventuais formações de acumulações hídricas, que estagnadas, geram maus odores e a ocorrência de mortandades de peixes.

A eliminação de peixes pode ocorrer, conforme já citado pela ausência de níveis adequados de oxigênio ou por toxicidade elevada gerada pela presença de amônia em estrutura orgânica que não é compatível com os peixes. Alterações de diversos fatores, como insolação, temperatura média da água e perfil de temperatura também influenciam de maneira relevante os episódios eutróficos.

Mas o importante é constatar que a correção destes desequilíbrios profundos não depende do comportamento de indivíduos. Depende de alterações paradigmáticas no modo que a civilização humana vem interagindo com as mais variadas formas encontradas no meio natural. Para isso é fundamental o comportamento individual e a forma com que interfere para que concepções fundamentais de vida possam sofrer alterações e buscarem formas de dinâmica mais equilibrada.

Em nosso país, se desconhecem registros de influências de fatores eutróficos ou assoreamentos, no abastecimento público de água potabilizada para consumo humano. Mas em países do hemisfério norte, já existem registros relevantes de como estes fatores dificultam, e no mínimo causam grande oneração aos serviços de saneamento.

A ocupação urbana de periferias no país, que ocorre de forma bastante desordenada, com loteamentos com infraestrutura deficiente, já contribui de maneira relevante com episódios de assoreamento e posteriormente, de forma direta ou indireta vai contribuir para eutrofização, através de drenagens pluviais, esgotos ou chorume.

É interessante observar como desequilíbrios nas relações do homem com o ambiente podem gerar consequências de grande amplitude e que jamais foram imaginadas ou previstas. Não são apenas alterações de atitudes individuais que podem solucionar os diagnósticos identificados, mas profundas e amplas modificações sistêmicas nas concepções e nos comportamentos pragmáticos a serem adotados no cotidiano de todas as pessoas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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