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quinta-feira, 21 de julho de 2016

Economia solidária e consciente, artigo de Roberto Naime

Quando se pensa no atual cenário da economia mundial, é provável que surjam na mente palavras como crise, competição, desigualdade e acúmulo de riquezas. Mas outros caminhos apontam para a construção de um modelo econômico bem diferente, no qual as palavras de ordem são a cooperação e a solidariedade.


Parece impossível ou utópico. Não, a Economia Solidária já é uma realidade, presente em centenas de países ao redor do mundo, incluindo o Brasil.

Buscando maior inclusão social, o comércio justo e o consumo solidário, a Economia Solidária é, em um conceito básico, uma forma diferente de lidar com os recursos gerados por uma comunidade ou grupo.

Neste contexto, atividades como produção, venda, compra e troca têm como objetivo a melhoria de vida para todo mundo envolvido, e não o lucro individual ou o acúmulo de riquezas apenas por parte dessas pessoas.

A cooperação é importante, para levar adiante seus os objetivos, todos estão dispostos a ajudar, fazendo girar uma grande e benéfica engrenagem.

Para que esse tipo de economia se consolide, cada um desenvolve também suas capacidades de autogestão, ou seja, a habilidade de tomar decisões em relação a assuntos cotidianos e também gerais.

Todos realmente têm voz e, ao sentirem-se protagonistas, sabem que podem colocar na roda suas idéias, já que estas serão ouvidas.

Em 2007, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido ao indiano Mohammad Yunus que criou, em 1974, um banco que oferecia microcrédito (empréstimo a pessoas de baixa renda) e incentivava a criação local de uma rede de serviços de forma mais solidária, buscando a igualdade e a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Milhares de pessoas saíram da miséria nesse sistema e este caso é considerado um grande exemplo de como a Economia Solidária pode trazer grandes transformações ao mundo. Uma inspiração que também é realidade para milhares de brasileiros.

A questão ambiental representa uma síntese dos impasses que o modelo atual de civilização acarreta, chamada “crise civilizatória”.

Por isso se sabe que leis e normas não vão resolver os problemas. Mas são muito relevantes numa sociedade criada pela civilização humana que vive de direito positivado.

A civilização humana vai acabar determinando nova autopoiese sistêmica, na acepção livre das concepções de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio.

Que é um sistema instável, muito frágil e vulnerável. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.

Outro mundo é possível, mesmo dentro da livre iniciativa. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia.

Os movimentos sociais apresentam a distorção sistêmica de articular mudanças ideológicas como se fossem soluções para questões ambientais. Mas uma nova autopoiese sistêmica para o arranjo social, é urgente e precisa ser desenvolvida pela civilização humana.

Nada foi mais nefasto na civilização humana do que as hecatombes ambientais produzidas pela falta de liberdade e práticas ambientalmente condenáveis geradas pela auto-suficiência de ditadores socialistas.

Esta mudança deve começar logo, juntando as lutas singulares, os esforços diários, os processos de auto-organização e as reformas para retardar a crise, com uma visão centrada numa mudança de civilização e uma nova sociedade em harmonia com a natureza.

Não é preciso esperar catástrofe ecológica ou hecatombe civilizatória para determinar nova autopoiese sistêmica.

Quando se fala em sustentabilidade ambiental, é impossível não falar de economia. É preciso considerar que muitos dos problemas ambientais do século XXI, se originam da falta de estratégia industrial em manter um desenvolvimento que utilizasse os recursos naturais de forma equilibrada.

“O modelo que estamos vivendo hoje, a chamada sociedade de consumo, é um esquema suicida e sem futuro. Nós estamos consumindo o planeta”, já dizia o ecologista brasileiro, José Antônio Lutzenberger, ícone na luta pela conservação e preservação ambiental, em entrevista dada em 2000 à revista IHU – Instituto Humanitas Unisinos.

De acordo com ele, o pensamento que predomina sobre os setores econômicos é de que a economia deve sempre crescer, porém, não se considera que nada pode crescer para sempre quando o espaço é limitado.

Um dos problemas para que a economia permaneça no mesmo ritmo é o próprio sistema de medida de crescimento do país, o Produto Interno Bruto (PIB), uma vez que calcula o volume das atividades econômicas, sem registrar as perdas dos recursos não renováveis.

Dessa forma, o próprio PIB impulsiona a população, as empresas e as indústrias a sustentarem o modelo que alimenta a sociedade de consumo.

“No último meio século, a economia global, medida pelo somatório do PIB dos países, cresceu cinco vezes. Em contrapartida, aproximadamente 60% dos ecossistemas mundiais foram degradados”. Relatou a advogada, Paula Franco Moreira, numa cartilha sobre o setor hidrelétrico e a sustentabilidade, publicada em 2012.

Seguindo o pensamento de Moreira, o modelo ideal de calcular o crescimento de um país deveria expressar suas condições ambientais, levando em conta a perda de seus recursos naturais. Afinal, no futuro, as condições territoriais poderão interferir no crescimento econômico e na qualidade de vida da população.

Em 2011, o PIB brasileiro fechou em R$ 4.143 trilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrando um aumento de 2,7% em relação ao ano anterior. Porém, esse número não registra a devastação ambiental, por exemplo. Muito pelo contrário, todas essas atividades contribuem para o aumento do PIB.

Para que o desenvolvimento continue de uma forma que não atinja a qualidade de vida futura, está na hora de todos os setores incorporarem atitudes sustentáveis.

Já dizia o filósofo austro-francês, André Gorz, “para a ecoeconomia, é preciso parar de crescer em níveis exponenciais e reproduzir, ou ‘biomimetizar’ os ciclos da natureza. Para ser sustentável, a economia deve caminhar para ser cada vez mais parecida com os processos naturais”.

Para André Gorz, a postura da sociedade é quase tão importante quanto à dos setores econômicos. A população deve assumir uma conduta ética de consumo, de forma a estimular a sustentabilidade e deixar para traz o pensamento de “quanto mais, melhor”, adotando a lógica do “isso me basta”.

A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade. Aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda. O consumismo precisa ser substituído pela idéia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.

Dessa forma, o consumidor sustentável deve ser mais fiel à sustentabilidade do que ao consumo. Interessado em saber o comportamento do consumidor atual, o Instituto Akatu realizou uma oficina durante a Conferência Internacional Ethos 2009, em São Paulo, para discutir o assunto.

Eles constataram que a população já está mudando o seu modo de pensar sobre a relação empresarial com o meio ambiente e sobre a sua própria responsabilidade quanto ao consumo.
Empresas inteligentes podem tiram vantagens sobre isso. Investir na sustentabilidade pode ser visto como inovação e aumentar a competitividade no mercado.

Unir a estratégia econômica com a de responsabilidade social pode estimular os consumidores a também investirem em produtos sustentáveis.

Um outro mundo é possível. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoise sistêmica para o equilíbrio do arranjo social, é urgente e inadiável.

Todavia, para que a economia sustentável funcione e os investimentos das empresas não se tornem inviáveis à população, o governo também precisará fazer a sua parte. Não basta estimular a compra de produtos ecologicamente corretos, é preciso ajudar a população e as indústrias a dar esse passo.

A redução de impostos, por exemplo, poderia baixar o preço de alguns produtos e torná-los acessíveis a todas as camadas sociais e elevar o preço de outros, ambientalmente indesejáveis.

Usar a indução propiciada por incentivos fiscais é ação nunca implementada no país com toda sua potencialidade sinérgica. Consta que a Alemanha está conseguindo alterar sua matriz energética sem precisar investir recursos financeiros, apenas com políticas fiscais aderentes.

Referências:


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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