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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O necessário tempo do luto

Até poucas décadas atrás, quem perdia alguém querido vivia um período protocolar de luto, geralmente um ano, em que evitava festas e vestia-se com cores sóbrias, em geral o preto. Hoje, tais convenções parecem não fazer mais sentido, e a cobrança da sociedade costuma ser no sentido oposto, de que se retome o quanto antes a "vida normal".


— Talvez hoje esteja rápido demais, não se fale do luto, mas ele está embutido. E, em algum momento, ele volta — avalia o padre Oscar Chemello, que coordena um grupo de apoio a famílias enlutadas, o Palavras de Esperança, que há três anos se reúne mensalmente na Catedral.

Os encontros incluem uma oração, na qual os familiares falecidos são lembrados pelo nome, e minipalestra sobre como a fé cristã vê a vida após a morte. Os participantes também têm espaço para falar de sua dor e manifestar dúvidas ("muitos se preocupam, por exemplo, em que a pessoa que morreu esteja sofrendo, mas as almas não ficam perdidas"), e cinco psicólogas auxiliam voluntariamente, falando sobre as fases do luto. Quem desejar pode ainda conversar em particular com o padre ou a psicóloga.

Esse não é o único grupo do gênero na cidade. Ana Paula Reis da Costa, do Luspe, conta que desde o início dos anos 2000 o instituto desenvolve trabalhos na área, junto a hospitais, empresas, capelas funerárias e comunidades religiosas. Entre os núcleos de apoio que coordena estão o dos Capuchinhos e o Anjos Secretos, este último reunindo pais quer perderam os filhos jovens. Seu núcleo de intervenção a emergências também é chamado para atuar em outras cidades, em casos como o do voo 3054 da TAM e o da boate Kiss.

Ana destaca que o elemento principal do luto é o amor, que leva à necessidade de assimilação e readaptação frente à ausência da pessoa amada:

— Esse fenômeno abraça todas as dimensões do ser humano: biológica, religiosa, social, familiar e psicológica. Quando a morte ocorre, as pessoas (enlutadas) se veem diante de uma travessia; primeiro, é quase uma sobrevivência, depois, retomar, ressignificar a vida.

Os grupos funcionam como uma rede social de apoio. A importância de tal apoio é ampliada quando a pessoa enlutada tem uma rede familiar pequena, até porque, lembra Ana, o tabu do luto persiste e muitas vezes quem convive com quem perdeu alguém evita falar no assunto, por não saber o que dizer ou por temer ser contagiado pela dor. Outras vezes, ocorre um "pacto de silêncio" na família, também prejudicial, pois o diálogo sobre a perda faz parte do processo de travessia do luto.
Tempo ao tempo

Manoela Michelli e Fabiana Corso, também psicólogas do Luspe, acrescentam que um fator complicador é a cobrança social pela retomada da rotina (tanto que a chamada "licença nojo", para quem perdeu pais, filhos ou cônjuge, é de apenas dois dias). O luto, enquanto isso, persiste: o período da dor aguda costuma durar um ano, oscilando em ondas de pesar. Depois, em geral a dor da perda vai se atenuando, mas até lá é comum sentir raiva, tristeza profunda, apatia, sensação de que nada vai dar certo, confusão, despersonalização, desejo de isolamento e medo de perder mais alguém. Déficit de atenção e de memória também podem ocorrer. Além disso, o primeiro ano é o período de vivenciar as primeiras datas importantes (aniversário, Natal, etc, sem a pessoa).

Ana ressalta que cada enlutado deve determinar seu próprio tempo, seja para se livrar dos pertences do falecido ou para retomar o ritmo de vida anterior:

— Não há receita, o luto é muito particular, assim como não há um luto "pior". O pior luto é o daquela pessoa, é algo íntimo, não se deve comparar ou tentar rivalizar em tamanho de dor.

Luto infantil

A criança não deve ser excluída do luto familiar. Segundo as psicólogas do Luspe, é importante que o adulto fale a verdade para ela e lhe dê a oportunidade de se despedir da pessoa que faleceu, caso ela desejar. As informações sobre o que aconteceu devem ser claras, objetivas e simples, na linguagem da criança, sem excessos de detalhes mas sem metáforas fantasiosas.

Evitar a verdade, salientam, não evita o luto infantil, e ainda vulnerabiliza a criança, pois diminui sua confiança nos adultos e sua autoestima. Além disso, quanto menor a criança, mais ela sente primeiro o medo (de perder mais alguém, por exemplo), e depois a tristeza. Por isso, é comum que ela "grude" no adulto em quem confia; é importante permitir que isso aconteça e oferecer o apoio necessário, além de evitar outras perdas naquele momento, como retirar a mamadeira ou a fralda e mudar de escola.

Jornada do luto 

De 22 a 25 de novembro, a UCS sedia a III Jornada Caxiense do Luto, com diversas palestras. Informações e inscrições podem ser obtidas no site www.luspe.com.br.
NO LUTO

Fonte: Luspe

Quem está enlutado:

- Abra um espaço para sua dor
- Procure viver um dia de cada vez
- Escolha alguém de confiança para dividir o que está sentindo
- Deixe-se abraçar e abrace os outros
- Fale sobre a sua perda, compartilhe lembranças, permita-se sentir
- Busque conforto, inclusive físico, a seu modo
- Cuide da sua saúde física, alimentação, sono, etc
- Ofereça-se tempo
- Fique só, às vezes
- Ritualize o luto enquanto necessário, sem deixar de viver
- Busque psicoterapia, se necessário
- Autorize-se a amar novamente, ou, pelo menos, não desista de tentar

Quem quer ajudar:

- Ofereça compreensão
- Apenas se disponha a ajudar se efetivamente estiver preparado para ouvir
- Deixe a pessoa falar
- Ajude-a a se organizar e a estabelecer prioridades, fazendo uma coisa de cada vez
- Evite o excesso de conselhos, e jamais use frase com "já" e "ainda"
- Não tente amenizar a dor, apenas compartilhe-a

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