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quarta-feira, 11 de outubro de 2017
FAO: Estimular o potencial das áreas rurais é essencial para o crescimento econômico dos países em desenvolvimento
Áreas rurais, consideradas durante muito tempo focos de pobreza, são essenciais para o crescimento econômico dos países em desenvolvimento
É necessária uma transformação profunda para aproveitar seu potencial e ajudar a alimentar e dar trabalho a um planeta mais jovem e povoado.
Milhões de jovens dos países em desenvolvimento, preparados para incorporarem-se no mercado de trabalho nas próximas décadas, não deveriam ter que deixar as áreas rurais para fugir da pobreza.
Na realidade, as áreas rurais possuem um grande potencial de crescimento econômico vinculado à produção alimentar e aos setores relacionados, de acordo com O estado mundial da agricultura e da alimentação 2017.
Tendo em vista que a maioria das pessoas pobres e que passam fome vivem nestas áreas, cumprir com a Agenda 2030 para o desenvolvimento dependerá de aproveitar este potencial que geralmente é desprezado, acrescenta o documento.
Para isso, é necessário superar uma complexa combinação de baixa produtividade da agricultura de subsistência, limitações para a industrialização em muitos lugares, e rápido crescimento demográfico e urbanização: todos estes obstáculos são um grande desafio para a capacidade dos países em desenvolvimento para alimentar e dar trabalho para seus cidadãos.
É evidente que a transformação das economias rurais pode ter consequências de grande envergadura. Estas mudanças nas economias rurais ajudaram a centenas de milhões de pessoas que vivem nestas áreas a sair por conta própria da pobreza desde a década de 1990, diz o relatório. Entretanto, os avanços têm sido desiguais e o crescimento demográfico está aumentando os desafios.
Entre 2015 e 2030, prevê-se que o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos aumente em uns 100 milhões, até chegar aos 1,3 bilhão. Quase todo o aumento ocorrerá na África Subsaariana, principalmente nas áreas rurais.
Entretanto, em muitos países em desenvolvimento – sobretudo na Ásia Meridional e África Subsaariana – o crescimento dos setores industriais e de serviços tem ficado para trás, e estes serão incapazes de absorver os novos e numerosos candidatos a um emprego que vão ingressar no mercado de trabalho. Nem o fará a agricultura, como a conhecemos hoje.
Portanto, os habitantes das áreas rurais que se deslocam para as cidades provavelmente correrão um maior risco de juntarem-se à população urbana pobre, em vez de encontrar um caminho para sair da pobreza. Outros terão de procurar emprego em outros lugares, gerando migração sazonal ou permanente.
Por isso, o apoio a políticas e o investimento nas áreas rurais para construir sistemas alimentares potentes e ajudar às agroindústrias que estão bem conectadas com as áreas urbanas – principalmente com as pequenas e médias cidades – criarão emprego e permitirão que um maior número de pessoas permaneça e prospere no meio rural, o que constitui uma intervenção estratégica, informa a publicação apresentada hoje.
As economias rurais transformadas não serão necessariamente uma panaceia que resolve todas as causas que levam muitas pessoas a irem embora, mas gerarão empregos necessários e contribuirão para que a migração seja uma alternativa e não uma necessidade.
Como a demanda urbana por alimentos pode desencadear a renovação rural
O estado mundial da agricultura e da alimentação argumenta que as transformações necessárias nas economias rurais podem ser promovidas com o aproveitamento da demanda crescente de alimentos nas áreas urbanas para diversificar os sistemas alimentares e gerar novas oportunidades econômicas nas atividades não agrícolas relacionadas à agricultura.
Isso inclui as empresas que processam ou refinam, embalam ou transportam, armazenam, comercializam ou vendem alimentos, assim como aquelas que fornecem insumos produtivos, como sementes, ferramentas e equipamentos, e fertilizantes, ou fornecem serviços de irrigação, plantio ou outros.
Hoje, a crescente demanda dos mercados urbanos representa até 70% dos abastecimentos nacionais de alimentos, incluindo países com uma grande população rural, diz o relatório.
Não existem soluções mágicas
Mas enquanto a urbanização é uma “oportunidade de ouro” para a agricultura, ela também coloca desafios para milhões de pequenos agricultores familiares.
Os mercados mais rentáveis podem provocar a concentração da produção alimentar em grandes explorações agrícolas comerciais, o controle das cadeias de valor por grandes processadores e varejistas, e a exclusão dos pequenos agricultores.
Portanto, as políticas e os investimentos públicos de apoio serão essenciais para aproveitar a demanda urbana como motor de um crescimento transformador e equitativo, e as medidas elaboradas para garantir a participação dos pequenos agricultores familiares no mercado devem estar integradas às políticas.
Agricultores familiares, infraestrutura, pequenas cidades e povos
O estudo estabelece três linhas de ação:
A primeira consiste em colocar em execução um conjunto de políticas destinadas a garantir que os pequenos produtores possam participar totalmente para satisfazer a demanda alimentar urbana. Entre as opções para isso, estão medidas para fortalecer os direitos à posse da terra, garantir a igualdade nos contratos de abastecimento ou melhorar o acesso ao crédito.
A segunda trata da criação de infraestrutura necessária para ligar as áreas rurais aos mercados urbanos. Em muitos países em desenvolvimento a falta de estradas rurais, redes elétricas, galpões de armazenagem e sistemas de transporte refrigerado são um grande obstáculo para os agricultores que desejam aproveitar a demanda urbana de frutas frescas, hortaliças, carne e produtos derivados do leite.
A terceira consiste na inclusão não somente das megacidades nas economias rurais-urbanas bem conectadas, mas também nas zonas urbanas menores e dispersas.
De fato, o relatório enfatiza que os centros urbanos menores representam um mercado de alimentos muito negligenciado. Metade da população urbana de países em desenvolvimento vive em cidades e povoados com menos de 500 000 habitantes.
Números-chave
– A transformação rural tem ocorrido desde a década de 1990. Desde então, 750 milhões de pessoas vivem nas áreas rurais mas têm uma renda acima da linha de pobreza moderada de US $ 3,10 por pessoa/por dia.
– Em 1960, 22% da população de países em desenvolvimento (460 milhões de pessoas) moravam em cidades e povoados. Em 2015, essa porcentagem atingiu 49% (3 bilhões de pessoas).
– A população rural do mundo em desenvolvimento aumentou em 1,5 bilhão de pessoas entre 1960 (1,6 bilhão de pessoas) e 2015 (3,1 bilhões de pessoas).
– Na Ásia Meridional e África Subsaariana, uma média de 1 e 2,2 milhões de jovens, respectivamente, tiveram acesso anualmente ao mercado de trabalho entre 2010 e 2015.
– As grandes cidades – de 5 a 10 milhões de habitantes – e as megacidades com mais de 10 milhões representam 20% dos habitantes urbanos do planeta
– Nos países em desenvolvimento, a maioria das áreas urbanas é relativamente pequena: cerca de 50% da população urbana total – aproximadamente 1,45 bilhão de pessoas – vive em cidades e povoados de 500 mil habitantes ou menos.
– Aproximadamente metade da população mundial vive, atualmente, em cidades com menos de 500 mil habitantes ou em áreas rurais que as cercam.
– Em nível mundial, as zonas urbanas menores representam atualmente cerca de 60% da demanda urbana por alimentos.
– Em 2030, a população urbana das regiões menos desenvolvidas do mundo chegará a 4 bilhões de pessoas. 80% desses habitantes urbanos viverão na África, na Ásia e na América Latina.
– Em 2030, a maioria da população urbana mundial estará concentrada nas cidades com uma população que não superará 1 milhão de habitantes. 80% destas pessoas viverão em áreas urbanas com menos de 500 mil habitantes.
– O valor dos mercados alimentícios urbanos na África Subsaariana provavelmente quadruplicará entre 2010 e 2030, passando de 313 bilhões de dólares a 1 trilhão.
– Na África Oriental e Meridional, a proporção de consumidores urbanos no mercado de alimentos é superior atualmente a 52%, e é previsto que chegue a 67% em 2040.
Fonte: EcoDebate
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