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terça-feira, 5 de março de 2013

Grupo busca micróbios na Antártida que purifiquem esgotos urbanos

A Antártida é muito mais que geleiras, pinguins e baleias. Nem todos sabem, mas em seu subsolo há uma rica flora microbiana que pode servir para fins tão úteis quanto transformar os esgotos das cidades em canais de água limpa.

A pesquisadora francesa Léa Cabrol, uma jovem doutora de 29 anos que trabalha na Universidade Católica de Valparaíso, está realizando um trabalho de campo no continente mais inóspito do planeta.

Seu objetivo é contribuir para resolver um dos principais problemas das grandes cidades, fazer com que a água suja saia limpa e, de quebra, gerar gás metano para uso industrial.

A pesquisa, chamada 'Seleção e Identificação de Consórcios Microbianos com Atividade Metanogênica e Acidogênica a Baixa Temperatura para Aplicação à Digestão Anaeróbica Siprofílica', impressiona já pelo nome. Mas Léa explica o projeto de maneira sucinta e didática: "Estamos desenvolvendo o tratamento de águas residuais com bactérias".

"É um processo muito interessante, o problema é que funciona a 37 graus, enquanto a temperatura das águas residuais nas cidades europeias ou no sul do Chile, por exemplo, é muito mais baixa. O processo de aquecimento significa um custo enorme", comenta.

Acompanhada de seu assistente, o chileno Daniel Valenzuela, Léa colhe amostras de sedimentos depositados sob uma fina camada de gelo, na Ilha Rei George, onde chegou a 49ª Expedição Antártica Chilena nos últimos dias.

"Buscamos essas bactérias em fontes naturais, onde a temperatura sempre se mantém baixa. Esse tipo de microorganismo foi encontrado em algumas regiões do Ártico e na Rússia, mas não na Antártida", explica. "A ideia é buscar sedimentos em zonas úmidas com uma camada superior de gelo ou neve que facilite a digestão anaeróbica, porque as bactérias que produzem metano não funcionam na presença de oxigênio", acrescenta.

Consórcio de bactérias

Segundo a doutora francesa, que está há um ano e meio trabalhando no Chile, "descobrir bactérias dessa natureza em um meio como o antártico permitiria tratar as águas residuais de áreas frias do mundo, onde a temperatura média é de dez graus". Mas, além disso, aponta seu assistente, as bactérias devem metabolizar a matéria orgânica dos esgotos em alta velocidade, porque o volume de líquido a tratar é muito grande e o processo não pode desacelerar.

Ao contrário de outros cientistas que participam da Expedição Antártica Chilena, essa equipe de pesquisa não procura apenas uma espécie de bactéria para isolá-la e cultivá-la no laboratório.

"Nós buscamos um consórcio, uma comunidade microbiana com centenas de espécies diferentes que trabalhem interagindo umas com outras", detalha a doutora Léa, que se mostra otimista sobre os resultados que possa alcançar o trabalho de campo.

"Acredito muito nas amostras que colhemos ontem (na ilha Rei George), porque havia muita matéria orgânica dos leões marinhos e isso é uma fonte de nutrientes para as bactérias. Além disso, nos poços de água se viam borbulhas, e isso indica que está saindo gás da camada de sedimentos", afirma.

Para uma bactéria desse tipo, se alimentar da matéria orgânica que há no solo antártico ou dos resíduos humanos dá exatamente no mesmo, porque envolve os mesmos processos metabólicos.

Apoio do Chile

No projeto da pesquisadora participam a Universidade Católica de Valparaíso e a de Concepción no Chile, a Universidade de Lyon, na França, e a Universidade Técnica da Dinamarca.

Após ser submetida à avaliação de duas comissões de microbiologista, em setembro do ano passado a pesquisa foi incorporada ao programa do Instituto Antártico Chileno (INACH), uma instituição pública que atualmente subsidia 64 projetos.

Até hoje, nenhuma instituição privada financia o estudo dessas microbactérias, mas algumas empresas, como a espanhola Águas Andinas, já mostraram seu interesse em outros projetos vinculados a essa pesquisa.

Após a coleta de amostras em várias partes do território antártico e a realização de análise preliminares, Léa Cabrol e sua equipe da Universidade Católica de Valparaíso terão mais três anos de trabalho em laboratório antes de saber se esses grupos microbianos finalmente servem para o objetivo que buscam.

Caso não sirvam, os cientistas continuarão tentando, "porque na pesquisa científica a questão é saber como é preciso enfrentar coisas que nem sempre funcionam, de aceitar o fracasso e buscar que na próxima vez as coisas saiam melhor", resume Léa.

Fonte: Uol


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