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sábado, 4 de janeiro de 2014

Rio Paraguai é ameaçado por milhões de litros de esgoto a cada hora

O Rio Paraguai, um dos grandes sistemas aquíferos da América do Sul e fonte fundamental de água para o consumo e a irrigação, recebe a cada hora milhões de litros de esgotos urbanos sem tratamento no Brasil, na Argentina e no Paraguai, além de uma quantidade cada vez maior de produtos químicos usados em agricultura.


Apenas Assunção lança no leito 3,2 milhões de litros de esgotos residencial e industrial por hora sem qualquer tipo de processamento, contou à Agência Efe Osmar Sarubbi, presidente da Empresa de Serviços Sanitários do Paraguai (Essap).

A capital paraguaia, cuja área metropolitana, com mais de 2,6 milhões de pessoas, é o maior núcleo demográfico banhado pelo rio, e também seu maior agente poluidor, pois todos os esgotos vão diretamente para essas águas.

A degradação do rio também é grande em seu trecho Brasil, onde nasce e percorre 2.625 quilômetros que o levam para Bolívia, Paraguai e Argentina.

Elías Díaz, hidrólogo e coordenador do grupo ambiental paraguaio Sobrevivência, citou especialmente a contaminação gerada nas cidades de Corumbá (MS) – cerca de 100 mil habitantes – e Cuiabá (MT) – com pouco mais de meio milhão – esta última, que fica sobre o rio de mesmo nome, afluente do Paraguai.

O rio Paraguai recebe uma nova carga de esgoto na cidade argentina de Formosa (cerca de 230 mil habitantes), que, como as duas anteriores, carece de um sistema de tratamento dos esgotos, que são simplesmente lançados ao rio.

“Jogam todos os seus esgotos sem tratamento no rio Paraguai. Então temos alta carga de poluentes”, disse Díaz à Efe.

Em sua passagem por Assunção, o rio forma uma baía, que conta com um passeio muito popular, abaixo do qual passam quatro esgotos, e uma praia onde ninguém pode nadar devido ao alto nível de “coliformes fecais” detectado.​

Outras 12 vertentes despejam os esgotos da cidade diretamente na corrente principal do rio, segundo Sarubbi.

“A maioria é de esgotos domésticos e industriais, que por lei deveriam ser tratados. Mas a verdade é que não há centrais de tratamento”, disse Sarubbi.

A situação se repete no lago Ypacaraí, um dos “postais” do Paraguai e um dos points de verão da capital.

Os veranistas também não poderão desfrutar a temporada do lago, ligado com o Paraguai pelo rio Salado, já que as autoridades locais proibiram seu uso recreativo após a invasão de cianobactérias, algas originadas pelos esgotos dos matadouros e curtumes.

Sarubbi disse que a situação irá melhorar em Assunção com a construção de sua primeira central de tratamento, que custará US$ 85 milhões. Em janeiro se abrirá a licitação para sua fase inicial, afirmou o presidente da Essap.

“Seria a primeira de um total de quatro centrais para a Grande Assunção que estariam funcionando em quatro anos e terão um orçamento de US$ 584 milhões”.

Segundo Sarubbi, com essas plantas em funcionamento trataria-se até 98% dos esgotos que a metrópole de Assunção lança no rio Paraguai.

“É uma necessidade que se arrasta há 20 anos e estamos pagando as consequências com a contaminação dos aquíferos”, disse Sarubbi, acrescentando que para 2014 prevê-se que os quatro coletores que desembocam na baía sejam eliminados.

Apesar da poluição, o rio Paraguai continua sendo o principal abastecedor da água consumida em Assunção graças a seus pântanos, que funcionam como filtros descontaminadores.

“Funcionam como tratamento natural, são um elemento purificador, processadores biológicos da contaminação e a principal garantia para manter a qualidade de água do rio”, disse Díaz.

A bacia do Paraguai tem, desde sua foz no Paraná, onde o Paraguai deságua na Argentina, mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de superfície, 30% dos quais são pântanos.

No entanto, Díaz alertou sobre a constante deterioração dessas águas, com as ameaças do desmatamento e da drenagem para a habilitação de terras agrícolas.

“O ecossistema de cerrado, no Mato Grosso, e o Pantanal do Alto Paraguai, estão sendo transformados em campos para cultivo de arroz e de soja, para o que são usados produtos químicos tóxicos” que acabam no rio, indicou.

O Pantanal, dividido entre o sul do Brasil, o Paraguai e o norte da Bolívia, é considerado o maior ecossistema de pântano tropical do mundo.

“Os pântanos são os pulmões do rio. Sem eles, o rio morre”, disse Díaz. 

Fonte: Terra

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