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sexta-feira, 28 de março de 2014

Novas tecnologias buscam aprimorar procedimentos de hospital psiquiátrico

As rotinas de uma equipe do Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Clemente Ferreira, hospital que atende indivíduos com distúrbios neurológicos e psiquiátricos em Lins, no interior de São Paulo, foram transformadas com o uso de tecnologias desenvolvidas em uma pesquisa realizada com apoio da FAPESP no âmbito de um acordo de cooperação com a Microsoft Research.


O trabalho consistiu na concepção e no desenvolvimento, em conjunto com os profissionais do hospital, de soluções tecnológicas adequadas ao fluxo de trabalho da instituição, no processo de ressocialização dos pacientes, em sua maioria residentes.

“Trata-se de um ambiente diferente do hospitalar convencional, onde o paciente pode chegar em estado grave, correndo risco de morrer. Aqui o paciente chega para aprender a viver, já que ele passa a maior parte de sua vida convivendo com os profissionais, criando vínculos afetivos. Essas características particulares, entre outras, devem ser respeitadas e consideradas no design de sistemas computacionais”, disse Junia Coutinho Anacleto, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pesquisadora responsável pelo projeto “Um ambiente culturalmente contextualizado para a interação natural e flexível de apoio ao processo de ressocialização em um contexto hospitalar para pacientes crônicos”.

Iniciado em junho de 2011, o estudo foi desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Computação do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (CCET) da UFSCar em colaboração com colegas do Departamento de Engenharia de Computação e Elétrica da University of British Columbia, no Canadá.

O trabalho se concentrou na rotina de uma equipe formada por uma fisioterapeuta, uma enfermeira, uma fonoaudióloga, uma assistente social, uma terapeuta ocupacional e um técnico de serviços gerais, em conjunto com a diretoria do hospital.

O objetivo era criar condições para que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) proporcionassem melhorias na interação, na comunicação e no registro das ações entre os profissionais, com impacto na qualidade do trabalho e na vida dos pacientes.

Para isso, os pesquisadores desenvolveram dispositivos compartilhados de apoio à execução das atividades de rotina, contribuindo com o acompanhamento e a assistência aos internos e semi-internos.

Entre as tecnologias desenvolvidas está o CareHub, que distribui conteúdo para smartphones e tablets entregues à equipe, exibindo informações em telas espalhadas pelo hospital, dirigidas a diversos públicos. Para os smartphones são enviadas informações privadas, com um mínimo de edição, incluindo notificações de agenda, dados dos pacientes e mensagens diversas.

Já a tecnologia para tablets foi concebida para permitir o gerenciamento de conteúdo multimídia, como fotos e vídeos, agendas, arquivos de pacientes e notas sobre suas condições, configurações de jogos, quadro de avisos em geral e lista de aniversários e eventos.

A partir dos dispositivos, o conteúdo é editado pelo profissional da saúde e distribuído – também para as TVs instaladas pelos pesquisadores, dirigidas aos profissionais do hospital, veiculando fotos, vídeos, jogos e avisos para os internos. Todo o conteúdo tem como base uma intranet, visando principalmente manter o sigilo de informações dos pacientes e do hospital.

O CareHub está sendo aprimorado, após ser avaliado pelos profissionais do hospital. “Os resultados iniciais podem abrir caminho para o desenvolvimento de ferramentas e sistemas que auxiliem os profissionais da saúde na gestão de suas atividades e na socialização do trabalho, apoiando a formalização de muitos procedimentos práticos baseados na experiência dos profissionais. Continuamos avaliando nossa abordagem e tendo feedback dos usuários para projetar de forma interativa um protótipo que corresponda mais de perto às rotinas do hospital”, disse Anacleto.

Novas dinâmicas de trabalho

Outra frente de trabalho foi o desenvolvimento de um totem eletrônico de gestão de tarefas, instalado no setor de enfermagem, onde os funcionários registram a realização de suas atividades, permitindo a comparação de fluxos de trabalho.

Segundo a avaliação dos pesquisadores, a intervenção resultou em diferentes dinâmicas na equipe, gerando ações colaborativas para a resolução de tarefas pendentes, como a criação de grupos de trabalho, e até mesmo competição para o alcance de metas no trabalho.

Além disso, o estudo observou o desenrolar de interações espontâneas por parte dos funcionários, contornando o desenho original do sistema e adaptando-o para acomodar suas práticas de comunicação, como a transmissão de mensagens de incentivo e sociabilidade, em um processo de apropriação da tecnologia.

“Esse sistema foi usado em estudos que permitiram entender os processos colaborativos, bem como o estabelecimento de relacionamentos recíprocos entre os profissionais, que, quando visualizados, possibilitam à equipe a percepção das reais colaborações praticadas e a compreensão de seus resultados no trabalho, o que naturalmente tem levado a uma maior eficiência do time”, disse Junia Anacleto.

O sistema foi aprimorado para permitir não somente a requisição de tarefas, mas também a postagem de mensagens curtas de natureza diversa em telas grandes instaladas nos corredores.

O novo sistema, denominado Collab, tem sido amplamente usado no hospital, a ponto de substituir as tradicionais lousas de anotações de recados na sala da enfermagem. Os pesquisadores chegaram a registrar mais de 250 mensagens postadas ao longo de um período de quatro semanas por 20 funcionários.

A relação entre o staff e a gestão do hospital também foi reconfigurada com as novas tecnologias. O sistema EmotFeed, criado pelos pesquisadores, auxilia na avaliação do impacto dos comunicados oficiais enviados pela diretoria às equipes.

Após visualizar as mensagens nas telas espalhadas pelo hospital, os funcionários podem emitir suas considerações anonimamente por celular.

A interação direta dos pesquisadores com a equipe do hospital, disse Anacleto, ajudou no aprimoramento da pesquisa e só foi possível pelo trabalho in loco.

Soluções terapêuticas

Os pesquisadores ainda pretendem amadurecer o trabalho para desenvolver TICs que envolvam diretamente os pacientes, um dos objetivos originais da pesquisa.

“Trata-se de um desafio enorme por conta do grau de comprometimento dos internos – a maioria vive sob medicação ou é acamada. Há restrições ao uso dos equipamentos e é preciso tempo para entendermos como contornar essa e outras dificuldades”, disse Anacleto.

Ao longo dos dois anos do projeto, foram realizados experimentos com sensores de movimentos como o Kinect para registro de medidas de amplitude dos movimentos dos pacientes durante sessões de fisioterapia. O equipamento, por enquanto, está sendo aproveitado apenas para fins lúdicos, conectado a um videogame.

“Enquanto não temos uma abordagem madura e segura, devemos respeitar os limites dos pacientes e do próprio hospital. Com o desenvolvimento do trabalho, naturalmente vamos alcançá-los”, afirmou a pesquisadora. Para ela, o registro das sessões de fisioterapia por meio do Kinect e de outros sensores, como o Leap Motion, é a “porta de entrada” para a interação com os pacientes e o design de soluções terapêuticas. 

Publicações

O Cais Clemente Ferreira tem cerca de 480 pacientes internos e 150 em semi-internato. A partir de abril, o hospital começará a receber crianças e adolescentes entre 9 e 13 anos com dependência química, enviadas pelo Estado, para tratamento de desintoxicação. São esperados entre 300 e 400 novos pacientes, formando outro público que, segundo Anacleto, também pode se beneficiar das melhorias administrativas proporcionadas pelas TICs.

“As abordagens que sugerimos podem ser aplicadas a outros cenários de assistência e tutoria de longo prazo em saúde no próprio hospital e em outros ambientes, como lares de idosos e espaços de cuidados para pessoas com deficiência, além de cenários educacionais convencionais.”

Para o estudo, a UFSCar doou ao hospital 18 tablets e smarthphones de 10, 7 e 5 polegadas, duas TVs, sete computadores, nove roteadores Wi-Fi, sete roteadores e toda a infraestrutura de rede (600 metros de instalação).

A pesquisa deu origem a diversas publicações em revistas científicas e há ao menos outros dois artigos já aceitos prestes a serem publicados.

O artigo Transforming a Paper based Process to a Natural user Interfaces Process in a Chronic Care Hospital (doi: 10.1016/j.procs.2012.10.020), de Junia Anacleto e outros, pode ser lido na Procedia Computer Science em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S187705091200782X. 

Fonte: Fapesp

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