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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Para especialistas, economia de água deve continuar mesmo com chuvas

Engana-se aqueles que pensam que as chuvas dos últimos dias irá resolver o problema da falta de água para o abastecimento da grande São Paulo. De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, a estiagem vivenciada é só uma mostra do que virá pela frente e uma prova da importância da consciência para economia de água.


O nível dos reservatórios do Sistema Alto Tietê estava com 8,3% da sua capacidade, na sexta-feira (7). Na quinta-feira (6), o nível de medição do Rio Tietê na estação de captação de água do Serviço Municipal de Águas e Esgoto (Semae), em Cocuera, registrava 1,25m. Segundo a assessoria de imprensa, tal medida está dentro da média para a época do ano, que oscila entre 1m e 1,5m.

O engenheiro civil, José Roberto Kachel, explica que a quantidade de chuva registrada nesta semana não corresponde ao valor que chegará até os reservatórios. “Em hipótese alguma dá para relaxar com o consumo de água. As represas continuam caindo porque a chuva não significa vazão afluente. A chuva que cai, parte dela evapora e outra parte se infiltra no solo e é absorvida pela vegetação. Para voltar ao normal, o solo precisa estar ‘hidratado’.”

Embora a situação seja mais crítica na cidade de São Paulo, o Alto Tietê sofre diretamente com o problema. Além do sistema fornecer água à capital para suprir a escassez do Sistema Cantareira, parte da cidade de Mogi das Cruzes, é abastecida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

Cerca de 35% das 125 mil ligações do município recebe água proveniente da Sabesp. Estas ligações estão concentradas no distrito de Brás Cubas, onde a água fica armazenada no reservatório de Santa Tereza, e nos bairros que fazem limite com outros municípios.

De acordo com a autarquia, o consumo médio dos mogianos é de 900 litros por segundo. Com a campanha de conscientização que tem sido feita desde abril houve uma queda de 10% no consumo mensal.

Mesmo com a redução do consumo, a bióloga Nadja Soares alerta que períodos de estiagem se tornarão mais comuns. “Nós estamos vivendo um período de mudanças climáticas. Mesmo que a gente tenha mais dias de chuva, até mesmo nos levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que teremos anos mais secos.”

Com este prognóstico pessimista, Nadja alerta que a economia deve ser mantida, pois a falta de água, não atingirá somente o Nordeste do País, como acontecia antigamente. “A população de um modo geral e o próprio governo levaram um susto. Isso já era previsto, mas nunca tinha acontecido uma estiagem como essa aqui no Sudeste. A população deve manter um ‘pé atrás’ e diminuir o desperdício doméstico”, assegura
Kachel aponta também que nunca será atingida a capacidade máxima dos reservatórios por conta da margem de segurança e da captação das águas para o abastecimento. Para o especialista, o problema é crônico e os reservatórios já davam sinais de problemas no início do ano. “Em janeiro o Sistema Cantareira já estava com menos de 20% da sua capacidade, o Alto Tietê não sabemos. Não foi do dia para a noite que a pluviometria caiu. As vazões vieram caindo abaixo da média da série histórica, mas a Sabesp não quer nem ouvir falar em racionamento de água.”

Com o “susto” da possível falta de água, muitos moradores improvisaram técnicas para estocar água em casa. José Arthur Franzotti aproveitou os 11 tambores que tem em casa para guardar a água da chuva. “Quando nós colocamos a calha no telhado, a gente observou que muita água limpa era totalmente desperdiçada. Com a ideia de aproveitamento, o custo-benefício faz bem para o bolso. Além disso, você utiliza essa água para economizar, beneficiar a comunidade. Então, eu comecei a pensar em alguma coisa para reaproveitar essa água”, conta.

Nadja acredita que hábitos como o de José Arthur deverão ser incorporados pela sociedade. “Acabou a água para todo mundo. A economia daqui para frente vai ter que se tornar um hábito e isso não é uma coisa que vai mudar se começar a chover. Mogi das Cruzes e toda a Grande São Paulo é uma região extremamente habitada, por isso vai ser preciso repensar os nossos hábitos e os modos de utilizar os recursos. As pessoas têm que dar valor para a água que desperdiçam”.

Por meio da sua assessoria de imprensa, a Sabesp informa que “não há racionamento, rodizio, nem qualquer registro de consumo em nenhuma das 364 cidades operadas pela empresa”. O órgão ainda ressalta que 75% dos consumidores economizaram água no mês de outubro, sendo que 50% receberam o bônus nas contas.

Sobre possíveis problemas no abastecimento em Mogi das Cruzes, o Semae reitera que “mantém diálogo constante com a Sabesp e possui um acordo com a estatal que vem sendo mantido até o momento: a autarquia tem a garantia da estatal paulista de que tanto o nível do Rio Tietê (…) quanto o abastecimento do reservatório de Santa Tereza serão mantidos, apesar da crise hídrica que afeta o Estado de São Paulo e parte da região Sudeste. Até agora, o Tietê tem mantido seu nível dentro da média histórica e o reservatório Santa Tereza vem recebendo água normalmente – o que mostra que a Sabesp vem cumprindo com o compromisso”.

O Semae diz ainda que não estuda a implantação de bônus nas contas de água pelo fato do valor cobrado ser 39% mais barato que o praticado pela Sabesp, na primeira faixa de consumo, até 10 metros cúbicos. 

Fonte: G1

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