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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Agrotóxicos em crianças, artigo de Roberto Naime

A pesquisadora científica da Universidade Federal do Paraná, Sônia Stertz, doutora em Tecnologia de Alimentos, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos na Regional do Paraná, registra que as crianças apresentam níveis duas vezes mais elevados de pesticidas no sangue e seus efeitos são até 10 vezes mais intensos do que em adultos.


“Até a idade de dois anos, crianças produzem pouco de uma enzima chamada Paraoxonase-1, que auxilia na detoxificação ou eliminação de pesticidas organofosforados. Algumas crianças só atingem níveis normais dessas enzimas aos 7 anos”, assevera, citando investigação feita pela Universidade de Berkeley, na Califórnia.

Dados oficiais do governo americano revelam que pesticidas organofosforados são encontrados no sangue de 95% das pessoas testadas. Esta exposição se relaciona e é registrada como causa da hiperatividade, de distúrbios de comportamento, de distúrbios do aprendizado, também de atrasos do desenvolvimento e de disfunção motora.

A maior motivação para o consumo dos orgânicos deve ser o que estes alimentos estão isentos, pois são livres de resíduos e aplicações de agrotóxicos em geral. Alimentos orgânicos são produzidos sem hormônios, antibióticos, pesticidas, herbicidas, fertilizantes químicos, irradiação e modificações genéticas.

“O agrotóxico no alimento, ao ser ingerido pela população, tem um efeito cumulativo, vai se acumulando no organismo. Pode levar a algum tipo de doença crônica não transmissível”, alerta a Agência Brasileira de Vigilância Sanitária (ANVISA).

“Principalmente neurológicas, endócrinas, imunológicas e hoje a questão do aparelho reprodutor, como infertilidade, diminuição do número de espermatozoides e a questão do câncer”, explica Heloísa Pacheco, coordenadora do ambulatório de Toxicologia da UFRJ. Exposição a agrotóxicos é muito mais responsável por casos de câncer e neoplasias do que se imagina.

Os agrotóxicos podem ser hidrofílicos ou lipofílicos quando se combinam com moléculas de água ou gorduras respectivamente, e se acumulam no organismo. E por isso induzem a moléstias muito tempo depois d serem acumulados.

A médica Silvia Brandalise, pesquisadora da Unicamp, estuda as causas de câncer, principalmente entre crianças. Ela atesta que pesquisas já comprovaram que, a exposição aos venenos usados nas plantações estão relacionadas com a leucemia e tumores no cérebro. A alimentação com excesso de agrotóxicos e produtos químicos também faz parte dos fatores de risco, conforme já exposto, em proporção muito maior que se imagina.

Entre os alimentos bastante consumidos estão batata, morangos, cenoura, tomate, repolho, cebola, alface, trigo e leite.

Pesquisas mostram que os alimentos orgânicos apresentaram uma tendência, que pode ser considerada mais satisfatória, com teores mais elevados de nutrientes, como matéria seca, cinzas, fibra alimentar, carboidratos e alguns minerais considerados relevantes para a saúde, como o ferro e o selênio.

As amostras que mais se destacaram foram a batata com 33% de selênio, 54% de ferro, 36% de fósforo, 17% de cálcio e 21% de fibra alimentar, e o morango com 342% de ferro, 63% de fósforo, 183% de magnésio, 80% de potássio, 34% de cálcio, 26% de fibra alimentar, 24% de proteínas e 56% de sacarose, seguidos do agrião com 145% de Selênio e 82% de Ferro, a cenoura com 425% Selênio e finalizando a couve-flor com 95% de Selênio.

Para uma alimentação mais segura, se recomenda o consumo de alimentos certificados, como os orgânicos, e os alimentos de época, que a princípio necessitam de uma carga menor de agrotóxicos para serem produzidos.

A percepção de que cada vez mais as pessoas estão preocupadas com a qualidade dos produtos que consomem e também com o impacto ambiental causado pelo consumo exagerado tem levado ao incremento do mercado de orgânicos para recém-nascidos.

Os cardápios são preparados sem alimentos provenientes de agricultura convencional, conservantes ou produtos químicos, utilizando o ultra-congelamento como forma segura de preservar a textura, aroma e o valor nutritivo.

Na chamada agroecologia, por exemplo, se utilizam policultivos que já eram disseminados entre os primitivos indígenas, e que são incentivados por escolas como a da permacultura, como forma de manter o equilíbrio da biodiversidade de forma de insetos, plantas, bactérias e fungos convivam em harmonia, sem se reproduzirem de forma descontrolada. As “pragas” da agricultura convencional são tratadas como meras indicações da ocorrência de desequilíbrios, pelas práticas de agricultura agroecológica.

Os mecanismos mais comuns de operação dos agrotóxicos é a inibição da ação de enzimas que acabam gerando colapsos sinápticos, ou seja, de transmissão de informações ao cérebro através de conexões de neurônios. Convenhamos que ao menos as crianças devem ser preservadas destes cenários apocalípticos.


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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