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segunda-feira, 21 de março de 2016

Falta de preservação ambiental nos afluentes prejudica o São Francisco

O São Francisco é um rio serve para navegar, pescar, irrigar lavouras e também é fundamental para a sobrevivência de animais nativos do Brasil. Na segunda reportagem da série sobre o Velho Chico, o Globo Rural navega pelo estado de Minas Gerais e mostra que, apesar da importância, o rio é maltratado por quem mais precisa dele: o ser humano.


De São Roque de Minas a Manga o São Francisco corre por 1,2 mil quilômetros dentro de Minas Gerais. O Globo Rural navegou por ele, a partir da barragem da Usina de Três Marias, no trecho em que as águas geram energia, abastecem cidades e lavouras e garantem o sustento de milhares de pessoas. Mas nos últimos três anos, o Velho Chico sofreu especialmente por causa da falta de chuva no Sudeste e no Centro-oeste do país, onde nasce a maior parte de sua água.

“Em 2015, nós constatamos que 70% dos afluentes do São Francisco secaram”, diz a advogada Sílvia Fridman.

O dado é assustador e hoje preocupa técnicos e gestores da água, como o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, do qual faz parte a advogada Sílvia Fridman. “Infelizmente, o Rio São Francisco corre o rio de morrer”, alerta.

No município de Januária, no norte de Minas Gerais, no final de 2014, o rio estava quase vazio. Em alguns trechos dava para cruzá-lo a pé. Algo impensável até 10 ou 12 anos atrás.

A baixa do rio quase inviabilizou uma das tradicionais atividades econômicas da cidade.

No século passado, durante décadas, Januária era quase sinônimo de cachaça. A bebida produzida no município era tão boa e famosa que aparecia até em música.

Úrsula e Lícia Carneiro tocam a cachaçaria fundada pelo avô e contam que por quase cem anos, grandes barcos navegaram pelo São Francisco ligando o sertão da Bahia a Minas Gerias. Os chamados vapores também transportavam passageiros, animais e grãos.

Felizmente, 2016 chegou levando chuva e muita água para a região. Mas a chuvarada não afastou definitivamente o risco da falta de água, como é possível ver no lago da Usina Hidrelétrica de Três Marias, a primeira barragem erguida no leito do São Francisco, construída também para perenizar o fluxo de água do rio.

A ideia é em anos de muita chuva guardar o excesso de água dentro do lago para evitar enchentes e prejuízos rio abaixo. E nos anos de seca ir liberando a água aos poucos para regularizar a vazão do Rio São Francisco. Na maior parte do rio só chove durante seis meses do ano. No restante, é o reservatório da usina que abastece o São Francisco.

“Hoje, a principal preocupação de quem está aqui cuidando da operação desse reservatório é olhar o estoque de água e fazer durar até o fim da seca e início da próxima chuva, no finalzinho desse ano de 2016”, diz Marcelo De Deus, gerente de Planejamento Energético da Cemig.

O temor é legítimo. No início de 2016, o reservatório de Três Marias estava com apenas 7% do volume útil. Mesmo com a chuvarada que caiu até agora, o nível da represa só chegou a 34%. É menos do que em 2015, quando o volume ficou em 36%.

Não é só a quantidade de chuva que preocupa cientistas como o hidrólogo da Embrapa Cerrados Jorge Werneck. “O aumento do uso da água e a intensificação do uso das bacias, tanto para área urbana quanto para a área rural, impactam nesse fluxo da água dentro dos cursos de água”, diz.

A própria construção de barragens afeta a ecologia do rio, especialmente a vida dos peixes. O biólogo Rafael Melo explica que muitas espécies, inclusive as de maior valor econômico como o surubim, precisam subir o rio para desovar. A construção de barragens, como a de Três Marias, interrompe o curso do São Francisco e muda as características da água. Para poder reproduzir, os peixes têm que buscar rotas alternativas, como o Rio Abaeté.

Encontrar problemas na bacia do São Francisco é fácil. Queimadas e desmatamentos estão por toda parte. Não são poupadas nem mesmo as veredas, formações vegetais que conservam água e abastecem os rios da região.

Pelo Código Florestal Brasileiro, vereda é uma área que deveria ser protegida. Deveria ter, pelo menos, 50 metros de mata ciliar em cada margem. A própria estrada aberta para ligar as propriedades passa no meio dela. Atrás é área de pasto e há vários buritis mortos.

Em Três Marias, o Comitê da Bacia do São Francisco luta para salvar uma das veredas, a principal nascente do córrego barreiro grande que corta a cidade. Ao redor dela, uma área nove hectares, foi isolada para o plantio 13 mil mudas de espécies nativas. A principal ferramenta para o sucesso do reflorestamento tem nome e sobrenome: Ismael da Cruz Souza, dono de parte do terreno onde fica a vereda. Ele foi incumbido de tomar conta da área.

“A gente passava a molhar com regador planta por planta, replantando. Eu me sinto até honrado de ter esse espaço. Isso é uma herança de mais de 100 anos que nós temos aqui e que meu pai sempre preservou. E acho que, onde quer que ele esteja, já falecido há 25 anos, eu creio que ele está orgulhoso de mim”, diz Cruz. 

Fonte: G1

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