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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Não há fundos para o El Niño

A resposta para enfrentar as graves consequências do fenômeno climático El Niño entre 2015 e 2016, que prejudicou milhões de pessoas na África austral, sudeste da Ásia e América Latina, segue sofrendo uma grave carência de fundos.


Por Phillip Kaeding, da IPS – 

Nações Unidas, 7/7/2016 – O grupo independente de líderes mundiais The Elders pediu urgência aos governos de países doadores para que ajudem as nações afetadas e também cubram o déficit de US$ 2,5 bilhões, e observou com preocupação que o atual fenômeno El Niño é um dos mais fortes registrados, responsável por mais de 60 milhões de pessoas sofrendo escassez de alimentos e água, e responsável pela pior seca em 35 anos na África austral.

O grupo, integrado por personalidades como o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Kofi Annan, Desmond Tutu e Jimmy Carter, foi fundado em 2007 por Nelson Mandela para promover o diálogo em nível internacional sobre os problemas globais mais urgentes. “Os eventos climáticos extremos atingem mais fortemente as comunidades mais pobres, e menos responsáveis pela mudança climática. É fundamental aumentar significativamente os fundos, para construir resiliência e proteger as pessoas mais vulneráveis”, afirmam seus integrantes.

E o The Elders não é o único grupo a expressar preocupação pela falta de consciência referente ao El Niño, um fenômeno que produz o aquecimento do Oceano Pacífico oriental, gerando variações climáticas extremas como ciclones, secas e chuvas torrenciais no hemisfério sul. E como não se trata de um evento periódico, muitos países não estavam bem preparados.

A coordenadora da campanha do El Niño da Oxfam, Rebecca Sutton, apontou à IPS que a coordenação dos fundos não começou bem. “Os alertas emitidos em meados de 2015 não geraram ações rápidas nem fundos suficientes. Além disso, vários governos dos países afetados atenderam os avisos e se prepararam bem, mas outros demoraram para anunciar os desastres, o que dificultou a mobilização de fundos para as situações de emergências que aconteceram em seus países”, acrescentou.

Sutton também se mostrou preocupada pela falta de atenção da imprensa de nações que não foram afetadas pelo El Niño, porque, dessa forma, não se prioriza a assistência às vítimas dos desastres na agenda política, entre elas os países europeus. “Começar lentamente a atender os desastres climáticos é uma questão de vontade política e não podemos continuar fazendo pouco e tardiamente”, lamentou a coordenadora.

Há três regiões que devem enfrentar um perigo particular depois do severo impacto do El Niño: América Latina, África austral e as ilhas do Pacífico. O informe de junho do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) informou que, em El Salvador, Guatemala e Honduras, a seca destruiu a maior parte da colheita deste ano e deixou três milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.

Tanto a seca quanto as inundações agravam a situação na África austral, uma “região onde não são esperadas colheitas significativas até abril de 2017, e que já sofre dois anos de seca”, ressaltou Sutton. Na Ásia Pacífico, os pequenos Estados insulares, como Vanuatu, e os países do sudeste da Ásia, como o Vietnã, experimentam uma severa escassez de água. Além disso, os graves incêndios florestais de 2015 destruíram grandes porções de floresta e esgotaram muitos recursos econômicos, em particular na Indonésia.

Embora o fenômeno El Niño de 2015-2016 tenha oficialmente terminado, ainda há suas consequências, pois muitos países experimentam secas e devem atender crises humanitárias.Muitos especialistas e o The Elders concordam que a mudança climática derivada das atividades humanas amplifica os efeitos do El Niño, embora os cientistas ainda estudem a natureza exata da relação entre esse fenômeno e o aquecimento global.

El Niño e La Niña, a outra fase do fenômeno climático, conhecido como El Niño Oscilação do Sul, se tornam mais frequentes e mais severos e suas consequências se exacerbam pelo aumento das temperaturas globais. No momento, o The Elders e outras organizações depositam suas esperanças no Fórum Político de Alto Nível, que acontecerá na sede da ONU na semana que vem, e na próxima conferência climática das Nações Unidas, que este ano acontecerá no Marrocos, em novembro. 

Fonte: Envolverde

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