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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A ilha que deixou de ser uma prisão cruel para virar um paraíso ecológico ameaçado

Isla Coiba, no Panamá, tem todos os aspectos de um perfeita ilha deserta: água cristalina, areias brancas e uma série de palmeiras em frente a uma densa e inexplorada floresta. Quando cheguei à ilha, havia apenas alguns turistas boiando na água morna do mar ou tirando sonecas e redes à sombra.

É difícil imaginar que essa ilha paradisíaca tenha um passado tão negro – e um futuro tão incerto.

Por quase um século, Isla Coiba, parte de um arquipélago de 38 ilhas que forma o Parque Nacional Marinho de Coiba, era sede de uma notória prisão. Para lá eram enviados os mais perigosos criminosos do Panamá e, segundo rumores, por lá desapareciam presos políticos.

Por contar com diversas espécies de cobras e insetos venenosos e ter suas águas mais distantes repletas de tubarões, Isla Coiba não oferecia chances de fuga para os milhares de prisioneiros, conhecidos como Os Desaparecidos.

No século 20, o Panamá passou por imensas mudanças ambientais. Mas, em Coiba, a falta de interferência humana significa que a natureza ficou em paz. Cerca de 80% da floresta tropical da ilha é virgem – com 194 quilômetros quadrados, é a maior floresta da América Central. Em 2005, após a prisão ter sido desativada, o parque nacional foi declarado Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco, a agência da ONU para a cultura.

Encalhado

A bio diversidade em Coiba atrai cientistas e turistas. Há um grande número de mamíferos, pássaros e plantas indígenas e a ilha é refúgio para espécies ameaçadas como águias e araras. A ilha está situada na mesma cadeia aquática de montanhas que as Ilhas Galápagos, no Equador, e também conta com uma rica fauna e flora marinha. Suas águas servem de corredor migratório para arraias, tartarugas, peixes pelágicos, golfinhos e baleias.

Coiba tem também a reputação de ser um dos melhores lugares para mergulhos. Ao contrário de outros locais da região, a ilha fica perto da Costa o suficiente para permitir viagens de apenas um dia. Muitos visitantes partem de Santa Catalina, que fica a apenas 20km.

E a viagem não desaponta. No primeiro dia em que mergulhei, além de uma profusão de peixes que incluiu tubarões, vi golfinhos e um grupo de baleias-piloto. Também vi a vida selvagem em terra: iguanas, macacos e abutres. Enquanto lanchávamos, vi uma criatura que parecia o cruzamento de um castor com um coelho. Meu instrutor de mergulho, David, disse que era um ñeques, um dos muitos mamíferos endêmicos de Coiba.
O segundo dia foi ainda mais impactante. Logo de manhã, vi um imenso navio de cruzeiro no horizonte. A praia de Coiba logo ficou agitada, com funcionários do navio aprontando espreguiçadeiras, barracas e toalhas para os passageiros, bem como um churrasqueira e um bar. Lanchas, então, trouxeram cerca de 150 pessoas para a areia.

Poucos passageiros sabiam que estavam chegando para uma experiência digna de Robinson Crusoé: ao voltar de um de meus mergulhos, fui informada que o navio, o Star Pride, tinha encalhado em um recife ao se aproximar da ilha. À medida em que as horas passaram, o navio parecia adernar. Depois de várias tentativas de desencalhar, o capitão avisou aos passageiros que outra embarcação os buscaria à noite.

Foi a senha para que eu decidisse participar de uma caminhada pela floresta. Depois de uma caminhada por um morro que me fez suar um bocado, atingimos um mirante de onde era possível ver a dimensão do parque marítimo e das ilhas vizinhas.

Na areia, alguns passageiros decidiram aproveitar a comida e bebida de graça, mas outros ficaram nervosos e ansiosos por causa de pertences e remédios deixados a bordo do navio. Eu não sabia se os passageiros sabiam dos mosquitos que apareceriam na praia depois do por do sol ou dos crocodilos que passeariam pela areia na escuridão.

Mas deixei o caos para participar de um mergulho noturno. Caí n’água quando o céu estava lilás e, quando emergi, já estava tudo escuro. Quando voltamos à praia, os passageiros estavam sendo resgatados. Por volta de meia-noite, estavam todos a bordo do novo navio, mas o original permaneceria encalhado por algumas semanas.

Funcionários da empresa de cruzeiros coletaram o lixo da praia, que estava sendo degustado por abutres. Foi um alívio ver a tranquilidade retornar.

A crescente popularidade da ilha no circuito de cruzeiros é uma preocupação para muitos. Com um suprimento de água limitado e pouca infraestrutura, Coiba não tem como sustentar um grande fluxo de turistas. Camilo Consuegra, dono de uma empresa de mergulho, explica que não há restrições para o número de turistas que podem visitar a ilha. Licenças são exigidas para pernoites, mas o mesmo não se dá com viagem de um dia.

No último dia de viagem, fomos visitar outra bela ilha do arquipélago: Isla Rancheria, um centro de pesquisas científicas para o Instituto Smithsonian. Havia sinais alertando para a presença de crocodilos, mas a criatura mais ameaçadora que notei foi um molusco ermitão.

Se no passado a ausência de interferência humana fez a vida florescer em Coiba, agora é justamente a ação humana que pode assegurar que o parque permaneça preservado para as futuras gerações.

Fonte: BBC Notícias

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