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sexta-feira, 10 de março de 2017

Local com importância histórica e artística para BH pode ser opção de lazer

Ele é testemunha da história de Belo Horizonte antes mesmo da cidade se constituir como tal. Na medida de seu valor para a memória da cidade, recentemente passou a receber visitas, compartilhar “causos” e ganhou o reconhecimento de personagem importante.
É o Bonfim, primeiro cemitério da capital, inaugurado em fevereiro de 1897, dez meses antes do nascimento de Belo Horizonte, e que neste ano passou a integrar oficialmente o roteiro turístico da cidade, pouco mais de um ano após começar a receber visitas guiadas regularmente. Por trás desse status, arte, história e um pouco de mistério também.

Seguindo a linha dos chamados cemitérios oitocentistas, inspirado no Père Lachaise, de Paris, o mais famoso do gênero, e caso único em BH, o Bonfim tem em parte considerável de seus túmulos, mausoléus e esculturas de mármore, bronze e granito um vasto acervo artístico – 18 quadras do cemitério já foram inventariadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). “É um acervo bastante eclético, com escolas artísticas diferentes. Nós temos desde obras de arte projetadas para serem monumentos cívicos, como o túmulo do Raul Soares, até obras que remetem a uma concepção modernista”, descreve a doutora em história e professora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Marcelina Almeida, responsável pelas visitas guiadas ao cemitério que ocorrem desde junho do ano passado.

Artistas atuantes no início do século, como o italiano Ettore Ximenes, autor do Monumento à Independência, em São Paulo, e o austríaco João Amadeu Mucchiuti, responsável pela fachada da basílica de Lourdes, assinam obras que ornamentam o cemitério – caso do túmulo de Raul Soares, de autoria de Ximenes, o maior do Bonfim.

A presença de túmulos de personalidades, inclusive, é outro aspecto que eleva o local à condição de pontos turísticos. Os principais nomes são da política. Além de Raul Soares, foram sepultados lá Olegário Maciel, Bernardo Monteiro e Silviano Brandão. O escritor Roberto Drumond e o jogador do Cruzeiro Roberto Batata, peça importante na conquista do primeiro título da Copa Libertadores, em 1976, também estão enterrados lá. Os túmulos mais visitados, porém, são os de religiosos: Padre Eustáquio, Irmã Benigna e Menina Marlene.

Memória

“Como ele foi o único cemitério da cidade por um tempo (o segundo, o cemitério da Saudade, só viria a ser inaugurado em 1941), ele guarda uma série de histórias. São coisas que valem a pena serem lembradas porque trata de pessoas que tiveram participação na história da cidade. O cemitério é um lugar de memória”, define a professora, que lembra de interesses mais curiosos que também envolvem o lugar. “As pessoas (que participam das visitas guiadas) vão muito interessadas também em conhecer a história da loira do Bonfim, essa lenda que se constituiu em torno desse personagem que a gente nem sabe se existiu, mas que existe na cabeça da população”, diz.

Quem rompe a barreira do medo ou do tabu e decide visitar o Bonfim para conhecer mais sobre sua história passa pelo menos três horas no local – tempo médio de duração das caminhadas guiadas por Marcelina (saiba mais no quadro nesta página). Às vezes, o papo rende e o grupo, normalmente de 40 pessoas, prolonga o passeio. “As pessoas gostam de ouvir histórias, mesmo no caso de túmulos mais modestos”, conta a professora, que destaca a surpresa diante da procura pelas visitas, que se mantém constante há um ano e meio. “A gente, a princípio, achou que o interesse ia ser pequeno, mas as vagas para a primeira visita se esgotaram muito rápido e tivemos que abrir duas sessões extras. O interesse das pessoas sempre existiu e é grande, maior do que nós esperávamos. A lei veio apenas formalizar algo que já era concreto”, observa. O público das visitas, segundo Marcelina, é variado. Ela diz já ter guiado crianças de 4 anos e gente de 60. Turistas do Rio de Janeiro e do interior de Minas também já fizeram os passeios.

Aplicativo

O projeto é único na cidade e assim deve continuar a ser. “Apenas o Cemitério do Bonfim, por ser o mais antigo de BH, tem potencial para ser trabalhado como atrativo turístico”, avalia a turismóloga da Fundação de Parques Municipais, Gisele Mafra. Com as ações concentradas no Bonfim, há projetos em curso além das visitas guiadas e do inventário do acervo. Gisele lembra que um material educativo com informações sobre a história do cemitério e um mapa com a identificação dos principais túmulos está disponível em formato impresso no Bonfim e como aplicativo para tablets e smartphones. “O próximo passo é a elaboração do projeto para reforma do Necrotério, edifício tombado pelo Iepha, e que se pretende que seja utilizado como ponto de apoio para os visitantes”, completa.

Conheça

Visitas guiadas - Os passeios são sempre no último domingo do mês, entre fevereiro e novembro. O próximo será dia 24/11, às 9h. Inscrições: 3277-5398 ou agendaparques@pbh.gov.br

Exposição - O Bosque da Esperança (r. Aldemiro Fernandes Torres, 1.500, Jaqueline, BH) e o Parque Renascer (Via Manoel Jacinto Coelho Jr, 1.800, Contagem) têm exposição permanente de fotos de cemitérios do mundo, no hall principal, todos os dias, das 7h às 18h

Um impresso datado de 1140, considerado o primeiro guia turístico da história, continha informações sobre Santiago de Compostela, instruções para traçar o famoso caminho feito pelo apóstolo e orientações sobre como chegar ao seu túmulo. Não era ainda o que se chama hoje de turismo cemiterial, mas o documento indica que o interesse em cemitérios está longe de ser um traço contemporâneo. O uso desses espaços como locais turísticos, motivado pela curiosidade e pela contemplação, começa a ganhar força principalmente em fins do século XIX, na Europa.

“Foi quando começou-se a descobrir que alguns desses cemitérios tinham celebridades enterradas, e também como uma forma de turismo alternativo, por desgaste de outros pontos turísticos. As obras de arte também viraram atrativos, principalmente porque as famílias mais abastadas conseguiam contratar artistas que mais tarde se tornariam consagrados para ornar os túmulos”, explica a turismóloga e fotógrafa Liliane Rosa, que fez um estudo sobre o turismo e o lazer em cemitérios.

Exemplo maior no mundo é o cemitério de Père Lachaise, em Paris, presente em qualquer guia turístico da cidade, e que recebe, anualmente, 2 milhões de visitantes. O maior atrativo do local são as personalidades em meio a 1 milhão de sepultados no local, inaugurado em 1804. O túmulo de Jim Morrison, vocalista do The Doors, é o mais visitado de todos, mas divide atenção com o túmulo da cantora francesa Édith Piaf, do escritor irlandês Oscar Wilde e do fundador do espiritismo Allan Kardec. “Ele já foi criado com vocação turística. No seu período de gestão, Napoleão já buscava restos mortais de pessoas famosas e transportava pra lá com o intuito de enriquecer o lugar”, detalha Liliane.

A capital francesa, por sinal, é destaque do turismo cemiterial com outros dois espaços igualmente “habitados” por nomes célebres, o cemitério de Montmartre, onde está enterrado o cineasta François Truffaut, e o de Montparnasse, onde estão a intelectual Simone de Beauvoir e o compositor Serge Gainsbourg. O restante da Europa não fica pra trás. É o continente onde o turismo em cemitérios se mostra mais consistente, com a existência, inclusive, de uma rota turística oficial formada por 63 cemitérios em 50 cidades de 20 países.

No Brasil

Em menor grau, outros países pelo mundo também têm espaços do gênero mais convidativos ao turismo (veja quadro ao lado). No Brasil, segundo Liliane, a prática é recente. Um dos primeiros a se estruturar para receber turistas foi o cemitério do Campo Santo, em Salvador, fundado em 1835. “O fluxo turístico é bem intenso. Há mais de 15 anos já tem coisa acontecendo. Quem vai visitar encontra totens informatizados com dados sobre o local”, diz. O destaque fica por conta das esculturas em estilo barroco, gótico e moderno. São Paulo e Rio de Janeiro também têm espaços que se destacam (veja ao lado).

A turismóloga lembra ainda de um caso peculiar, o do cemitério Jardim da Saudade, em Curitiba, que segue o modelo de cemitério-parque – com extensos gramados no lugar de túmulos, e acabou sendo apropriado pela população local como espaço para caminhadas e lazer. “A área em metros quadrados dos cemitérios às vezes é maior que a área do principal parque da cidade. Isso justifica a utilização desses espaços como lazer”, afirma.

Mesmo com tantos exemplos, Liliane reconhece que o turismo cemiterial ainda é uma atividade considerada de gueto. “É bem trabalhoso desmistificar isso porque o cemitério ainda é encarado como um lugar assustador, maldito e mal visto por mais que haja tentativas de mudar esse cenário”, analisa, completando que o tabu do ser humano diante da morte é mais uma barreira à prática. A resistência de turistas em potencial, porém, vai na contramão da importância patrimonial de determinados cemitérios que tende a se tornar progressivamente maior, segundo ela. “Os cemitérios que têm esculturas, grandes túmulos, estão em extinção. Dificilmente a humanidade vai voltar a fazer túmulos suntuosos. Isso torna esses espaços bem mais preciosos”.

Pelo mundo

Américas - O cemitério de Tulcán, localizado na cidade de mesmo nome, no Equador, se diferencia pela poda ornamental de arbustos. Em Buenos Aires, o cemitério da Recoleta atrai visitantes pelos belos túmulos, inclusive o de Eva Perón. Nos Estados Unidos, o cemitério de Forest Lawn, em Los Angeles, tem em seus túmulos celebridades como Michael Jackson e Bette Davis.

Ásia - Sem as típicas imagens sacras ocidentais, o cemitério de Aoyama, em Tóquio, no Japão, é ornado por cerejeiras que atraem visitantes principalmente na primavera. Em meio a japoneses ilustres, está enterrado o cão Hachiko, morto em 1935, e que, durante nove anos após a morte de seu dono, o esperava diariamente em uma estação de trem, como no tempo em que ele era vivo.

Europa - Aberto em 1869, o cemitério de Visehrad, em Praga, na Republica Tcheca, chama atenção pela arquitetura. Na Itália, o cemitério Monumental, em Milão, justifica o nome com inúmeras esculturas em bronze, dentre elas uma da Santa Ceia em tamanho real. Em Viena, na Áustria, o cemitério Zentralfriedhof abriga os restos mortais de Beethoven, Schubert, Brahms e Strauss.

Brasil - Em São Paulo, os cemitérios da Consolação, do Araçá e São Paulo integram projeto da prefeitura que valoriza o patrimônio dos mesmos. No da Consolação e no São Paulo (foto), há várias esculturas do ítalo-brasileiro Victor Brecheret. No cemitério de São João Batista, no Rio, estão túmulos de inúmeros brasileiros ilustres, como Tom Jobim e Santos Dumont.

Fonte: Jornal O Tempo

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