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segunda-feira, 5 de junho de 2017

Os oito Princípios da Ecologia Profunda, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Se você construiu castelos no ar, não pense que desperdiçou seu trabalho;
eles estão onde deveriam estar. Agora construa os alicerces”
Henry Thoreau (1817-1862)


Relembrar os princípios mais profundos da ecologia é uma boa maneira para se comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente – 05 de junho – ainda mais neste momento em que se comemora os duzentos anos do nascimento de Henry Thoreau (nascido em 12/07/1817).

A Ecologia Profunda (Deep Ecology) é um conceito filosófico que considera que todos os elementos vivos da natureza devem ser respeitados, assim como deve ser garantido o equilíbrio da biosfera. O termo surgiu quando, em 1972, foi publicado o artigo “The shallow and the deep, long range ecology movement. A summary”, do filósofo e ambientalista norueguês Arne Naess (1912-2009). Ele distinguiu as correntes ambientais entre movimentos superficiais ou rasos (com tendência antropocêntrica e egocêntrica) e movimentos profundos (não antropocêntricos, mas ecocêntricos). Os movimentos rasos (ou maquiagem verde) limitam-se a tentar minimizar os problemas ambientais e garantir o enriquecimento das sucessivas gerações humanas (a despeito do empobrecimento da natureza), enquanto a Ecologia Profunda vai na raiz dos problemas ambientais e defende os direitos de toda a comunidade biótica.

Na definição do físico, ambientalista e escritor Fritjof Capra (nascido em 1939): “A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser humano. Ela vê os seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de ‘uso’, à natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente natural. Ela vê o mundo, não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida”.

Em 1984, Arne Næss e George Sessions publicaram o texto “Basic Principles of Deep Ecology” onde enumeram os oito princípios da plataforma da Ecologia Profunda, conforme apresentado abaixo (em tradução livre para o português). Estes princípios estão em conformidade com o pensamento de Henry Thoreau (1817-1862) e são, cada vez mais, atuais diante da ameaça, crescentemente vigente no Antropoceno, da sexta extinção em massa da vida na Terra.

Assim, cabe reafirmar que entre as principais ameaças à vida estão a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global. O Acordo de Paris oferecia uma resposta tímida, mas correta no sentido de mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Porém, o rompimento unilateral provocado por Donald Trump e pela saída obscurantista dos Estados Unidos de um Tratado Internacional que demorou anos para ser aprovado, mostra o quanto é difícil buscar uma relação minimamente harmoniosa entre a civilização e o meio ambiente. Em nome do crescimento econômico e da geração de emprego (sujo) o presidente dos EUA, desorganizando a governança internacional, atua no sentido de acelerar o ritmo de destruição da natureza, reforçando a marcha que leva ao precipício da civilização e ao ecocídio.

A sociedade depende da natureza e não o contrário. O ser humano não pode continuar agindo como um ectoparasita que mata seu hospedeiro e destrói os ecossistemas. Não faltam estudos e avisos sobre a crise ecológica em curso.

Desta forma, mais do que nunca é preciso lembrar e reafirmar os ensinamentos da Ecologia Profunda e os 8 princípios para mudar o Mundo, escritos por Arne Næss e George Sessions:

1. O bem-estar e o florescimento da vida humana e da não-humana sobre a terra têm valor em si próprios (valor intrínseco, valor inerente). Esses valores são independentes da utilidade do mundo não-humano para os propósitos humanos.

2. A riqueza e a diversidade das formas de vida contribuem para a realização desses valores e são valores em si mesmos.

3. Os seres humanos não têm nenhum direito de reduzir essa riqueza e diversidade exceto para satisfazer necessidades humanas vitais.

4. A prosperidade da vida humana e das suas culturas é compatível com um substancial decrescimento da população humana. O florescimento da vida não-humana exige essa diminuição.

5. A atual interferência humana no mundo não-humano é excessiva e a situação está piorando aceleradamente.

6. Em conformidade com os princípios anteriores, as políticas precisam ser mudadas. As mudanças políticas afetam as estruturas básicas da economia, da tecnologia e da ideologia. A situação que resultará desta alteração será profundamente diferente da atual.

7. A mudança ideológica ocorrerá, sobretudo, no apreciar da qualidade de vida (manter-se em situações de valor intrínseco), em vez da adesão a padrões de vida mais elevados. Haverá uma consciência profunda da diferença entre o grande (quantidade) e o importante (qualidade).

8. Aqueles que subscrevem os princípios precedentes têm a obrigação de tentar implementar, direta ou indiretamente, as mudanças necessárias.

Referências:

ALVES, JED. Henry Thoreau: um revolucionário, Colabora, RJ, 20/01/2016
http://projetocolabora.com.br/vida-sustentavel/henry-thoreau/

Arne Næss and George Sessions. Basic Principles of Deep Ecology, The Anarchist Library, 1984
https://theanarchistlibrary.org/library/arne-naess-and-george-sessions-basic-principles-of-deep-ecology.lt.pdf

Fritjof Capra. A Teia da Vida, Cultrix, São Paulo, 1997
https://pt.slideshare.net/leorcp/fritjof-capra-a-teia-da-vida-pdf-24458538



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate

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