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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O dilema do eucalipto transgênico

Eles são mais gordos e mais altos, mas um observador dificilmente diria que são diferentes. A olho nu, são essas as principais características do H421, o nome de laboratório do primeiro eucalipto transgênico do mundo.
E ele é brasileiro. Naturalizado, ao menos. Está crescendo no interior de São Paulo e no sul da Bahia, áreas onde são comandadas as pesquisas genéticas das duas empresas que o detêm: a israelense FuturaGene, que desenvolveu as sementes ainda nos anos de 1990, e a brasileira Suzano Papel e Celulose, que comprou a FuturaGene em 2010.

Aprovado para uso comercial no Brasil em 2015, o H421 é apenas a segunda árvore geneticamente modificada do mundo a conseguir a licença para venda, ao lado de uma espécie de álamos liberada na China em 2002. Os interessados, porém, são muitos. A Fibria é outra companhia de celulose que toca pesquisas genéticas em suas mudas no Brasil, enquanto nos Estados Unidos a desenvolvedora de sementes ArborGen tenta desde 2008 emplacar seu eucalipto resistente ao frio junto às autoridades do país.

Não é para menos, já que os atrativos das árvores modificadas são vários. O H421, por exemplo, cresce mais e gera ao menos 20% mais madeira do que seus similares. “Ele permite aumentar a produtividade sem expandir a área, libera novas terras para outros usos e também aumenta a captura de gás carbônico por área plantada”, diz o gerente de assuntos regulatórios da FuturaGene, Othon Abrahão. “Até 2040, o mundo terá 9 bilhões de pessoas vivendo e consumindo”, acrescenta Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). “Nesse sentido, é essencial que a biotecnologia trabalhe para aumentar a produtividade, ou então não haverá terra suficiente no planeta”, continua ela.

O eucalipto transgênico cresce mais e gera 20% mais madeira do que as árvores similares
Mesmo com os argumentos a favor, o mundo segue sem que uma lasca de eucalipto transgênico tenha sido vendida ou explorada no mercado. Além da resistência natural de acadêmicos e ambientalistas mundo afora, que alertam para as consequências no longo prazo, o novo gênero também carece de reconhecimento comercial em nível internacional, já que nenhum dos grandes certificadores florestais aprova a modalidade. “Pelas regras atuais, se a empresa fizer o uso comercial de uma árvore transgênica, mesmo que em uma área pequena, ela perde a certificação de todas as suas áreas”, explica Andrea Werneburg, analista de desenvolvimento de negócios do FSC no Brasil, braço regional do Conselho Internacional de Manejo Florestal e um dos principais certificadores de florestas do mundo. Possuir selos como o do FSC não é obrigatório, mas eles atestam as práticas sustentáveis das fabricantes e, sem eles, boa parte dos países não aceita a madeira.

“Não conhecemos os impactos de médio e longo prazo, até porque são os primeiros casos do mundo, não há base de comparação”, diz Andrea. Entre os principais argumentos contra as árvores transgênicas estão seu ciclo de vida e seu porte, o que significa mais tempo de exposição e um raio bem maior de alcance para o espalhamento de seu material genético e interações no entorno. Um eucalipto, por exemplo, leva cerca de sete anos para crescer, bem diferente de outras plantas já familiarizadas com a transgenia, como soja e milho, que têm ciclos anuais. Outro grupo descontente aqui no Brasil são os produtores de mel, que poderiam perder sua certificação de produto orgânico uma vez que suas abelhas começassem a circular entre eucaliptos transgênicos. “De toda maneira é uma discussão difícil e que está longe de ser declarada fechada”, diz Andrea, do FSC. “O consumo de madeira e celulose deverá triplicar até 2050, e soluções para responderem a esse aumento é um debate que não podemos ignorar.”

Fonte: Juliana Elias Revista  Época

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