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terça-feira, 8 de setembro de 2015

O choque climático, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


“A natureza não precisa de pessoas. As pessoas precisam da natureza” – Conservation International


Vivemos em uma sociedade de risco como mostrou Ulrich Beck. E estes riscos são crescentes, pois quanto mais se avança no sistema hegemônico de produção e consumo maiores são as chances de um grande desastre econômico, social e ambiental. Dentre todos os riscos, o aquecimento global tem o maior potencial de causar danos irreparáveis.

O livro “O Choque Climático”, de Gernot Wagner e Martin Weitzman, defende a ideia da necessidade premente de ação diante das incertezas do clima. Eles apresentam os dados que mostram que a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, que era de 280 partes por milhão (ppm) antes da revolução industrial chegou a mais de 400 ppm em 2015. Neste nível, é possível manter o aumento da temperatura global abaixo de 2º C no século XXI.

Mas, com a continuidade das emissões de gases de efeito estufa (GEE), podemos chegar a 550 ppm e a três por cento de aumento do aquecimento global, ou a 700 ppm, o elevaria o aumento médio na temperatura para a casa de 3,5 graus Celsius. Assim, manter as emissões no caminho necessário para limitar o aumento médio para os dois graus recomendados – efetivando na prática esse resultado – requereria uma revolução.

O aquecimento global é uma certeza. O ritmo de aumento é incerto. Conforme aumenta a concentração de GEE, os cientistas dizem que cresce também a expectativa média do aumento da temperatura e, crucialmente, a probabilidade de eventos extremos. Com 400 ppm, as chances de um aumento de 6 graus são próximas de zero. Mas, com 700 ppm, as chances podem passar de uma em dez.

Eles dizem, se tivéssemos 10% de chance de perder a maior parte do nosso dinheiro, manteríamos o mesmo portfólio? Para a maioria, a resposta seria um contundente não. Qualquer um tomara medidas para evitar um desastre.

O mesmo deveria ser feito em relação aos riscos de um desastre climático no futuro. Deveríamos tomar medidas para reduzir os riscos. Os autores sugerem que o mínimo que precisamos fazer é impor um preço global sobre as emissões de CO2 em US$ 40 a tonelada. No entanto, atualmente, o custo real imposto sobre as emissões está mais perto de menos US$ 15 por tonelada, por causa de vastos subsídios para energia de combustível fóssil no valor de US$ 550 bilhões por ano. Outra alternativa tem a ver com as novas tecnologias. Mas eles propõem a formação de um Clube do Clima que garanta preços elevados para as emissões de carbono em todo o mundo, como um passo essencial em direção a uma política eficaz para diminuir o aquecimento.

A incerteza não pode servir para a inação. Somente nas duas últimas décadas o nível dos mares subiu, em média, quase 8 cm no mundo todo por causa do aquecimento global, segundo estudo recente da Nasa, que alertou que se trata de uma tendência que se manterá nos próximos anos. Por exemplo, um aumento da temperatura poderia levar ao completo colapso da capa de gelo da Antártida Ocidental, o que elevaria o nível dos oceanos em 5 (cinco) metros. Isto deslocaria milhões e até bilhões de pessoas das regiões costeiras para fugir da elevação do nível dos oceanos. Neste caso extremo, quase todo o litoral brasileiro ficaria afetado e haveria perdas incalculáveis.


O ano de 2014 foi o mais quente da história do Holoceno. Mas 2015 deve ser ainda mais quente. O fenômeno meteorológico El Niño, que começou este ano, também pode ser dos mais fortes dos últimos 65 anos. A corrente do El Niño produz uma elevação nas temperaturas do Pacífico equatoriano e pode causar fortes chuvas em algumas partes do mundo e secas em outras, além de elevar a temperatura global. O El Niño começou em março e seus efeitos devem durar por um ano. O calor intenso já deixou milhares de mortos na Índia em 2015. O Iraque teve o verão mais quente, com sensação térmica chegando a 70,5%, o que revoltou a população que protesta contra a falta de energia e a corrupção do governo. Os efeitos do aquecimento global já se fazem sentir em todos os lugares.

A Conferência de Paris – a COP21 – terá que avaliar todos os riscos presentes e futuros e todas as propostas disponíveis, não se furtando de tomar medidas efetivas para enfrentar o aquecimento global em todas as suas consequências e evitar o degelo dos glaciares e das calotas polares da Antártida.



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate

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