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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Clima não permite mais postergações

Já são muitos os problemas graves em toda parte em consequência da devastação de ambientes e do aumento da temperatura. Mesmo que tudo corra no melhor dos mundos , ainda faltará internalizar os acordos entre todos os países nas legislações nacionais de cada um, para que tudo entre em vigor a partir de 2020.


Por Washington Novaes –

Nesta semana está se realizando mais uma rodada de negociações entre países para tentar chegar a acordo que permita reduzir as emissões de poluentes que afetam a área do clima. Segundo a Convenção do Clima, 50 países que respondem por 70% das emissões já mandaram (28/8) suas propostas para o compromisso geral a ser firmado em dezembro em Paris. Mas a própria secretária-geral da convenção, Christiana Figueres, admite que as propostas recebidas não chegarão a uma redução global que impeça aumento da temperatura terrestre acima de 2 graus Celsius – embora sejam “um bom ponto de partida”.

Quase todos os países “desenvolvidos” já mandaram suas propostas; entre os demais, só metade, embora eles já sejam hoje responsáveis por pelo menos 50% das emissões. Logo em seguida a essa rodada haverá outra, no Chile, para discutir mecanismos de mercado para o comércio de carvão (o pior dos poluentes), financiamentos para a área do clima, tecnologias para redução do carbono.

Mesmo que tudo corra no melhor dos mundos, ainda faltará internalizar os acordos entre todos os países (se a eles se chegar, a partir do rascunho de 86 páginas, com até dezenas de alternativas em cada item) nas legislações nacionais de cada um, para que tudo entre em vigor a partir de 2020.

Já há muito tempo um dos cientistas mais respeitados nessa área, Nicholas Stern, da Universidade de Leeds, vem advertindo que seria muito “perigoso” não chegar a um acordo – os custos seriam mais altos que o de ações concretas de todos os países. Os impactos seriam espalhados por todo o mundo, de longa duração e atingindo centenas de milhões de pessoas. Isso porque a concentração de gases na atmosfera terrestre, que estava em 285 partes por milhão de dióxido de carbono ou equivalentes (ppme) no século 19, já chegou a 445 ppme, cresce mais 2,5 ppme a cada ano e pode chegar a 750 ppme no fim deste século – com custos “catastróficos nas áreas econômicas e em número de vítimas. Os países “desenvolvidos”, com um sétimo da população mundial, são responsáveis por 50% das emissões; os demais, pelo restante, embora as emissões per capita destes estejam na média em um terço das dos países mais ricos.

Já são muitos os problemas graves em toda parte em consequência da devastação de ambientes e do aumento da temperatura. O respeitado biólogo Thomas Lovejoy lembra (16/5) que a Amazônia está muito perto de chegar ao desflorestamento em 20% de sua área; se chegar, o ciclo hidrológico será muito afetado. Metade do que chove no bioma é gerado por evaporação e transpiração da água absorvida pelas plantas, que depois volta para a atmosfera. Já parece indispensável a Lovejoy uma ação de reflorestamento intensivo, porque o ciclo amazônico também é fundamental para todo o País e até para a Argentina. No Sudeste, os efeitos negativos do desmatamento na Amazônia somam-se ao aquecimento global e ao desmatamento na própria região.

Estudo de cem cientistas da Universidade de Leeds na revista Nature, mencionado pela Agência Estado (20/3), informa que se tem reduzido para a metade a capacidade da floresta amazônica de absorver carbono, que era de 2 bilhões de toneladas anuais na década de 1990. E, segundo o jornal The New York Times (16/1), a temperatura registrada no mundo desde 1880 foi recorde em 2014. Os dez anos mais quentes aconteceram de 1997 para cá. Já o USA Today (31/7) registrou que em Bandar Mahshahr, no Irã, a sensação térmica chegou a “quase 77 graus Celsius” durante uma onda de calor no Oriente Médio; a média foi de 49 graus e a recomendação do governo foi de que as pessoas evitassem sair de casa; no Paquistão morrem mais pessoas por causa de calor que por terremotos. Geleiras, segundo o Journal of Glaciology, derretem de 50 centímetros a um metro por ano (Eco-Finanças, 4/8). Esse aquecimento global terá “fortes consequências” em áreas de produção de alimentos, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU, 18/6).

Com todo o quadro inquietante, o Brasil só vai apresentar sua proposta de compromisso à Convenção do Clima “no último prazo”, porque a ciência “é um pouco deslocada do sistema de decisão controlado pelo Itamaraty”, segundo o cientista Paulo Artaxo, professor de Física na USP e membro do Painel do Clima da ONU (Instituto Socioambiental, 26/8). Ele acentua o “papel estratégico das florestas no armazenamento do carbono”, reconhece os esforços brasileiros para reduzir as taxas de desmatamento, mas entende que é preciso chegar ao desmatamento zero entre 2020 e 2030.

Em área paralela, o Brasil aderiu ao Pacto do G-7, em junho último, para não emitir mais poluentes do que é capaz de reabsorver; isso implica descarbonização da economia até o fim do século. E entre os esforços está o de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e reflorestar 12 milhões de hectares, assumido pela presidente da República. Para o cientista Carlos Nobre, o País precisa reduzir as emissões na agropecuária e no setor de energia (Folha de S.Paulo, 20/8).

Relatório de 80 cientistas no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (Eco-Finanças, 28/8) lembra que os índices econômicos podem crescer quase 4% mais até 2030 com políticas adequadas e ambiciosas na área do clima. O PIB pode ir a R$ 5,68 bilhões em 2030 com “planos audaciosos no clima” – 3,98% mais do que é previsto hoje –, principalmente para as áreas de agricultura, florestas, transportes e construção.

Como tem dito o respeitado pensador Sérgio Besserman Vianna (25/8), a proposta brasileira para a reunião decisiva da Convenção do Clima, em dezembro, “não faz feio”, mas “é medrosa”. E “poderia ser mais audaciosa, sem custo e sem atrapalhar o desenvolvimento econômico e social”. O ângulo mais favorável, a seu ver, é a redução do desmatamento na Amazônia.

* Washington Novaes é jornalista (e-mail: wlrnovaes@uol.com.br).

Fonte: Envolverde

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