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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Por 'precaução', mulheres compram terras em cemitérios ainda em vida

Amélia Menezes e Ofélia Silva compraram os próprios túmulos em Rio Branco.
Ideia é garantir um espaço quando morrerem e evitar gastos da família.

A perda repentina de entes queridos fez com que a empresária Ofélia Silva, de 45 anos, e a administradora Amélia Menezes, de 38, resolvessem se antecipar e comprar terras em cemitérios de Rio Branco para construir os próprios túmulos e dos parentes. A ideia é garantir um espaço e evitar que os familiares gastem com esses trâmites.

"Minha mãe morreu ano passado e isso mexeu muito comigo. Até para você morrer tem que ter dinheiro e se organizar, se não vira indigente. Tenho mania de me antecipar. Minha irmã começou, comprou o dela [irmã] e eu também decidi comprar o meu", conta a empresária.

Quando Guiomar Jerônimo morreu aos 83 anos, em 2015, Ofélia conta que já havia um espaço reservado para a idosa. A empresária revela que a própria mãe já havia comprado terreno em um cemitério do município de Brasileia, no interior do Acre, para ela e os familiares.

"Acho muito importante pensar na vida após a morte, ter um bom descanso. É importante se organizar. É uma das coisas que tenho parecido com ela [mãe]. Comprei meu terreno em outubro do ano passado. É um pedaço de terra onde pretendo construir um jazigo com quatro gavetas, para mim e meus três filhos", fala.

A empresária revela que o pedaço de terra custou R$ 1,5 mil e, quando sentir um alívio na crise econômica, prentende começar a construir o jazigo da família. "Poucas pessoas sabem, apenas alguns amigos, minhas duas irmãs e meus filhos, que acharam loucura minha. Acho importante pensar nisso. É uma maneira de garantir seu descanso eterno", conclui.

Diretor de um cemitério na capital acreana, Neyldo Assis diz que a procura de pessoas que desejam garantir um lugar antes de morrer é grande, mas não soube precisar um número específico. Assis conta que um pedaço de terra no cemitério custa entre R$ 2, 8 mil a R$ 5 mil.

Temos quadras aqui que foram quase todas compradas antecipadamente. A família adquiriu e está aqui enterrada. Antigamente, quase 80% dos jazigos eram comprados antecipadamente, hoje esse número caiu bastante e se precaver acaba sendo a melhor opção.

'Me criticaram', diz administradora

A morte do avô despertou em Amélia Menezes uma preocupação. A administradora diz que ficou preocupada em não deixar para a família a função de andar de cemitério em cemitério à procura de um sepulcro. Foi então que, aos 16 anos, logo após a morte do avô, que Amélia decidiu que já teria um lugar garantido em um cemitério quando morresse.

"Na época que meu avô morreu, vi ela [avó] comprando as coisas e não sabia como funcionava, pensava que era só chegar e tudo estava pronto. Tem que se precaver e garantir um lugar seu", relembra.

A oportunidade para comprar um pedaço de terra em um cemitério veio através de uma amiga de Amélia. Ela lembra que a amiga tinha sido transferida para a cidade de São Paulo e precisava vender alguns bens. Amélia adquiriu o terreno em 2010, pelo valor de R$ 2.243 mil e paga uma taxa anual pela manutenção do local.

"O irmão da minha amiga tinha morrido com meningite. Iam enterrá-lo aqui [Acre], mas decidiram levar os restos mortais para São Paulo. Já tinha ido em alguns cemitérios, só que estava lotado e não vendiam mais. Quando houve essa oportunidade, foi como ter acertado na loteria. Todo mundo me criticou, mas não estou nem aí. Quero é ser feliz quando morrer. Não quero dar trabalho para ninguém", destaca.

Amélia diz já ter pesquisado também o valor do caixão. A administradora conta que ainda não comprou a urna porque pode estragar guardada em algum lugar. Quando questionada de que jeito quer o caixão, Amélia diz que quer um bem alegre.

"Meu marido não gostou muito da situação, mas comprei mesmo assim. A gente tem que se precaver. Não compro o caixão porque não sei se vou engordar ou emagrecer, que jeito vou estar. Não quero caixão triste e ninguém chorando no meu velório", finaliza.


Fonte: G1

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