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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Seca e queima do carvão ampliam desertificação da Mauritânia

A Mauritânia, um dos países mais áridos da África, sofre um irrefreável processo de desertificação causado não só pelas secas cíclicas, mas pelo alto consumo de carvão de lenha que dizima, aos poucos, as florestas do país.
O vice-ministro de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Mohammed Yeslem Ould Lemine, divulgou recentemente um relatório alarmante que aponta seu país como um dos mais afetados pela desertificação no Sahel, região que já está naturalmente propensa ao implacável avanço das areias.

De acordo com os dados, a Mauritânia consome três vezes mais madeira do que é capaz de gerar. O Ministério do Meio Ambiente ressaltou que esse estudo – o mais detalhado apresentado até o momento – mostrou que entre 2005 e 2010 o país perdeu, anualmente, 5.000 hectares de floresta nativa e 10 mil de zonas reflorestadas.

Ainda números do Ministério, 70% das famílias na Mauritânia utilizam madeira ou carvão vegetal em vez de gás butano para cozinhar – e se aquecer no inverno. Isso representa um grande risco para o país pouco arborizado: dos 103 milhões de hectares do território, apenas três milhões são ocupados por árvores, que estão localizados no Sul do país.

Além disso, é preciso acrescentar a atividade dos fornos tradicionais e das casas públicas de banho (hamams), que também costumam usar a madeira como combustível.

Situada no extremo Sudoeste do Saara, a Mauritânia sofreu, em meados da década de 1960, com uma série de secas que durou anos e que praticamente acabou com a vegetação do país. Desde então, os vendavais de areia se tornaram crônicos.

O fenômeno prejudicou a agricultura de sequeiro, que depende da água da chuva, e limitou a atividade à estreita faixa fértil próxima ao rio Senegal, que delimita a fronteira sul do país.

Em paralelo, os povos nômades, que viviam de acordo com o ritmo das chuvas e dos lagos, que se formavam fugazmente no deserto, foram desaparecendo para dar lugar à sedentarização e à urbanização.

Mas as reclamações por causa do avanço da areia têm a ver com a invasão das estradas e das vias que ligam as cidades e são o polo de toda atividade econômica.

Para o presidente de uma ONG ambientalista, Miaga Abdusalam, o avanço da areia não surpreende se os danos causados à flora no país forem levados em conta: começando pelo pastoreio (que consome a pouca vegetação que cresce com as raras chuvas) e terminando com os incêndios, que arrasam 30 mil hectares por ano.

A perda de massa florestal e de vegetação em geral, e o conseguinte avanço da areia, constituem também uma ameaça concreta para as cidades, principalmente as do interior, que não conseguem impedir que as dunas as invadam por meio do plantio de palmeiras ou pela construção de muros que se mostram insuficientes.

Pelo menos 20 projetos de reflorestamento, conhecidos como “cinturões verdes”, foram criados, sobretudo em torno de Nouakchott e da chamada “estrada da esperança” (1.100 quilômetros) que atravessa o país de Norte a Sul, próxima à costa atlântica.

No total, 68 mil hectares foram semeados com os mais diversos métodos, que incluíram a utilização de aviões para lançar sementes às vésperas da estação de chuvas.

Em paralelo, 48 mil hectares de “florestas classificadas” estão protegidos por lei e seu uso é altamente regulado e vigiado, como se fosse uma espécie de tesouro nacional.

Mesmo assim, o resto das áreas arborizadas do país – apesar da existência de uma regulamentação teórica de exploração – são vistas por uma grande parte da população como um grande estoque de madeira. 

Fonte: UOL

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