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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Aspectos sobre a importância e complexidade da Geoquímica de solo na Ciência Ambiental, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho

Os solos são componentes essenciais do ambiente, a base dos ecossistemas terrestres e os caminhos para os ciclos biogeoquímicos na interface litosfera-biosfera.

2015 é considerado o Ano Internacional do Solo, o que demonstra a importância desse componente ambiental. Recentemente, Moujahed Achouri, diretor da Divisão de Solo e Água da Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO), salientou a importância da saúde dos solos para a produção global de alimentos e a importância de priorizar a saúde dos solos nas políticas públicas. Chouri afirmou que “Os solos são essenciais para alcançar a segurança alimentar e nutricional e têm o potencial para ajudar a aliviar os impactos negativos das mudanças climáticas.” (EcoDebate, 2015).

O mapeamento geoquímico de solo, em diferentes escalas, é uma ferramenta de fundamental importância na identificação, concentração, distribuição e caracterização de elementos potencialmente nocivos (EPN) em solos.

A concentração de elementos químicos no solo são resultados de processos naturais como interação água-rocha, processos químicos e biológicos, tempo, taxa de erosão, clima, temperatura e composição da rocha original.

A má gestão antropogênica dos recursos industriais e de mineração ou o uso abusivo de agrotóxicos podem alterar o nível natural de EPN em solos, causando contaminação, problemas ambientais e problemas de saúde. Portanto, o conhecimento consistente da composição, propriedade e dinâmica dos solos é essencial para desenvolver um programa de protecção sustentável e, se necessário, um processo de recuperação (Bech et al, 2014).

Na geoquímica de exploração mineral, a determinação de valores de background, limiares e anomalias sucinta discussões e métodos variados. Na geoquímica ambiental, as avaliações desses parâmetros são ainda mais complexas pela necessidade de caracterização e distinção de fatores naturais e antrópicos (Reimann et al. 2005; Reimann & Garrett, 2005; Preziosi et al. 2014).

Reimann & Garrett (2005) afirmam que o estabelecimento de confiáveis valores de background de elementos químicos no solo tem sido uma questão importante nas ciências ambientais. As concentrações de background são frequentemente utilizados como critérios de não contaminação ou de “limpeza ambiental” do solo após as atividades industriais. Nesse sentido, background seria definido como a concentração do elemento químico antes da industrialização, que, em muitos casos, não se encontra documentado.

Na identificação de contaminação química de uma área, é comum comparar os teores dos elementos determinados em um solo com aqueles definidos em condições naturais em áreas sem ação ou com atuação mínima de atividade antrópica. O método, entretanto, mais usual é comparar os resultados de solo de um elemento de uma área com o valor de referência (background) ou valor de tolerância (VT) que representaria a concentração superior admissível para um solo.

Os estabelecimentos de valores de referência e de tolerância são assuntos complexos, envolvendo diferentes procedimentos de amostragem e de tratamentos estatísticos. A grande quantidade de fatores naturais que regem a concentração de um elemento químico no solo, principalmente a imensa variedade das rochas fontes, dificultam o estabelecimento desses limites químicos e, principalmente, tornam a interpretação de valores anômalos, acima dos limites estabelecidos, uma questão, muitas vezes, polêmica.

Cicchella et al. (2015), em um artigo sobre a distribuição de elementos químicos em solos agrícolas e de pastagens na Itália, reportam que a falta de conhecimento científico por parte das autoridades e responsáveis pela vigilância do ambiente, está causando uma superestimação da medida áreas contaminadas. Os autores citam que diversos trabalhos, conduzidos na Itália, têm apresentado concentrações anômalas de elementos, como Be, Sn, As, Tl e V que excedem os limites legislativos, mas que são completamente de origem natural, consequência, normalmente, de rochas fontes ricas nesses elementos.

A pesquisa desenvolvida por Cicchella et al. (2015) reportou, no sul e centro da Itália, diversos valores de berílio superiores ao limite estabelecido para solo (2 mg/kg para uso residencial / recreação) explicados por um bedrock félsico e alcalino. A falta de conhecimento desses valores de background resultou que muitos locais, no centro e no sul da Itália, tenham sidos classificados como áreas contaminadas, embora os valores elevados de concentração não estejam relacionadas à contaminação antropogênica, mas sim devido anomalias geoquímicas naturais.

Por outro lado, Cicchella et al. (2015) indicam que valores anômalos de Cu de até 212 mg/kg em solo agrícola superficial, bem acima do limite legal italiano para solo (120 mg / kg para uso residencial) são justificados pelas atividades agrícolas, com grandes áreas cultivadas como culturas e pomares de vinhedos, onde o uso de pesticidas e fertilizantes é muito intenso.

Então, fica evidente, nesses breves discussões, a importância e, ao mesmo tempo, a complexidade da geoquímica de solo na ciência ambiental.

Referências Bibliográficas

Bech, J.; Abreu, M.M.; Bini, C.; Pérez-Sirvent, C. 2014. Potentially harmful elements in soils. Journal of Geochemical Exploration 144 (2014) 217–219.

Cicchella, D.; Giaccio, L.; Dinelli, E.; Albanese, S.; Lima, Annamaria; Zuzolo, D.; Valera, P.; De Vivo, B. 2015. GEMAS: Spatial distribution of chemical elements in agricultural and grazing land soil of Italy.

EcoDebate. 2015. Solos hospedam um quarto da biodiversidade do planeta, lembra ONU. Publicado no Portal Eco Debate, 23/04/2015.

Preziosi, E.; Parrone, D.; Bon, A.D.; Ghergo, S. 2014. Natural background level assessment in groundwaters: probability plot versus pre-selection method. Journal of Geochemical Exploration 143 (2014) 43–53

Reimann, C., Garrett, R.G., 2005. Geochemical background: concept and reality. Sci. Total Environ. 350, 12–27.

Reinmann, C.; Filzmoser, P. and Garrett, R. G. – 2005 – Background and threshold: critical comparison of methods of determination. Science of the total Environment, 346: p. 1–16. Journal of Geochemical Exploration 154 (2015) 129–142.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.

Fonte: EcoDebate

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