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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Agrotóxicos sempre trazem riscos II, artigo de Roberto Naime

Luis Schiesari observa que apesar de existirem avanços na indústria, com produtos menos tóxicos e menos persistentes, uma diretriz não muda em relação aos agrotóxicos. São produtos formulados para matar organismos vivos indesejáveis para o cultivo, ou seja, são venenos.


Questionado sobre por que há tantos insumos químicos proibidos em muitos países no mercado brasileiro, exercitou a seguinte observação, “o Brasil não é pária da legislação mundial. É signatário de convenções que baniram compostos particularmente danosos e tem legislação relativamente mais restritiva que países vizinhos, como o Paraguai. Mas, assim como acontece no caso do Código Florestal, há lobbies poderosos que vêm conseguindo um relaxamento da legislação nos últimos anos. Hoje, ela é menos protetora do que era em 1989, quando foi aprovada. Isso sem mencionar a sua aplicação. Um exemplo é a necessidade de avaliação periódica dos pesticidas que foi eliminada pelo Congresso há alguns anos. Agora a licença é indeterminada até prova em contrário. Nos Estados Unidos, os registros para pesticidas são de 15 anos, na Europa 10 anos e, no Japão, 5 anos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que tem a obrigação legal de proteger a saúde da população, se propôs a reavaliar diversas substâncias que acabaram sendo proibidas fora do Brasil desde os anos 2000. No entanto, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola e as indústrias químicas entraram com processos e liminares para impedir as avaliações, que ficaram paradas por anos. Depois os processos continuaram e algumas dessas substâncias estão sendo retiradas do mercado paulatinamente. Por outro lado, existem movimentos mundiais de controle mais restritivo, como a legislação europeia que pode levar à eliminação de um quarto dos compostos disponíveis. Com isso, podemos esperar também no Brasil pressão por um uso mais cuidadoso de agrotóxicos”.

Falando sobre biodiversidade, sobre como foi realizado o estudo sobre a transformação da paisagem na região das cabeceiras do Rio Xingu, influenciando na biodiversidade de águas paradas, ele manifesta que se “fez um trabalho de amostragem em poças e brejos em áreas de floresta, pastagem e soja. É uma combinação interessante, porque plantação e pastagem possuem a degradação estrutural, mas a pastagem não tem contaminação química. Fizemos uma grande amostragem estatística (50 a 60 poças), por isso se trabalhou com áreas pequenas. Nesse tipo de ambiente, os principais atores são os girinos (de rãs, pererecas e sapos) e predadores, em geral, insetos aquáticos, como larvas de libélulas, besouros adultos e larvas e adultos de percevejos. As amostragens aconteceram em três momentos do ciclo da soja, coincidindo com a temporada de chuva: começo, meio e fim. Os resultados foram surpreendentes. Mostraram que havia pouquíssimos girinos na floresta, muitos nas pastagens e um número intermediário nas plantações de soja. Em relação aos insetos, havia uma diversidade alta na floresta e na pastagem, mas foram eliminados dos plantios de soja”.

Auscultado sobre quais foram as principais causas dessas transformações e quais os seus principais impactos, o biólogo desenvolve que “o motivo é que a floresta na região das cabeceiras do Xingu possuem solo extremamente permeável e a água vai direto para o lençol freático, não fica acumulada e inexiste ambiente de água parada. Por isso, não há habitat desses bichos nas terras mais altas na floresta. Quando se transforma a paisagem, por outro lado, com abertura de estradas, construção de cacimbas, tráfego de maquinário, há uma compactação do solo e aumenta o habitat para anfíbios. Nas regiões mais baixas, as mudanças são brutais, com a construção de barragens (mesmo pequenas), aumentando a ocorrência de reservatórios. O impacto na hidrologia é enorme, mudando o ambiente de organismos aquáticos. Para vários anfíbios, causa o aumento na população, embora as espécies beneficiadas não sejam de floresta, mas de áreas abertas (as mais resistentes do cerrado). Com a expansão da agricultura, determinadas espécies – não as mais raras, mas as mais robustas – se beneficiam, principalmente nas áreas de pastagens, onde são escavadas cacimbas para acumular água para o gado. Os insetos também atingem biomassa alta na pastagem, mas na região de plantio eles somem da paisagem. Achamos girinos nas poças, mas não insetos. Ao que tudo indica, é por conta dos inseticidas. Na região, se usa 13 diferentes ingredientes ativos de inseticidas nesta época”.

Concluindo, é provocado a se manifestar sobre o que as modificações verificadas na biodiversidade das espécies desses locais podem significar no longo prazo, manifestando que é “difícil ter prognósticos precisos, mas é obvio que há perda de ambientes terrestres com as transformações de florestas ou cerrados em plantações de soja. Espécies mais sensíveis, como uma que só come um tipo de planta, por exemplo, tendem a desaparecer. Há uma cadeia de perda de espécies. Nos ambientes aquáticos, temos também alteração de ambientes de alguns nichos por conta das inúmeras barragens. Além disso, há a expansão de espécies resistentes em poças, brejos e represas, e uma redução drástica de insetos em áreas aquáticas de plantações. Aparentemente, as espécies que estão expandindo são de áreas abertas. Plantações de soja e pastagens não são desertos, mas têm menos espécies”.

Fonte: EcoDebate

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