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quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Vítimas da ditadura são homenageadas com placas em cemitério de São Paulo

O Cemitério Municipal de Campo Grande, na zona sul da capital paulista, recebeu dia 18 uma placa em memória de três vítimas da ditadura militar, mortas por agentes do Estado, e que ali foram sepultadas. A instalação da placa atende uma recomendação das comissões da Verdade Nacional e Municipal de São Paulo, que recomendaram a criação de marcos de memória relacionados às violações de direitos na época da ditadura.


A placa homenageou Emmanuel Bezerra dos Santos e Manoel Lisboa de Moura, militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que morreram no dia 4 de setembro de 1973, após serem torturados no DOI-Codi em São Paulo. Além deles, a placa também traz o nome de Santo Dias da Silva, um operário metalúrgico que foi assassinado por um agente do Estado quando tinha 37 anos, durante um piquete na frente da fábrica onde trabalhava.

Ana Maria do Carmo Silva, viúva de Santo Dias, como ele é mais conhecido, acompanhou a cerimônia de inauguração da placa. “Fui casada durante 14 anos e fui separada brutalmente dele pela ditadura. Foi uma morte estúpida, mas que não acabou. Hoje, se tem uma árvore e se tem uma placa, é a luta do Santo Dias e de tantos trabalhadores” , disse.

Ana Maria disse que Santo Dias foi morto em frente a uma empresa metalúrgica onde trabalhava. “Ele estava em greve. Veio a repressão. Reprimiram todos os trabalhadores e, neste momento, o Santo, que era uma das lideranças, recebeu um tiro à queima-roupa. E queriam desaparecer com o corpo”.

Além da placa, também foram plantados três ipês no local em memória das três vítimas. “A árvore é a vida. A placa é uma memória que a gente acredita e que vai continuar para mostrar que houve ditadura e que ela nunca pode voltar”.

A procuradora Eugênia Augusta Gonzaga, presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, disse que a instalação da placa é uma medida de memória. “Muito mais do que uma homenagem, é você ter um marco histórico demonstrando o que aconteceu naquele local, que determinados cemitérios como este foram palco de ocultações de cadáveres. É muito importante que a população de hoje saiba a maneira como essas pessoas morreram”, disse.

Para a secretária municipal de Direitos Humanos, Eloisa Arruda, a placa é uma marca de memória que ajuda a demonstrar que o “Estado brasileiro não compactua com os desaparecimentos forçados, com o justiçamento com as próprias mãos. Ninguém tem o direito de matar pessoas e fazer com que os corpos desapareçam, e depois não prestar satisfações. Isto é um retrocesso e o que queremos é que prevaleça o Estado de Direito. As pessoas, mesmo que tenham cometido infrações penais, devem ser julgadas e processadas. Se temos o próprio Estado como autor de atos desumanos, cruéis e de tortura, aí a situação se torna muito mais grave”, disse.

Segundo a procuradora, além dos três corpos enterrados, outros corpos de vítimas da ditadura podem ter sido sepultados no Cemitério de Campo Grande, sem conhecimento da família. “Existem desaparecidos políticos, dezenas deles em São Paulo, que foram mortos no período e não consta para onde foram. Então é possível que outras pessoas tenham vindo para cá. É preciso aprofundar as investigações”.

Placas

Essa é a segunda placa de memória instalada em um cemitério em São Paulo. A primeira foi colocada no Cemitério de Perus, no início do mês. Na próxima semana, uma placa será instalada no Cemitério de Vila Formosa, na zona leste da capital.

Segundo documentos obtidos pela Comissão da Memória e Verdade, 79 vítimas da repressão foram sepultadas em São Paulo. Desse total, 53 tiveram como destino os cemitérios de Lajeado, Campo Grande, Vila Formosa, Dom Bosco e Perus. Desses, 48 foram enterrados sem o conhecimento da família, como indigentes ou com nomes falsos. Pelo menos 17 não foram localizados até hoje, embora o Estado tenha documentos que comprovem que eles foram enterrados nesses locais.

Por causa de três incêndios ocorridos em Lajeado, apenas um caso foi comprovado até o momento: o de Raimundo Eduardo da Silva. Mas a suspeita é que vários militantes tenham sido enterrados em Lajeado.

Fonte: Isto É Dinheiro

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