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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Emissões globais de CO2 aumentaram em 2017, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A curva de Keeling segue sua tendência inexorável de subida e a concentração de CO2 na atmosfera deve ultrapassar 410 partes por milhão (ppm) em maio de 2018. O mundo precisava parar (ou diminuir muito) a queima combustíveis fósseis.


Contudo, as emissões globais de CO2 aumentaram em 2017. O aumento previsto das emissões de gases de efeito estufa para 2017, após três anos de estabilidade, sugere que as emissões ainda não atingiram o pico, aumentando a urgência nas negociações climáticas da ONU. O aumento projetado de 2% nas emissões de 2017 é um péssimo sinal para o futuro do Planeta e mostra que o Acordo de Paris, de 2015, está longe de cumprir com suas metas.

O objetivo do Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 graus Celsius (se possível abaixo de 1,5º C) em relação aos tempos pré-industriais. Porém, estes objetivos estão cada vez mais difíceis de serem alcançados.

O país com o maior aumento projetado nas emissões de 2017 – cerca de 3,5% – é a China, onde o consumo de carvão aumentou, a despeito de todos os investimentos chineses em energias renováveis. O aumento das emissões chinesas pode ser parcialmente atribuído a um longo período seco que reduziu a quantidade de água disponível para energia hidrelétrica, o que significa que mais carvão foi queimado.

A pesquisa do Global Carbon Project mostra que o consumo de carvão nos Estados Unidos também cresceu ligeiramente em 2017, mas projeta que as emissões globais dos EUA – o segundo maior poluidor, cairão 0,4%, devido em parte a uma mudança da matriz energética para gás natural e energia renovável.

As emissões da Índia, enquanto isso, deverão crescer em cerca de 2%, abaixo do crescimento de mais de 6% durante a última década. Espera-se que as emissões diminuam em 22 países, com economias crescentes que representam 20% das emissões globais.

De modo geral, as emissões de carbono causadas pelas atividades antrópicas cresceram a uma taxa anual média de 3,5% desde 2000, mas a um ritmo mais lento de 1,8% entre 2006 e 2015, de acordo com o Global Carbon Project. Isto mostra que é possível diminuir as emissões e fazer um desacoplamento relativo.

Contudo, o cenário é preocupante pois só uma redução significativa das emissões poderia evitar um colapso ambiental. Quanto maior for a procrastinação, maiores serão os esforços requeridos no futuro, inclusive as “emissões negativas”. Temperaturas acima de 2º C podem desencadear eventos climáticos desastrosos que podem representar um xeque-mate às pretensões da civilização.

O último relatório do The International Resource Panel (IRP), da UNEP, “Assessing Global Resource Use”, mostra que a economia internacional continua devorando recursos naturais em grande quantidade e que o desacoplamento absoluto é um sonho distante.

O modelo econômico que visa maximizar a acumulação de capital para as empresas e a maximização do bem-estar (consumista) para a população é incompatível com a sustentabilidade ambiental e a estabilidade do clima. A geração de riqueza humana ocorre em função da degradação ecológica e da poluição atmosférica. O atual caminho leva ao precipício.

No dia 13/11/2017, foi publicada uma carta na revista BioScience, assinada por 15.372 cientistas de 184 países, com o título: “Advertência dos Cientistas à Humanidade: Segundo Aviso”. Trata-se de um verdadeiro alerta para a humanidade que segue um rumo de desenvolvimento insustentável. O aviso está dado.

O ecocídio e o suicídio terão alta probabilidade de ocorrer se não houver uma mudança global no modelo de produção e consumo e uma redução urgente da pegada ecológica da humanidade.

Referência:

Advertência dos Cientistas do Mundo à Humanidade: um Segundo Aviso
https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/201711149829620-humanidade-ameaca-terrivel/

Carbon Budget 2017
http://www.globalcarbonproject.org/carbonbudget/17/presentation.htm

UNEP. Assessing Global Resource Use. A systems approach to resource efficiency and pollution reduction. The International Resource Panel (IRP) United Nations Environment Programme, 2017
http://www.resourcepanel.org/reports/assessing-global-resource-use



José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Fonte: EcoDebate

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