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sexta-feira, 12 de julho de 2013
Perda da biodiversidade é problema global
A perda de biodiversidade é a ameaça real mais importante enfrentada pela humanidade hoje e ocorre de forma rápida – e em todos os lugares do planeta –, em um momento de grandes mudanças climáticas globais e de forte pressão para aumentar drasticamente a produção de alimentos a fim de atender ao crescimento da população mundial.
O alerta foi feito por Zakri Abdul Hamid, presidente da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES, na sigla em inglês), nesta quinta-feira (11/07), na abertura da Reunião Regional da América Latina e Caribe do organismo intergovernamental independente. Criado oficialmente em abril de 2012, o IPBES tem por objetivo organizar o conhecimento sobre a biodiversidade no mundo para subsidiar decisões políticas em âmbito mundial.
Realizado pela FAPESP, no âmbito do Programa BIOTA de pesquisa para caracterização, conservação e uso sustentável da biodiversidade no Estado de São Paulo, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo IPBES, o encontro é a primeira reunião regional realizada pelo órgão.
O evento, que segue até o dia 13 de julho na sede da FAPESP, discute formas de integrar profissionais e instituições de pesquisa da América Latina e do Caribe que atuam na área da biodiversidade, para a produção de diagnósticos regionais que comporão um relatório sobre a biodiversidade em nível global. Os documentos conterão as particularidades dos países da região, que acumulam um terço da biodiversidade do planeta e o conhecimento tradicional de povos indígenas e pré-colombianos.
“Como são regiões ricas em biodiversidade e diversidade cultural, a América Latina e o Caribe podem desempenhar um papel importante na definição do caminho a ser seguido pelo IPBES”, afirmou Hamid. “Além disso, [as regiões] também possuem instituições respeitadas, como a Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade (Conabio), do México, o Instituto Humboldt, da Colômbia, e a FAPESP, no Brasil, que podem tanto ajudar para aumentar a capacidade dessas regiões, como servir de modelo para o resto do mundo e auxiliar na implementação do IPBES na região”, ressaltou.
Desafios para conservação
De acordo com o pesquisador, um dos principais desafios que o IPBES terá de enfrentar agora, depois de oito anos de negociações internacionais para ser implementado, é chamar a atenção do mundo para o problema do declínio da diversidade de espécies de plantas e de animais em todo o planeta, que alguns cientistas chamam de “o sexto grande episódio de extinção na história da Terra”.
Segundo dados apresentados por ele, cerca de 75% da diversidade genética de culturas agrícolas foi perdida no último século. Um dos fatores responsáveis por isso foi o cultivo, por agricultores de todo o mundo, de variedades geneticamente uniformes e de alto rendimento e o abandono de muitas variedades locais.
“Existem 30 mil espécies de plantas, mas apenas 30 culturas são responsáveis por fornecer 95% da energia fornecida pelos alimentos consumidos pelos seres humanos; a maior parte delas (60%) se resume a arroz, trigo, milho, milheto e sorgo”, afirmou.
Já entre os animais, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apresentados por Hamid, aproximadamente 22% das raças bovinas no mundo estão em risco de extinção. Alguns dos motivos para isso é que as características dessas espécies não atendem às demandas atuais dos pecuaristas ou porque suas qualidades não foram reconhecidas.
Muitas dessas raças nativas, de acordo com a FAO, são adaptadas a condições ambientais desfavoráveis, possuem material genético importante para programas de reprodução e são meios de subsistência de muitas famílias carentes no mundo, uma vez que são mais fáceis de serem mantidas do que as raças exóticas, mencionou o pesquisador. Além disso, em um mundo ameaçado pelas mudanças climáticas, algumas dessas raças são mais resistentes a secas, calor extremo e doenças tropicais.
“A perda de diversidade genética de animais domésticos reflete a falta de visão geral do valor de raças nativas e de sua importância na adaptação às mudanças climáticas globais”, disse Hamid. “Isso é consequência de incentivos à promoção de raças mais uniformes e da seleção focada de produtos agropecuários”, avaliou.
Para tentar minimizar o risco de desaparecimento tanto dessas espécies de animais como de plantas, é preciso criar, cada vez mais, bancos de germoplasma (unidades de conservação de material genético de uso imediato ou com potencial uso futuro), apontou Hamid, que é assessor de Ciência do primeiro-ministro da Malásia e participou das negociações da Convenção sobre a Biodiversidade Biológica (CDB), estabelecida em 1992, durante a ECO-92.
Ações de mitigação
Já na esfera política, de acordo com o pesquisador, um dos maiores desafios é informar e capacitar os tomadores de decisão a agir de forma a reverter o problema da perda de biodiversidade existente no mundo hoje.
Para isso, o IPBES, que foi inspirado no modelo de atuação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), pretende não só gerar informações sobre biodiversidade aos formuladores de políticas públicas no mundo, como também realizar programas de capacitação profissional de tomadores de decisão sobre o assunto.
“A capacitação profissional em biodiversidade foi uma requisição feita pelos países latino-americanos ao IPBES para que se tivesse, justamente, um diferencial em relação ao IPCC”, disse Carlos Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do programa BIOTA-FAPESP.
“Esse tópico será um dos mais importantes que discutiremos na reunião regional para tentarmos estabelecer de que forma o programa de trabalho do IPBES poderá ajudar a treinar e capacitar pessoas e instituições em biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, afirmou o pesquisador brasileiro, eleito em junho diretor do Painel Multidisciplinar de Especialistas (MEP, na sigla em inglês) do IBPES.
Na avaliação de Celso Lafer, presidente da FAPESP, a interação entre a comunidade científica e os formuladores de políticas públicas na área de meio ambiente, que o IPBES se propõe a realizar, era a ação que faltava para a CDB.
“Justamente o que faltava para a Convenção sobre a Biodiversidade Biológica era uma interação entre o conhecimento e policy makers. E, por isso, estou convencido de que a criação do IPBES como parte dos mecanismos do processo decisório sobre os temas da biodiversidade e serviços ecossistêmicos representa um passo de grande significado”, disse Lafer, que participou como ministro das Relações Exteriores da organização e coordenação da RIO-92, na qual a CDB foi assinada.
Fonte: Agência Fapesp
O alerta foi feito por Zakri Abdul Hamid, presidente da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES, na sigla em inglês), nesta quinta-feira (11/07), na abertura da Reunião Regional da América Latina e Caribe do organismo intergovernamental independente. Criado oficialmente em abril de 2012, o IPBES tem por objetivo organizar o conhecimento sobre a biodiversidade no mundo para subsidiar decisões políticas em âmbito mundial.
Realizado pela FAPESP, no âmbito do Programa BIOTA de pesquisa para caracterização, conservação e uso sustentável da biodiversidade no Estado de São Paulo, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo IPBES, o encontro é a primeira reunião regional realizada pelo órgão.
O evento, que segue até o dia 13 de julho na sede da FAPESP, discute formas de integrar profissionais e instituições de pesquisa da América Latina e do Caribe que atuam na área da biodiversidade, para a produção de diagnósticos regionais que comporão um relatório sobre a biodiversidade em nível global. Os documentos conterão as particularidades dos países da região, que acumulam um terço da biodiversidade do planeta e o conhecimento tradicional de povos indígenas e pré-colombianos.
“Como são regiões ricas em biodiversidade e diversidade cultural, a América Latina e o Caribe podem desempenhar um papel importante na definição do caminho a ser seguido pelo IPBES”, afirmou Hamid. “Além disso, [as regiões] também possuem instituições respeitadas, como a Comissão Nacional para o Conhecimento e Uso da Biodiversidade (Conabio), do México, o Instituto Humboldt, da Colômbia, e a FAPESP, no Brasil, que podem tanto ajudar para aumentar a capacidade dessas regiões, como servir de modelo para o resto do mundo e auxiliar na implementação do IPBES na região”, ressaltou.
Desafios para conservação
De acordo com o pesquisador, um dos principais desafios que o IPBES terá de enfrentar agora, depois de oito anos de negociações internacionais para ser implementado, é chamar a atenção do mundo para o problema do declínio da diversidade de espécies de plantas e de animais em todo o planeta, que alguns cientistas chamam de “o sexto grande episódio de extinção na história da Terra”.
Segundo dados apresentados por ele, cerca de 75% da diversidade genética de culturas agrícolas foi perdida no último século. Um dos fatores responsáveis por isso foi o cultivo, por agricultores de todo o mundo, de variedades geneticamente uniformes e de alto rendimento e o abandono de muitas variedades locais.
“Existem 30 mil espécies de plantas, mas apenas 30 culturas são responsáveis por fornecer 95% da energia fornecida pelos alimentos consumidos pelos seres humanos; a maior parte delas (60%) se resume a arroz, trigo, milho, milheto e sorgo”, afirmou.
Já entre os animais, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apresentados por Hamid, aproximadamente 22% das raças bovinas no mundo estão em risco de extinção. Alguns dos motivos para isso é que as características dessas espécies não atendem às demandas atuais dos pecuaristas ou porque suas qualidades não foram reconhecidas.
Muitas dessas raças nativas, de acordo com a FAO, são adaptadas a condições ambientais desfavoráveis, possuem material genético importante para programas de reprodução e são meios de subsistência de muitas famílias carentes no mundo, uma vez que são mais fáceis de serem mantidas do que as raças exóticas, mencionou o pesquisador. Além disso, em um mundo ameaçado pelas mudanças climáticas, algumas dessas raças são mais resistentes a secas, calor extremo e doenças tropicais.
“A perda de diversidade genética de animais domésticos reflete a falta de visão geral do valor de raças nativas e de sua importância na adaptação às mudanças climáticas globais”, disse Hamid. “Isso é consequência de incentivos à promoção de raças mais uniformes e da seleção focada de produtos agropecuários”, avaliou.
Para tentar minimizar o risco de desaparecimento tanto dessas espécies de animais como de plantas, é preciso criar, cada vez mais, bancos de germoplasma (unidades de conservação de material genético de uso imediato ou com potencial uso futuro), apontou Hamid, que é assessor de Ciência do primeiro-ministro da Malásia e participou das negociações da Convenção sobre a Biodiversidade Biológica (CDB), estabelecida em 1992, durante a ECO-92.
Ações de mitigação
Já na esfera política, de acordo com o pesquisador, um dos maiores desafios é informar e capacitar os tomadores de decisão a agir de forma a reverter o problema da perda de biodiversidade existente no mundo hoje.
Para isso, o IPBES, que foi inspirado no modelo de atuação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), pretende não só gerar informações sobre biodiversidade aos formuladores de políticas públicas no mundo, como também realizar programas de capacitação profissional de tomadores de decisão sobre o assunto.
“A capacitação profissional em biodiversidade foi uma requisição feita pelos países latino-americanos ao IPBES para que se tivesse, justamente, um diferencial em relação ao IPCC”, disse Carlos Joly, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do programa BIOTA-FAPESP.
“Esse tópico será um dos mais importantes que discutiremos na reunião regional para tentarmos estabelecer de que forma o programa de trabalho do IPBES poderá ajudar a treinar e capacitar pessoas e instituições em biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, afirmou o pesquisador brasileiro, eleito em junho diretor do Painel Multidisciplinar de Especialistas (MEP, na sigla em inglês) do IBPES.
Na avaliação de Celso Lafer, presidente da FAPESP, a interação entre a comunidade científica e os formuladores de políticas públicas na área de meio ambiente, que o IPBES se propõe a realizar, era a ação que faltava para a CDB.
“Justamente o que faltava para a Convenção sobre a Biodiversidade Biológica era uma interação entre o conhecimento e policy makers. E, por isso, estou convencido de que a criação do IPBES como parte dos mecanismos do processo decisório sobre os temas da biodiversidade e serviços ecossistêmicos representa um passo de grande significado”, disse Lafer, que participou como ministro das Relações Exteriores da organização e coordenação da RIO-92, na qual a CDB foi assinada.
Fonte: Agência Fapesp
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