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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

20 de setembro, e daí?

Gaúchos e não gaúchos, rio-grandenses, brasileiros e não brasileiros de todas as querências!
Me permitam fazer um aparte, nesse 20 de setembro. Como um baita número de leitores não é do meu pago, já vou explicando porque hoje vou me atrever a fazer uns escritos em estilo “guapo”. Nessa data que se comemora o dia do gaúcho é feriado no estado mais ao Sul do Brasil. Tudo por causa de uma guerra que durou 10 anos (1835-1845) entre os farrapos (que queriam a independência do RS) e os imperiais (exército da Coroa Portuguesa).

Menina fazendo arte no evento Viva Mata / Foto: Silvia Marcuzzo

Não vou me adentrar nos entreveros da História, se o motivo de tudo foi o interesse de estancieiros, que já tiravam proveito do tal de agronegócio desde aquele tempo. Vou abordar um sentimento, que talvez só sinta quem nasceu em um dos rincões do único Estado brasileiro que é contemplado com o pampa e que teve a oportunidade de viver em outros lugares.

No melhor estilo “bairrista”, arrisco a dizer que qualquer vivente do planeta deve ter um gaúcho em sua vida. É só olhar por volta quando se vai para outras paragens. Sempre tem algum gaúcho por perto. E, numa dessas, fui apresentada em uma reunião do Pará, com o seguinte complemento: apesar de tudo, gaúcha. A partir daí comecei a me indagar – pois antes, nem duvidava, tinha certeza – por que existe esse Orgulho de ser gaúcho?

E eu, batendo um lero com meus botões, que para alguns no passado foram abotoaduras, resolvi colocar para fora algumas coisas que me incomodam. Nesse 20 de setembro muitos ainda acreditam que a data seja a precursora da liberdade, só pra lembrar o hino rio-grandense, talvez o único de um estado que a população saiba de cor e salteado.

Pra começo de conversa, quem conhece um pouco desse país que reúne gente de tantos lugares, sabe. Gaúcho é que nem espécie invasora. Por suas características, seu grau de resiliência é tamanho, que pode ser comparado a pinus, a mexilhão dourado ou ao capim anoni. Pra quem não sabe, espécie invasora é aquela que vem de um lugar diferente e toma conta do pedaço onde chega. Se dá bem. Não se mixa. Suporta 40 graus, que nem sempre acontece no verão, pode até ser em um dia que tenha começado com 10 graus, aguenta temperaturas negativas, aquelas de “renguear cusco”.

Talvez seja por isso que tenham tantos Centros de Tradições Gaúcha por aí. Também pode ser uma explicação para que eles ultrapassem todas as fronteiras para plantar soja ou criar gado. É só dar uma espiada no número de municípios fundado por eles ou por descendentes deles, que tal Porto Alegre do Norte, MT, Novo Progresso, PA, Colorado do Norte, MT?

Me criei no interior, na Depressão Central do Estado, numa região de coxilhas (pequenos morros, como se fosse um lombo de kiwi, cortado ao meio) e me sinto à vontade para escrever sobre os conterrâneos. Quem me conhece sabe que até gosto de mostrar meu sotaque por onde ando. Até posso ser considerada uma gaúcha legítima, apesar de nunca ter concorrido a mais prendada prenda, que – para quem não sabe, não é simplesmente um concurso de beleza. Aqui, a miss gaudéria precisa fazer e conhecer um monte de coisas, além de não ser muito feia, é claro. Cozinhar, declamar, tricotar, conhecer a história, cantar estão entre os atributos de uma moça prendada.

Vivi muito os vários lados de ser gaúcha. Nos meus tempos de juventude, a Semana Farroupilha era algo esperado, festejado e, principalmente, vivido pelas cidades do interior. Naquele tempo (e isso é algo de 25 anos atrás) eram realizados dois bailes por noite nos CTGs – Centro de Tradições Gaúchas – de Cachoeira do Sul, minha terra natal. Saíamos do fandango e íamos direto tomar café na feira, passávamos a semana pilchados, ou seja, eu ia pra todo lado de vestido de prenda. Hoje já não é mais assim.

A maioria, quase todos descendentes de italianos, comeram o pão que o diabo amassou. Meus antepassados, por exemplo, eram “contadini” (escravos dos condes) de uma Itália pré-unificada que saíram da planície do rio Pó na miséria. Esses foram os colonos italianos, largados no meio do mato, que tiveram que colocar em prática a luta “do não tá morto quem peleia”. Para sobreviver, caçavam, desmatavam e a mira era só a sobrevivência. E a floresta foi transformada em dormente, lavoura para fumo (aquele que era plantado logo depois da derrubada valia mais), lenha, horta etc. Por isso, compreendo meus conterrâneos.

O problema é que quem vive demais do passado muitas vezes não enxerga o que está a sua frente hoje. Muita gente que vem dessa cultura ainda acha bobagem conceitos e ideias incômodas, que batem de frente com o imediatismo enraizado em uma cultura que presa o prazer do agora. Não é à toa que políticos e latifundiários de várias unidades da federação são de origem “ítalogaúcha”, como César Quartiero, líder dos arrozeiros e deputado federal de Roraima; Ivo Cassol, senador de Rondônia, e Blairo Maggi, senador de Mato Grosso, só pra citar alguns.

Sempre que volto pra casa depois de ter vivido uns dias com brasileiros de outras regiões lamento o quanto o Rio Grande vive das glórias do passado e o quanto deu de ré de trator de esteira em várias áreas, principalmente com relação à sustentabilidade socioambiental. Eu admiro a capacidade prática dos paulistas – de manhã tem uma ideia, de tarde o projeto e no outro dia já partem para a execução. Depois de uns dias no interior de Santa Catarina, concluo que mais que ter orgulho, precisamos ter humildade para pedir ajuda e correr atrás do que, de fato, fará nossos netos e bisnetos sentirem orgulho de nós.

Fonte: Mercado Ético

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