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quinta-feira, 16 de julho de 2015

Geólogo diz que lixo nas ruas não é vilão e critica piscinões antienchentes

O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos apresentou nesta terça-feira (14), na reunião anual da Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Carlos (SP), a conferência “Enchentes urbanas: causas e soluções” e trouxe à tona mitos sobre o assunto. Para o consultor, o lixo jogado nas ruas, tido como vilão, não é o fator que mais contribui para o problema e os piscinões são verdadeiras bombas sanitárias.

“Não deixem criar piscinões nas cidades de vocês”, defendeu. “O piscinão ocupa uma área que poderia ter outras funções e vai ser uma bomba sanitária com água contaminada. É uma despesa absurda porque ele tem que estar limpo, não pode assorear, tem que ser conservado e o material que sai tem alto grau de poluição, tem que ser levado para uma área específica que não pode ser muito longe porque o transporte é caro”, explicou.

“O piscinão virou indústria e querem vender como panaceia. É uma técnica que tem qualidade hidráulica, mas tem que ser a última opção”, pontuou o ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT).

O especialista também criticou a difusão de que o grande vilão é o lixo. Segundo ele, são quatro as causas das enchentes: impermeabilização, canalização de rios e córregos (a vontade de se livrar das águas o mais rápido possível), a overdose de terraplanagem, expondo solos à erosão, e o espraiamento geográfico.

“Há uma incapacidade da cidade de reter água da chuva e jogar tudo para o sistema de drenagem, e esse sistema não tem condição de dar vazão a esse volume jogado em tão pouco tempo”, afirmou, completando que, em florestas, a retenção da água é de 85% e, nas cidades, de 15%.

“A população compra que é o lixo jogado na rua que causa as enchentes. O lixo só atrapalha, mas, perto das outras coisas, é praticamente desprezível o problema que ele causa porque é mais pontual, um bueiro entupido, por exemplo. A sociedade criminaliza quem joga papel no chão, mas não o dono de um supermercado com um estacionamento asfaltado. Há uma cultura da impermeabilização”.

Para Santos, a sociedade não é obrigada a conviver com esse tipo de risco e há conhecimento técnico para isso, mas faltam conscientização e vontade política. Ele mencionou, por exemplo, os altos gastos das cidades com empresas que trabalham com o desassoreamento, e a consequente força por trás disso, o lobby.

“A qualidade humana e profissional dos homens públicos está muito aquém do que seria necessário”, afirmou. E o mesmo vale para os deslizamentos, na maioria das vezes causados pela ausência de mecanismos de regulação técnica do crescimento urbano, pela deficiência dos programas habitacionais e pela falta de cultura técnica arquitetônica e urbanística dirigida à ocupação de terrenos de alta declividade.

“Vocês não imaginam o que é morrer em um deslizamento. Existe a escala de medo e um dos maiores é ser enterrado vivo. Vocês não sabem a angústia de uma família ao saber que os filhos foram soterrados e é uma cena que não precisaria ser assistida. É um crime de responsabilidade dos políticos”.

Causas – “Infelizmente continua-se hoje a absurdamente cometer os mesmos erros básicos que estão na origem dos trágicos fenômenos das enchentes”, criticou Santos. Para ele, é preciso parar com o que foi feito de errado e trabalhar com esse passivo. “Se não fizermos isso, é como enxugar gelo”.

Assim, defendeu, é preciso interromper a cultura de jardins apenas com grama. “Mete uma floresta. Fica mais bonito e cumpre mais a função de absorver água. Sem isso, perdemos reservas porque as tendências dos lençóis freáticos nas cidades é diminuir”.

Também é necessário optar por projetos de edificações que sigam os padrões do relevo. “Qual problema de transformar tudo em plano? No trabalho de terraplanagem, você expõe o solo à erosão e os solos inferiores são menos resistentes”. Além disso, os sedimentos originados no processo de erosão acabam assoreando o sistema de drenagem, gerando mais transtornos.

Para o pesquisador, outra mudança importante é reconhecer que a concentração urbana é uma opção por comprometer menos ambientes naturais. “Devemos buscar uma medida, combinar um ambiente saudável para o homem com a concentração, e a verticalização é uma das formas de encontrar essa compatibilização porque o espraiamento está saindo muito caro para as cidades”.

Soluções – De acordo com Santos, as soluções para as enchentes compreendem três medidas estruturais – ampliação das calhas dos rios principais, desassoreamento permanente de toda a rede de drenagem e ampliação dos sistemas de drenagem construídos – e cinco passos não estruturais – parar de errar, aumentar a capacidade de retenção de água, reduzir os sedimentos, incluindo lixo e entulho, regulação técnica da expansão urbana e articulação metropolitana (trabalhar em conjunto com as cidades vizinhas).

Mas como aumentar a capacidade de retenção? Para o consultor, com calçadas, passeios, pátios, tubulações e valetas drenantes e com leis que exijam reservatórios de água da chuva em residências e empresas. “Ter a água como amiga, não como bandida, reter com a gente”, resumiu.

Como exemplos de ações, ele também sugeriu que 12% da área de cada sub-bacia hidrográfica seja obrigatoriamente coberta por bosques florestados e que as sarjetas sejam permeáveis, com caixas de cerca de um metro de profundidade preenchidas com brita, e recolham água. “As prefeituras também poderiam fazer concursos para apoiar os canteiros mais bonitos em frente às casas e dar desconto no IPTU”, exemplificou. “Isso tudo espalhado pela cidade vai cumprindo o papel, são piscininhas no lugar de piscinões”.

Outra medida é adequar os projetos de construções aos terrenos, com lotes paralelos às curvas de nível, evitando a terraplanagem, e, se ela for indispensável, estocar a parte de cima do solo para, quando a obra acabar, colocá-la nas áreas expostas.

Fonte: G1

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