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quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Quatro anos de seca resultam em medidas mais duras na Califórnia

Há três gerações a família Diener cultiva os mesmos 26 mil metros quadrados no Vale Central da Califórnia. Na década de 1920, eles produziam cevada e alfafa para alimentar as tropas de mulas que serviam aos canteiros de obras de Los Angeles. Na década seguinte, com a substituição da força animal pelos veículos a motor, passaram a cultivar o algodão usado na fabricação dos pneus de borracha.

Hoje, à medida que o estado da Califórnia se arrasta pelo quarto ano de seca, John Diener e os filhos estão começando a se dedicar à produção de cactos em suas terras.

Diener cultiva safras em uma escala tão grandiosa quanto possível no Vale Central, dedicando centenas de hectares à produção de tomates, amêndoas e brócolis orgânicos, entre outros. Mas ele não costuma pensar como a maioria dos lavradores na região. Talvez pelo fato de ser o filho caçula de um caçula e, por isso, estar acostumado a tirar o máximo de situações difíceis. Ou talvez os anos em que viveu longe do vale tenham lhe trazido a confiança de quem está habituado a se virar por conta própria.

Seja qual for o motivo, ele não põe muita esperança na construção de mais represas, na redução das restrições ambientais ou em qualquer das outras medidas com que os vizinhos estão contando a fim de obter algum alívio em termos financeiros. Meras soluções de curto prazo, descarta ele, dando de ombros. "O verdadeiro problema", diz, enquanto dirige a sua picape pela labiríntica rede de estradas poeirentas no vale, "é que não há água suficiente no sistema".

Na divisa oeste da sua propriedade, ao pé das encostas sem neve das montanhas costeiras do estado, Diener caminha pela terra ressecada entre fileiras de cactos jovens, inspecionando os brotos. Junto com pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, Diener ali plantou 8 hectares com uma variedade patenteada do cacto conhecido como figueira-da-barbária, que espera vender ou como alimento ou como suplemento nutricional rico em minerais. Embora os anos de seca tenham concentrado os sais no solo, os cactos parecem estar indo bem.

"Se for o caso, a gente planta mais", ele diz, com um sorriso. "Afinal de contas, temos de aproveitar todas as oportunidades."

A história do vale central da Califórnia é parecida com a de grande parte do Oeste americano, e com a de outras regiões desérticas ocupadas por humanos ao redor do mundo. Alteramos as regiões mais secas dos estados da Califórnia, Nevada e Arizona de modo a satisfazer as nossas ambições, e durante muitos anos não tivemos de nos preocupar com os seus limites naturais. Mas o crescimento demográfico e as mudanças climáticas estão deixando evidentes esses limites.

Agricultura em regiões desérticas

Mesmo assim, o Vale Central é, sob muitos aspectos, um paraíso para a agricultura. O solo é fértil. O clima é quente - e previsível. Mais de 300 safras distintas, desde arroz e aspargos até romãs e laranjas, prosperam no imenso leito plano do vale. Praticamente todas as amêndoas, azeitonas e nozes produzidas nos Estados Unidos são originárias do Vale Central da Califórnia.

A despeito dessa riqueza agrícola, o vale não lembra em nada um paraíso, e nos anos de seca como este, as suas deficiências são de uma obviedade ululante. A poeira sobe dos campos maninhos, muitas vezes em nuvens tão densas que obscurecem os picos recobertos de neve na Sierra Nevada, mais ao longe. A região toda parece cambalear sob um manto opressivo de pó e calor.

Aqui, nas épocas em que a chuva não passa de um intervalo afortunado, desde muito os agricultores dependem de duas fontes interligadas de água. Muitos recorrem às correntezas dos rios San Joaquin e Sacramento, cuja água é distribuída de acordo com regras que remontam ao século 19, sendo levada até as plantações por meio de uma complexa rede de dutos e canais. A maioria deles complementa esse suprimento retirando a água de lençóis freáticos: nas partes mais secas do vale, os aquíferos foram de tal modo explorados que os campos ao redor afundaram cerca de 10 metros. "O padrão de uso dos aquíferos na Califórnia serve, na prática, para definir o termo ‘insustentável’ ", afirma o hidrologista Jay Famiglietti, da Universidade da Califórnia em Irvine, que usa dados coletados por satélites para estudar os suprimentos de água.

É preciso dinheiro para cultivar a terra no Vale Central: dinheiro para o equipamento de irrigação, dinheiro para sobreviver nos anos mais secos e dinheiro para travar as incessantes batalhas políticas e jurídicas em torno do uso da água no estado. A maioria dos produtores ganha e perde em grande estilo, cultivando centenas de hectares e vendendo milhões de dólares de produtos agrícolas em cada safra. Muitos investiram em produtos lucrativos mas que demandam muita irrigação, como amêndoas e pistaches, apostando que vão receber água suficiente.À sua maneira, esses sistemas funcionam. Eles permitiram o crescimento e a manutenção de cidades como Phoenix, Las Vegas, Los Angeles e Denver. Ou seja, permitem que áreas inóspitas sejam ocupadas. E tornam viável o cultivo de alimentos em locais como o Vale Central. Ainda que ocupe pouco menos de 2% das terras cultiváveis do país, o vale gera, em termos financeiros, quase metade da receita proporcionada por frutas e castanhas nos Estados Unidos. Agora, em função das mudanças no clima, os cientistas avaliam que o Sudoeste do país deve receber menos precipitações, as quais por sua vez vão aumentar na região Noroeste.

Como em quase todo o restante do Oeste americano, os resultados agrícolas dependem menos da quantidade de chuvas e mais da quantidade de neve. A despeito de invernos por vezes rigorosos no Oeste, diminuiu o acúmulo de neve nas últimas décadas, e os especialistas acham que essa tendência vai se acentuar. "Os invernos mais quentes estão reduzindo o volume da neve armazenada nas montanhas, e também fazendo com que comece a derreter mais cedo na primavera", comenta Philip Mote, diretor do Oregon Climate Change Research Institute, vinculado à Universidade Estadual do Oregon.

Fonte: Planeta Sustentável

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