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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Ninguém sabe mais sobre o cemitério São João Batista do que uma jovem que sonhava cursar História

Layane Gadelha, de 28 anos, tem a função de apresentar as histórias do cemitério e desmistificar lendas


O sonho de estudar História vem desde muito cedo. Contudo, por problemas e coisas do destino, não foi possível fazer o curso. Mas quem disse que apenas em faculdade é possível estudar o que deseja? No caso de Layane Gadelha, isso aconteceu em um lugar muito inusitado, e para muitas pessoas, até tenebroso: o cemitério.

Há 6 anos trabalhando no local, ela iniciou no lugar como aprendiz. Logo quando chegou fez amizades com o pesquisador que tinha na época, e começou a ler sobre histórias daqueles que estão eternizados por lá, e também sobre a história da cidade.

“Eu comecei no projeto para pessoas do bairro, fazia um curso e encaminhava para o emprego. Não tinha a parte histórica aqui, o administrador anterior me incentivava bastante, e assim começou. Hoje, trabalho no setor administrativo e também como guia”, afirma.

Como guia do cemitério São João Batista, Layane recebe visitas de colégios, de curiosos e tem como principal função: desmistificar o que acontece no local.

“As pessoas chegando aqui pensando que pode ver alguma coisa sobrenatural. Outras chegam com muito medo, a curiosidade é grande, mas também tem muito preconceito. Então, apresento o lugar e acabo com esse medo. As pessoas aqui são normais, não há nada de assustador”, explica.

“Você tem medo de alma?”, “Já viu alma por aqui”, essa são alguns dos questionamentos que a jovem recebe e ela? Já bem acostumada com essas indagações, Layane leva da forma mais leve possível e explica pacientemente a todos que vão conhecer o lugar.

“Os mais novos não têm tantas lendas, mas chegam realmente mais receosos. Já as pessoas mais velhas chegam com muitos mitos e histórias sobre o que acontece dentro de um cemitério, mas em uma conversa eu consigo tirar algumas dessas dúvidas”, revela.

Uma estudante incansável sobre assunto, ela argumenta que isso tudo é questão cultural, pois aqui não é comum essa visitação, contudo na Europa e até na Argentina, já é diferente. O costume é outro.

“A cultura de visitação não é muito conhecida como na Europa e até pertinho daqui na Argentina, que tem muita gente visitando e nem é barato entrar nos cemitérios. São locais bonitos, conservados e também históricos, mas por aqui ainda existe muito preconceito com esses locais”, defende.

Mas ela não nega os vários pedidos de visitação, digamos bizarros no lugar. “Nós não podemos impedir ninguém de vir aqui, mas não aceitamos qualquer coisa. Já tiveram pessoas que pediram para fazer editorial de moda, fazer ensaios de fotos góticas, entre outras, e nós avaliamos o que achamos adequado ou não, e sempre acompanhamos de pertinho os visitantes”, esclareceu.

Portal da cidade

“Se apontar para você, aqui existem vários pessoas que deram nomes a ruas do Centro. Senador Pompeu, General Sampaio, Caio Padro, entre vários”, contou Layane, apontando para os túmulos.

Uma das histórias logo de início no cemitério, que faz parte dos túmulos perpétuos do local, é de Caio Prado. “As pedras vieram do Egito, e observa-se que é uma coluna quebrada propositalmente, pois quando ele morreu, é que o principal pilar da família se quebrou. Tudo tem uma simbologia”, conta.

Apesar da beleza do cemitério e de muitas famílias tradicionais ainda levarem seus parentes queridos para o lugar, a taxa de abandono é alta. “Infelizmente a inadimplência é alta, e com isso sofremos com abandono das lápides. Como a estrutura é grande, são muitas pessoas, famílias, mas nem todos preservam e pagam em dia”, esclareceu.

Relação com a morte

Mesmo convivendo em um ambiente que a presença da morte é uma constante, dependendo do caso, ainda é um momento difícil para ela. “Existem coisas que nos pegam pelo pé. Um dia a pessoa vem aqui, nos faz um agrado, pois recebemos muito isso aqui, e no outro ela está ali sendo velada. Então, temos que ser fortes nesse momento, pois não podemos passar fragilidade para a família, temos que passar força, mesmo sendo difícil também para quem trabalha aqui”, diz.

Também sobre isso, ela admite que como outras pessoas é um mistério. “Sabe quando chega nesse mundo e não sabe de onde vem? É assim com a morte. Ninguém sabe para onde se vai”, diz.

Sem ser praticante de nenhuma religião, Layane acredita no que existe de bom nos seres humanos. “Acredito na bondade das pessoas. E que tem alguma coisa por aí que ainda não sei o que é”, completa.

Dimensões

O cemitério São João Batista tem 645 metros, 10 hectares e 155 metros de frente e 170 metros no fundo. São 14.500 túmulos. A segurança é feita por 18 vigilantes do local e um terceirizado. A ronda é realizada durante o dia e principalmente à noite.

O cemitério São João Batista não é primeiro de Fortaleza, mas é o maior em uso. O primeiro foi o São Casemiro ou Croatá, que ficava localizado onde hoje é a Praça da Estação.

Mas a superlotação, e também a invasão da areia do morro na área fez com que outro fosse feito, e acabou povoando mais o Centro ao redor do cemitério.

Fonte: Tribuna do Ceará

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