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quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Cemitério da Saudade abriga figuras ilustres, curiosidades e história de Sorocaba

Local, fundado em 1863, tem mais de 81 mil sepultados, inclusive nos muros. Túmulos adornados chamam a atenção por seus significados.


Cemitério da Saudade é o mais antigo e tradicional de Sorocaba (SP). Fundado em 1863, tem mais de 81 mil sepultados em uma área de 39 mil m² e até nos muros que cercam o local. São 50 livros de 200 páginas registrando não apenas a passagem de entes queridos, mas também a história da cidade, que completa 363 anos da fundação nesta terça-feira (15).

O "dormitório" - significado da palavra cemitério, que vem do grego koimétêrion - ocupava metade da área que tem hoje, indo da capela central até a rua Princesa Isabel. Era fechado na frente com muros de taipa e cercado por grades fabricadas em Ipanema.

A ampliação até a praça Pedro de Toledo aconteceu somente em 1942 e a instalação do cemitério nesta região da cidade foi por uma questão de saúde, segundo o historiador José Rubens Incao.

"Antigamente os sepultamentos eram feitos nas igrejas. Surgiram as primeiras leis ainda no tempo de Dom João VI, mas efetivamente o cemitério foi construído em 1863, muito tempo depois no Alto do Piques. Ali ficavam as forcas onde escravos foram mortos, uma região alta, afastada, sem o risco de contaminação", explica José Rubens.

O primeiro sepultamento teria ocorrido em 18 de maio de 1863, entretanto o primeiro registro é datado em 22 de fevereiro de 1864. A divergência se deve ao desaparecimento do livro de sepultamentos número 1 do Cemitério da Saudade.

Simbologia
Os primeiros túmulos do Cemitério da Saudade eram valas circundadas por tijolos. Mais tarde, eles passaram a ser de alvenaria e foram ganhando revestimento, inscrições, figuras e ornamentos.

Hoje, são 7.840 sepulturas perpétuas em meio a imagens de Cristo, anjos, crucifixos, entre outros. O historiador José Rubens conta que existiam catálogos com modelos de túmulos, que refletiam as crenças e expectativas dos vivos, motivo da grande presença da arte funerária no Cemitério da Saudade.

"É a casa dos vivos refletida nos mortos. Existem muitas imagens de anjos, emissários de Deus, em diversas posturas. Há túmulos que lembram casa de avó, com caquinhos e azulejos, e os epitáfios, pequenas frases que podem ser de conforto, homenagem e alguns até bem amargos", diz José Rubens.

Epitáfio encontrado em um dos túmulos do Cemitério da Saudade, em Sorocaba

Além dos inúmeros anjos, destacam-se nos túmulos as papoulas - flores que retratam o sono e o esquecimento - e as colunas partidas. Elas representam o ser humano como fosse uma árvore que, subitamente, teve a vida interrompida.

Coluna partida representa a vida que foi interrompida (Foto: Gabriel Morelli/G1) Coluna partida representa a vida que foi interrompida 

Outro símbolo que pode ser observado no Cemitério da Saudade são as duas tochas exibidas no portão principal com as chamas de ponta cabeça. "Simbolizam a vida, invertida, mas com a chama acesa dizendo que a vida existe ali, mas de uma forma diferente da nossa", explica.

Figuras históricas

A arte funerária não é a única razão que torna os cemitérios grandes fontes de informação. Muito da história da cidade, por exemplo, está nas figuras, históricas ou não, que ali se encontram.

Em 2015, a prefeitura implantou QR Code - código que pode ser lido por um aplicativo de celular - nos principais túmulos. O visitante pode acessar instantaneamente informações detalhas sobre a pessoa sepultada.

No Cemitério da Saudade, se destaca o filho de escravos João de Camargo (1858-1942), que foi liberto e construiu a capela Senhor do Bonfim. Muitos acreditavam que ele era milagreiro e até hoje seu túmulo atrai devotos e visitantes.

O túmulo da menina Julieta Chaves também recebe homenagens constantemente. A menina, de 7 anos, foi encontrada morta com sinais de violência, em 1899, e gerou grande comoção da cidade. Ainda hoje, não é incomum encontrar bonecas, chupetas, flores e doces deixados por visitantes.

Estão ainda sepultados no Cemitério da Saudade o sacerdote e historiador Aluísio de Almeida (1904-1981), o empresário Francisco Scarpa (1855-1918), o professor Franciso de Paula Xavier de Toledo (1825-1903), o líder religioso Monsenhor João Soares do Amaral (1844-1900), entre outros.

"Por meio dos livros, dos registros dos túmulos, você tem dados como média de vida, as doenças que mais mataram na cidade. Para os historiadores, as figuras populares e para o arquiteto e pessoas ligadas à arte, os símbolos e técnicas de construção, por exemplo. Tudo isso envolve o cemitério", afirma José Rubens.

Protestantes e suicidas

Na época em que era administrado pela igreja, o Cemitério da Saudade não permitia o sepultamento de pessoas que seguiam o Protestantismo e também rejeitava quem tirava a própria vida. Os corpos dos suicidas eram descartados em áreas de mato a céu aberto.

Em 1872, um grupo de protestantes reivindicou um espaço dentro do cemitério e ganhou o direito do sepultamento no local. Os túmulos, no entanto, eram posicionados na direção contrária à Catedral Metropolitana de Sorocaba.

"A ideia de morbidez em cemitério é falta de conhecimento. O cemitério também é parte da nossa casa e tem tudo a ver com o contexto da cidade, dos vivos, da nossa vida. Ele deve ser preservado não só por seu valor histórico, mas como a nossa identidade cultural", finaliza o historiador.

Fonte: G1

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