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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Contaminações dos lençóis freáticos, artigo de Roberto Naime

Lençóis de águas podem ser freáticos ou superficiais quando controlados pela topografia e assentados em controles topográficos ou de solos e subterrâneos quando a água é armazenada em rochas e não depende de situação geomórfica local.


Além das atividades do homem, poluindo o meio ambiente, causas naturais afetam as águas subterrâneas, como a presença de teores de elementos químicos nocivos, oriundos de solos ou rochas armazenadoras chamadas aquíferos. A despoluição de um lençol freático ou subterrâneo demanda grande intervalo de tempo.

O professor Aldo da Cunha Rebouças, do Centro de Pesquisas em Águas Subterrâneas (CEPAS), da Universidade de São Paulo (USP), descobriu que e elevado flúor contido nas águas do Nordeste do Paraná e na região paulista de Águas da Prata, produz uma doença chamada fluorose, que provoca a destruição dos dentes em crianças e adultos, ao invés de protegê-los.

Também em São Paulo, em Ibirá, a presença de vanádio foi identificada pelo professor Nelson Elert nas águas da região. Trata-se de um mineral cuja absorção causa má formação congênita em crianças.

Os técnicos chamam de “causas antrópicas”, quando as atividades humanas é que provocam a contaminação das águas. São diversas as formas de contaminação, envolvendo desde organismos patogênicos, até elementos químicos como os metais pesados, caso do mercúrio e moléculas orgânicas e inorgânicas.

Conforme assinala o geólogo Luiz Amore, consultor técnico da Organização dos Estados Pan-Americanos (OEA) e da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, a possibilidade dos contaminantes atingirem os poços perfurados vai depender das características dos aqüíferos, particularmente as estruturas geológicas, a permeabilidade do solo, da transmissividade dos estratos e outros fatores.

Amore sustenta que várias fontes poluidoras já foram estudadas, e alguns casos são clássicos, “que longe de serem fenômenos isolados podem estar ocorrendo em diversas regiões do país e com intensidades diversas, infelizmente ainda pouco conhecidas”.

As águas subterrâneas localizadas nas proximidades dos grandes lixões registram a presença de bactérias do grupo coliformes totais, fecais e estreptococos.

Segundo o professor Alberto Pacheco, do CEPAS, são componentes orgânicos oriundos do chorume, que são substâncias sulfloradas, nitrogenadas e cloradas, com elevado teor de metais pesados, que fluem do lixo, se infiltram na terra e chegam aos aquíferos.

As águas subterrâneas situadas nas vizinhanças dos cemitérios são ainda mais atacadas. Águas coletadas podem revelar a presença de índices elevados de coliformes fecais, estreptococos fecais, bactérias de diversas categorias, salmonela e elevados teores de nitratos ou metais como alumínio, cromo, cádmio, manganês, bário e chumbo.

Os cemitérios, que recebem continuamente milhares de corpos que se decompõem com o tempo, são autênticos fornecedores de contaminantes de largo espectro das águas subterrâneas das proximidades. Águas que podem ser consumidas pelas populações da periferia das cidades.

Estudo de autoria do professor Aldo da Cunha Rebouças, também da equipe do CEPAS, mostra a contaminação oriunda do vazamento de tanques de armazenamento subterrâneo de gasolina em poços de abastecimento de água em residências vizinhas.

A água recolhida desses poços revelou elevados teores de benzeno e demais compostos orgânicos presentes na gasolina, como tolueno, xileno, etilbenzeno, benzeno e naftaleno.

O professor adverte para o fato de que a combustão da gasolina é autodetonante a 400 ppm (partes por milhão). Se esse combustível se infiltrar em redes de esgoto e túneis de obras de engenharia, haverá risco real de explosões de grandes proporções.

A construção e operação de poços de abastecimento d’água, próximos a fossas em zonas urbanas e rurais, pode levar à contaminação da água por patogênicos gerais e substâncias orgânicas diversas, transmitindo doenças a quem utiliza e consome a água.

Resíduos de agrotóxicos foram encontrados em animais domésticos e seres humanos que utilizaram águas subterrâneas contaminadas por agrotóxicos em Campinas, São Paulo.

O professor Ricardo Hirata, da equipe do CEPAS, autor da descoberta, diz que a contaminação resultou tanto de substâncias aplicadas incorretamente na plantação, como oriunda de embalagens enterradas com resíduos de defensivos agrícolas.

Em ambos os casos houve a infiltração e o acesso dos agrotóxicos aos aquíferos. O uso indevido de fertilizantes também afeta as águas subterrâneas.

Segundo o professor Aldo Rebouças, substâncias fosforadas e nitrogenadas, que provocam a doenças em crianças, podem acessar os sistemas aquíferos, com a desvantagem de que são de difícil remoção.

Na região de Novo Horizonte, em São Paulo, centro produtor de cana-de-açúcar, a aplicação de vinhaça resultante da destilação do álcool, como fertilizante, provocou a elevação do pH e consequente remoção do alumínio e ferro do solo, que foram se misturar às águas subterrâneas.

Os aquíferos também são contaminados pela disposição irregular de efluentes de curtumes no solo, fato observado pelo professor Nelson Elert nos centros produtores de calçados.

Segundo ele, os resíduos de curtume dispostos no solo provocam a entrada de cromo, valência +6 e de organoclorados, afetando a qualidade dos lençóis subterrâneos.

As águas subterrâneas de Cubatão, em São Paulo, que já foi considerada a cidade mais poluída do Brasil, não podiam escapar à ação dos contaminantes.

A técnica Dorothy Casarini, da CETESB, a agência ambiental do governo paulista, diz que aterros não controlados por indústrias químicas da região resultaram em mortes e contaminação carcinogênica, inclusive no leite materno.

No caso de Cubatão, o agente contaminante foram Bifenilas Policloradas (PCB), cujos rejeitos, depositados no solo sem qualquer tratamento, se infiltraram e danificaram as águas subterrâneas.

Em Minas Gerais, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e em Campinas, São Paulo, a proximidade de aterros industriais clandestinos está contaminando as águas por resíduos industriais ou pela presença de atividades mineradoras.

Referência:


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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