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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Sudeste entra na estiagem com menos água do que em 2014, diz Paulo Nobre

Meteorologista do Inpe discutiu a crise hídrica na região, durante conferência da 67ª Reunião Anual da SBPC, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)


O meteorologista Paulo Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), abordou, nesta sexta-feira (17), a problemática da seca no Sudeste, em conferência da 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), UFSCar, em São Carlos (SP).

“Nós estamos entrando na fase seca da região Sudeste, em agosto, com menos água do que nós entramos na do ano passado. Quão menos água na torneira isso significa nós vamos ver no final da estação”, alertou Nobre. “Temos uma situação nacional muito grave. Existe um déficit no total de chuva no Brasil. Em cima dessa condição, nós tivemos a crise hídrica de 2014 a 2015.”

Ele comparou o cenário de estiagem à administração de contas bancárias pessoais: “Inicialmente, você subtrai o que gasta do que recebe. Se acontecer algum imprevisto e você gastar mais do que recebe, fica com um déficit. Se no mês seguinte você receber mais do que gastar, o débito pode ser compensado. Mas se tiver um novo gasto mensal superior ao seu rendimento, você acumula um déficit. Em algum tempo, nesse ritmo, a sua dívida vai aumentando.”

A partir do conceito financeiro, o Inpe elaborou um balanço pluviométrico por região, com índices de metros cúbicos (m³) de água por metro quadrado (m²) de território. “Sabe quando acaba o salário e ainda tem mês para viver? Então, no Norte, no Nordeste e no Sudeste, digamos que a água termina antes do mês”, disse o pesquisador. “Não aconteceu nada com essa água. Ela não fez crescer planta, ninguém a bebeu, não foi para a agricultura nem para a indústria. Simplesmente não choveu e ela não entrou no ciclo hidrológico.”

Extremos

Nobre apresentou dados do Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (BESM, na sigla em inglês), que prevê para os próximos anos períodos de estiagem na América do Sul como um todo, associados ao aumento na recorrência de dias com precipitação intensa em determinadas regiões. “Nosso modelo nos diz que enchentes vão se tornar ainda mais frequentes, mas também que o total de chuvas tende a diminuir no Sudeste, no Nordeste e na Amazônia”, informou.

Diante do cenário, de acordo com o palestrante, a preparação para os períodos de estiagem passa por recuperação hídrica. “Pelo nosso conhecimento atual, as florestas são um elemento fundamental para o ciclo meteorológico. Elas são essenciais para fazer chover e para que a chuva entre no sistema de recarga dos aquíferos”, explicou. “Quando a precipitação ocorre sobre uma área florestada, ela tem um escoamento lento e leve, que contribui ao dar tempo de a água percolar. Assim, o líquido atravessa o solo poroso e atinge o destino.”
Segundo o pesquisador, a eliminação da cobertura vegetal em torno das cidades dificulta a convivência da população com os extremos do clima. “As florestas são o nosso maior capital de seguro para aumentar a resiliência às variações climáticas, que não conseguimos controlar”, apontou. “Como podemos nos prevenir? Fazendo, por exemplo, o que fez o município de Extrema (MG), que passou a reflorestar as matas ciliares ao longo dos seus ribeirões. Durante a chamada crise hídrica, os rios de lá não secaram.”

Na opinião de Nobre, a crise hídrica no Sudeste teve como lado positivo o fato de despertar governo e sociedade para a possibilidade de as influências no ciclo da natureza tornar inviável o modo de vida atual. “Nós acordamos para a realidade de que temos um grande patrimônio e não compreendemos o seu valor”, afirmou. “O evento nos alertou para a condição crítica que temos em mãos.”

A conferência foi apresentada pelo agrônomo e engenheiro florestal José Antônio Aleixo da Silva, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia da UFSCar (CCET).

Fonte: EcoDebate

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