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quarta-feira, 19 de junho de 2013
Pauta dos protestos em Santa Catarina vai além do preço do transporte coletivo
A insatisfação generalizada da população culminou com manifestações que espalham pelo Brasil
Desde 2005, quando Florianópolis viveu a Revolta da Catraca, Santa Catarina não era palco de uma manifestação semelhante nascendo da vontade da população. O movimento deu corpo aos protestos espalhados pelo país que começaram em São Paulo no dia 13 de junho. No Brasil, a motivação inicial era o aumento de R$ 0,20 na tarifa de ônibus da cidade. Seis dias depois, os protestos agregaram assuntos tanto regionais quanto de interesse nacional.
Apesar de ter sido precursora dos movimentos de passe livre em 2005, Florianópolis só recebeu os primeiros manifestos na noite de terça-feira. Para o professor do departamento de história da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Waldir Rampinelli, isso não pode ser considerado um grande problema já que a capital catarinense teria iniciado os protestos caso a tarifa de ônibus tivesse sido reajustada há uma semana. Como isso não ocorreu, as primeiras manifestações surgiram com destaque nas cidades que receberam os jogos da Copa das Confederações, locais onde se discute o superfaturamento das obras dos estádios. “O povo não briga por R$ 0,20. Uma das discussões é, por exemplo, a falta de transparência da Fifa, entidade que está totalmente desacreditada em todo o mundo”, pontuou o professor.
Para ele, todos os manifestos espalhados pelo Brasil são reflexo da saturação do modelo atual de democracia. “É o esgotamento dessa democracia representativa, onde a população assina um cheque em branco durante quatro anos para seus governantes. As pessoas não querem mais essa situação”, afirmou o professor, destacando que esse é o momento de se escrever uma nova história para o país.
Apesar de os manifestos terem iniciado por causa do aumento das tarifas em São Paulo, o professor destaca que cada região tem suas próprias considerações. Para ele, em Florianópolis certamente aparecerão nas próximas caminhadas discussões sobre a qualidade do ensino fundamental; a luta de motoristas e cobradores; a falta de vagas no ensino superior e o caótico trânsito de Florianópolis. “No país a gota d'água foram os gastos excessivos com a Copa do Mundo, ninguém mais aceita ter um estádio perfeito enquanto não há sequer um remédio no posto de saúde. Até mesmo os salários astronômicos pagos aos jogadores de futebol não são mais aceitos”, exemplificou.
A luta, segundo Rampinelli, é das classes média e pobre contra os soberanos. “Estarão nos protestos representantes da classe média, da classe pobre, estudantes, aposentados e também os integrantes de movimentos sociais”, afirmou.
Políticos pegos de surpresa
A insatisfação crescente da população culminou em protestos espalhados pelo Brasil mexeram diretamente com a estrutura das próximas eleições e do cenário político brasileiro. O cientista político Eduardo Guerini garante que a crise instaurada culminará em riscos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Segundo Guerini, todos os políticos brasileiros foram pegos de surpresa com os manifestos. Nenhum deles imaginava a proporção que a força popular teria. “Podemos parafrasear o ex-presidente Lula e dizer que ‘nunca antes na história deste país’ se viu tamanho protesto”, afirmou o cientista político destacando que os manifestos no país podem ser comparados aos panelaços na Argentina em 2012 e até mesmo à primavera árabe que, para ele no país pode ser chamado de “outubro brasileiro”. Devido à surpresa feita pela população, Guerini acredita que nenhum político tenha se manifestado até o momento. “Eles ainda estão escondidos, mas terão que aparecer para mostrar a que vieram. Se não fizerem isso, estarão condenados ao ostracismo político”, afirmou.
Para ele, a partir de agora a política brasileira viverá um novo momento. “Há um rebaixamento e uma perda de encanto quanto aos políticos. A vaia à presidente durante a abertura da Copa das Confederações foi um simbolismo do esgotamento da população quanto à corrupção e ao fato dos políticos legislarem em causa própria”, explicou.
O descrédito com todos os partidos políticos é, para Guerini, representado nos manifestos quando a população reprime aqueles que chegam com bandeiras partidárias.
Redes sociais revolucionam a organização das manifestações
Pela primeira vez na história das manifestações brasileiras a Internet transformou-se no meio fundamental para a organização e manutenção das discussões. O protesto realizado ontem em Florianópolis teve base nas redes sociais. Até o começo da noite, 13.500 pessoas haviam confirmado a participação na caminhada.
Durante toda a manhã e tarde, debates aconteceram entre os participantes do grupo. Os assuntos votados na rede estavam o itinerário que os populares seguiriam; a possibilidade de levar bandeiras partidárias; e os motivos do protesto. Para a cientista social e especialista em redes sociais, Tamara Benakouche, esse tipo de organização prova que a tecnologia está se reinventando. Ela destaca que a Internet foi criada com fins militares e que hoje se transformou em uma maneira de unir a população. “As pessoas estão mais informadas e a Internet é fundamental para ampliar esse tipo de debate”, esclareceu a cientista social.
Outro ponto importante do uso das redes sociais durante manifestações como as que estão ocorrendo no Brasil, segundo a cientista, é a complementaridade das informações. “Na Internet a discussão nunca termina. Os manifestos nas ruas têm um momento para terminar, mas eles continuam o dia inteiro na rede”, afirmou, lembrando também a importância das imagens e vídeos feitos pelos manifestantes. Essa produção audiovisual, destacou Tamara, é importante para que pessoas de todo o país conheçam a realidade local e nacional dos protestos.
Fonte: Notícias do Dia
Desde 2005, quando Florianópolis viveu a Revolta da Catraca, Santa Catarina não era palco de uma manifestação semelhante nascendo da vontade da população. O movimento deu corpo aos protestos espalhados pelo país que começaram em São Paulo no dia 13 de junho. No Brasil, a motivação inicial era o aumento de R$ 0,20 na tarifa de ônibus da cidade. Seis dias depois, os protestos agregaram assuntos tanto regionais quanto de interesse nacional.
Apesar de ter sido precursora dos movimentos de passe livre em 2005, Florianópolis só recebeu os primeiros manifestos na noite de terça-feira. Para o professor do departamento de história da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Waldir Rampinelli, isso não pode ser considerado um grande problema já que a capital catarinense teria iniciado os protestos caso a tarifa de ônibus tivesse sido reajustada há uma semana. Como isso não ocorreu, as primeiras manifestações surgiram com destaque nas cidades que receberam os jogos da Copa das Confederações, locais onde se discute o superfaturamento das obras dos estádios. “O povo não briga por R$ 0,20. Uma das discussões é, por exemplo, a falta de transparência da Fifa, entidade que está totalmente desacreditada em todo o mundo”, pontuou o professor.
Para ele, todos os manifestos espalhados pelo Brasil são reflexo da saturação do modelo atual de democracia. “É o esgotamento dessa democracia representativa, onde a população assina um cheque em branco durante quatro anos para seus governantes. As pessoas não querem mais essa situação”, afirmou o professor, destacando que esse é o momento de se escrever uma nova história para o país.
Apesar de os manifestos terem iniciado por causa do aumento das tarifas em São Paulo, o professor destaca que cada região tem suas próprias considerações. Para ele, em Florianópolis certamente aparecerão nas próximas caminhadas discussões sobre a qualidade do ensino fundamental; a luta de motoristas e cobradores; a falta de vagas no ensino superior e o caótico trânsito de Florianópolis. “No país a gota d'água foram os gastos excessivos com a Copa do Mundo, ninguém mais aceita ter um estádio perfeito enquanto não há sequer um remédio no posto de saúde. Até mesmo os salários astronômicos pagos aos jogadores de futebol não são mais aceitos”, exemplificou.
A luta, segundo Rampinelli, é das classes média e pobre contra os soberanos. “Estarão nos protestos representantes da classe média, da classe pobre, estudantes, aposentados e também os integrantes de movimentos sociais”, afirmou.
Políticos pegos de surpresa
A insatisfação crescente da população culminou em protestos espalhados pelo Brasil mexeram diretamente com a estrutura das próximas eleições e do cenário político brasileiro. O cientista político Eduardo Guerini garante que a crise instaurada culminará em riscos para a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Segundo Guerini, todos os políticos brasileiros foram pegos de surpresa com os manifestos. Nenhum deles imaginava a proporção que a força popular teria. “Podemos parafrasear o ex-presidente Lula e dizer que ‘nunca antes na história deste país’ se viu tamanho protesto”, afirmou o cientista político destacando que os manifestos no país podem ser comparados aos panelaços na Argentina em 2012 e até mesmo à primavera árabe que, para ele no país pode ser chamado de “outubro brasileiro”. Devido à surpresa feita pela população, Guerini acredita que nenhum político tenha se manifestado até o momento. “Eles ainda estão escondidos, mas terão que aparecer para mostrar a que vieram. Se não fizerem isso, estarão condenados ao ostracismo político”, afirmou.
Para ele, a partir de agora a política brasileira viverá um novo momento. “Há um rebaixamento e uma perda de encanto quanto aos políticos. A vaia à presidente durante a abertura da Copa das Confederações foi um simbolismo do esgotamento da população quanto à corrupção e ao fato dos políticos legislarem em causa própria”, explicou.
O descrédito com todos os partidos políticos é, para Guerini, representado nos manifestos quando a população reprime aqueles que chegam com bandeiras partidárias.
Redes sociais revolucionam a organização das manifestações
Pela primeira vez na história das manifestações brasileiras a Internet transformou-se no meio fundamental para a organização e manutenção das discussões. O protesto realizado ontem em Florianópolis teve base nas redes sociais. Até o começo da noite, 13.500 pessoas haviam confirmado a participação na caminhada.
Durante toda a manhã e tarde, debates aconteceram entre os participantes do grupo. Os assuntos votados na rede estavam o itinerário que os populares seguiriam; a possibilidade de levar bandeiras partidárias; e os motivos do protesto. Para a cientista social e especialista em redes sociais, Tamara Benakouche, esse tipo de organização prova que a tecnologia está se reinventando. Ela destaca que a Internet foi criada com fins militares e que hoje se transformou em uma maneira de unir a população. “As pessoas estão mais informadas e a Internet é fundamental para ampliar esse tipo de debate”, esclareceu a cientista social.
Outro ponto importante do uso das redes sociais durante manifestações como as que estão ocorrendo no Brasil, segundo a cientista, é a complementaridade das informações. “Na Internet a discussão nunca termina. Os manifestos nas ruas têm um momento para terminar, mas eles continuam o dia inteiro na rede”, afirmou, lembrando também a importância das imagens e vídeos feitos pelos manifestantes. Essa produção audiovisual, destacou Tamara, é importante para que pessoas de todo o país conheçam a realidade local e nacional dos protestos.
Fonte: Notícias do Dia
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