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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Combater fome no Brasil com insetos é ideia extrema, dizem cientistas

As Nações Unidas recomendam: o consumo de insetos e as florestas onde eles vivem são ferramentas de combate a fome. O assunto está na pauta da Conferência da FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, que começa neste sábado (15), em Roma.
Mas essa proposta esbarra em uma questão cultural e, no Brasil, a viabilidade é questionável. “O México vende gafanhotos em lata. Na China, tem churrasco de escorpião. Para nós (brasileiros) é difícil. Vai ser complicado. Vai demorar alguns anos”, comenta a bióloga Waleska Bretas, da Univale, em Minas Gerais.

A mudança de padrão no Brasil ocorreria “só mesmo em caso de necessidade extrema ou costume”, avalia Bretas. “Como em algumas populações indígenas da Amazônia, que já comem larvas de coqueiros e besouros”, adiciona.

Existem, no entanto, outras maneiras de usar a floresta como aliada para alimentar a população, defende Yeda Maria Malheiros, pesquisadora da Embrapa há 35 anos no Paraná. “E estamos perto de uma revolução”, afirma. A solução que o Brasil testa é integrar as matas e as áreas cultiváveis para produzir comida sem degradar o meio ambiente.

Agrofloresta - Para Yeda, a solução pode estar no programa Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que incentiva produtores rurais a cultivar de forma sustentável na própria terra. A lei foi sancionada em abril deste ano e passa a valer a partir de novembro. A Embrapa vai fornecer toda a tecnologia para provar que a diversificação de culturas e o replantio de florestas podem melhorar a qualidade da produção rural e gerar lucros.

O programa quer, na verdade, manter a agricultura e evitar que a mata nativa se acabe – uma forma indireta de usar as florestas no combate a fome. Na visão da Embrapa, essa é a resposta do Brasil frente à crescente demanda mundial por alimentos.

Embora reconheça muitas vantagens no método, o engenheiro agrônomo Alexandre Sylvio acha difícil conciliar floresta e lavoura. “Isso seria mais viável para pequenas comunidades, aldeias. Não dá para sustentar São Paulo num sistema agroflorestal. O que é possível fazer é aumentar a produtividade sem desmatar mais. Já desmatamos o suficiente”, pondera.

Outro problema na efetivação da agrofloresta seria a ausência de mão de obra rural. “Na década de 1950, tínhamos uma pessoa produzindo alimento para 20 pessoas. Hoje temos uma para 150. E na agrofloresta tudo tem que ser manual e você produz menos. Se você produz menos, o preço dispara”, argumenta Alexandre.

Historicamente, floresta e agricultura no Brasil têm problemas de convivência. No Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, parte da vegetação típica da região desapareceu. A paisagem foi modificada, a transformação foi nítida, mas gerou resultados econômicos para os agricultores. “O Cerrado suporta muita seca, tem frutas, bichos, só que em quantidade pequena. Como fonte de alimento, não atenderia a demanda que temos”, explica Nery Ribas, diretor técnico da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho).

Restam 62% de Cerrado no Mato Grosso. A atividade agrícola estaria ocupando o mínimo de território, que também é dividido com os índios. “Qualquer expansão a partir de agora vai se dar em cima de área de pastagem, sem derrubar uma árvore sequer”, prevê o diretor. O esquema de lavoura no Mato Grosso é por revezamento. Entre janeiro e fevereiro, planta-se o milho, que é colhido em meados julho. Em agosto, sobre a palha das espigas, vem a soja.

As safras seguem em volumes cada vez maiores, de acordo com a associação. Todos os anos, são cerca de 50 sacas de 60 quilos, ou seja, três toneladas por hectare, sendo que a soja já ocupa oito milhões de hectares no estado.

Potencial brasileiro – Pelas contas da União, o Brasil tem hoje 500 milhões de hectares de florestas, o que equivale a 56% do território nacional. Os biomas são diferentes, mas têm a mesma grandeza: uma variedade imensa de plantas e animais que poderiam servir de comida, principalmente para os moradores do campo. “Não tem como não olhar para a floresta com um uso importante, ainda que esse uso tenha sido convertido apenas para fins urbanos”, lembra Yeda.

Além de toda essa diversidade, a estimativa é de que existam 30 milhões de hectares de pastagens degradadas, onde poderia haver criação de gado e cultivos de todo tipo. Aos poucos, a pesquisadora da Embrapa acredita que esses espaços vão ser mais bem aproveitados e a monocultura vai deixar de ser prioridade diante de desafios maiores: matar a fome do mundo e evitar o caos do clima.

Fonte: UOL

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