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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Brasil terá primeiro teste clínico com células embrionárias

Pacientes afetados pela principal doença causadora de cegueira entre idosos deverão ser os primeiros brasileiros a receber uma terapia baseada em células-tronco embrionárias, provavelmente no ano que vem.

Detalhes do projeto, uma parceria entre a Universidade do Sul da Califórnia e a Unifesp, serão apresentados na reunião da Fesbe (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), que começa hoje em Caxambu (MG).

“É um teste inicial que vai avaliar apenas a segurança, mas pelo menos é algo promissor para doenças que não têm tratamento eficaz”, disse à Folha o oftalmologista Rodrigo Brant, da Unifesp.

O alvo da estratégia é a degeneração macular relacionada à idade, que costuma afetar maiores de 65 anos.

Tudo começa numa camada de células conhecida como epitélio pigmentar. Colada à retina, ela é responsável pela “faxina” de subprodutos das células da retina. “Depois de uma certa idade, às vezes ela deixa de funcionar como deveria”, diz Brant.

Resultado: acúmulo dessa “tralha” celular, atrapalhando a visão, chegando a tornar a pessoa incapaz de ler.

O que os pesquisadores descobriram é que as células-tronco embrionárias (obtidas de embriões com poucos dias de vida e com a capacidade de assumir a função de qualquer tecido do corpo) podem se transformar em epitélio pigmentar sem praticamente nenhuma intervenção extra.

Após anos de cultivo dessas células in vitro, já existem até linhagens (“famílias” celulares) comerciais de epitélio pigmentar, conta ele. “São elas que nós deveremos usar, até para manter a padronização com nossos colegas da Califórnia”, diz Brant.

Os embriões humanos a partir dos quais elas foram derivadas foram destruídos nos EUA há anos – embriões descartados no Brasil não serão usados na pesquisa. Aqui, só embriões inviáveis ou congelados por mais de três anos em clínicas de fertilização podem ser usados em estudos.

Teste brasileiro – Brant explica que, graças à sua participação no desenvolvimento da terapia na Califórnia e a um tratado de cooperação entre o Estado americano e o CNPq (órgão federal de fomento à pesquisa no Brasil), surgiu a chance de testar a abordagem no Brasil.

A aprovação inicial por parte da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) já foi dada, conta ele.

Quinze pacientes serão recrutados pela Unifesp. As células serão colocadas cirurgicamente no olho, envoltas por uma membrana especial.

Os pesquisadores vão verificar, por exemplo, se as células migram ou formam tumores – risco associado a células de origem embrionária.

Testes com as células já foram feitos nos EUA, com resultados modestos. Para Brant, a diferença é que, nesses casos, elas foram só injetadas no olho. “Como são células com ‘lado’ certo para funcionar, temos de colocá-las por cirurgia. Os resultados com animais, no nosso caso, foram animadores.” 

Fonte: Folha.com

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