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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Rio de Janeiro é uma das cidades mais expostas a mudanças climáticas

Nos próximos 30 anos, a cidade do Rio Janeiro é a que mais sofrerá, entre os municípios do Estado, com o aumento do nível do mar, chuvas intensas, inundações, perda de biodiversidade, além do aumento de casos de doenças causadas pelas mudanças climáticas.

Esse prognóstico faz parte de um estudo inédito realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz, que mediu o grau de vulnerabilidade da população do Rio de Janeiro diante das mudanças previstas para os próximos 30 anos. Para os pesquisadores, o mapa da vulnerabilidade pode auxiliar governos a criar políticas públicas para amenizar os efeitos dessas transformações.

“O mapa aponta a vulnerabilidade e o gestor público local pode avaliar, além de desenvolver uma ação para reduzi-la. Como apontamos os fatores mais relevantes, é possível priorizar ações onde essa vulnerabilidade é maior”, conta Martha Barata, coordenadora do projeto.

Com a mudança climática, problemas já existentes vão se tornar mais intensos. A lista inclui aumento de casos de dengue e leptospirose, número elevado de mortes causadas por eventos climáticos, como deslizamentos e enchentes, a perda da biodiversidade e de parte da agricultura.

A pesquisa apontou que os municípios da macrorregião metropolitana do Rio de Janeiro, da qual fazem parte Niteroí, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Magé e Duque de Caxias, serão os mais atingidos.

O Índice de Vulnerabilidade Geral foi calculado a partir de três indicadores e associado ao Índice de Cenários Climáticos, produzidos com base nos modelos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e relaciona aumento de temperatura e precipitações. “O estudo possibilita fazer uma avaliação, dizer quais são as áreas mais vulneráveis no Estado e porque elas são mais vulneráveis, se é por conta do indicador de saúde, ambiental ou social”, afirma Barata.

Impactos para a população – Para diminuir os impactos previstos, as informações geradas pelo estudo precisam ser aplicadas com cautela, levando em consideração as diferenças dentro dos próprios municípios. “Depende de como esse mapa vai ser trabalhado, como instrumento para auxiliar a construção e desenho de uma política. Eles (estudos do tipo) são sempre úteis, mas é preciso ter cuidado”, reforça Antonio Miguel Vieira Monteiro, pesquisador do Inpe.

Monteiro cita como exemplo as diferenças entre a zona norte e a zona sul do Rio de Janeiro. “Quando agrego isso a nível municipal estou fazendo uma média, dando uma resposta meio global para uma situação que se materializa no local”, acrescenta.

A pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz é pioneira na abrangência de dados relacionados às mudanças climáticas com foco na análise municipal. Mas o tema motiva diversas pesquisas no Brasil.

O Núcleo de Estudos da População da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também se debruça sobre o assunto. “Realizamos várias iniciativas de avaliação de vulnerabilidades em nível interurbano ou metropolitano. Além disso, os nossos trabalhos podem ser definidos como principalmente abordando a vulnerabilidade sociodemográfica, com a consideração de fatores específicos em diferentes trabalhos, como declividade e riscos geotécnicos”, diz Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Nepo.

Assim como Barata, Carmo também reafirma a importância desses estudos. “Com a identificação desses grupos, e o entendimento sobre quais são os elementos definidores de suas vulnerabilidades, podemos subsidiar políticas públicas que sejam efetivas para diminuir os efeitos das variações climáticas”, reforça.

Falhas estruturais – Para Carmo, as cidades no País não foram construídas e organizadas para enfrentar questões ambientais. Lugares impróprios, como encostas íngremes e várzeas dos rios foram ocupadas por ser a única opção de moradia para a população de baixa renda.

Apesar das mudanças climáticas serem um tema frequente, até hoje ainda não fazem parte das decisões políticas e, principalmente, das relacionadas aos problemas antigos de urbanização, afirma o pesquisador.

“Se não enfrentarmos esses problemas de maneira ampla e profunda, com uma política habitacional responsável e sustentável, continuaremos assistindo aos mesmos problemas decorrentes das variações climáticas, que devem se acentuar nesse contexto de mudanças ambientais globais que se anuncia”, ressalta Carmo.

Martha Barata acredita que o País tenha condições para enfrentar as mudanças. “Mas temos que investir mais”, finaliza. 

Fonte: Terra

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