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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Cativeiro pode abalar psicológico das orcas e criar animais violentos

Será que alguns dos animais mais sociáveis, inteligentes e carismáticos do planeta devem ser mantidos em cativeiro por seres humanos?

Essa é uma pergunta que tem sido feita com mais frequência do que nunca tanto pelos cientistas quanto pelos defensores do bem-estar animal, às vezes com relação a parentes próximos dos humanos, como os chimpanzés e outros grandes símios, mas também quanto a outro animal que chama atenção pela inteligência e organização social complexa: a “baleia assassina”, também conhecida como orca.

As orcas, encontradas em todos os oceanos do mundo, já foram tão desprezadas quanto os lobos. Porém, nos últimos 50 anos, esses elegantes predadores preto-e-brancos – uma ameaça para as focas e outras presas quando cruzam os oceanos, mas muitas vezes amigáveis com os seres humanos – se juntaram ao panteão dos animais mais adorados, juntamente com os populares ursos polares, elefantes e leões.

Com uma expectativa de vida próxima a dos humanos, as orcas têm fortes laços familiares, comunicação vocal elaborada e estratégias cooperativas de caça. Além disso, sua beleza e força, combinadas a uma vontade de trabalhar junto aos seres humanos, fizeram com que elas se tornassem artistas lendárias em parques aquáticos desde que começaram a ser capturadas e expostas na década de 1960. Elas não são mais retiradas do meio quando jovens para serem criadas e treinadas, mas são mantidas em cativeiro nos Estados Unidos antes de serem expostas publicamente em parques aquáticos.

Alguns cientistas e ativistas têm combatido há anos a ideia de mantê-las em recintos artificiais e treiná-las para fins de exposição. Eles defendem ambientes mais naturais, como baias colocadas no próprio mar, bem como o fim da reprodução em cativeiro e do uso de orcas no que os críticos chamam de entretenimento e no que os parques aquáticos chamam de educação.

Agora, a polêmica se intensificou com o filme documentário Blackfish (Peixe Negro) e o livro Death at SeaWorld (Morte no SeaWorld, de David Kirby, que acaba de ser publicado). Tanto o filme quanto o livro focam na morte de Dawn Brancheau, treinadora do SeaWorld, em Orlando, na Flórida (EUA), ocorrida em 2010. Ela foi arrastada para debaixo d’água por uma baleia chamada Tilikum, que havia se envolvido em duas mortes anteriores.

O evento levou a duas citações por violações de segurança emitidas pela Administração de Segurança e Saúde no Trabalho por conta da falta de segurança no ambiente de trabalho seguro, e a uma luta contínua para que os requisitos da entidade estabelecessem uma distância entre os formadores e as baleias assassinas. O SeaWorld foi multado pela última vez em junho, e o parque está apelando de ambas as decisões.

Tanto o livro quanto o filme argumentam que as ações de Tilikum foram deliberadas e que o comportamento do animal foi resultado do dano psicológico provocado pelo cativeiro, não apenas no SeaWorld, mas também em outro local onde a baleia foi mantida inicialmente. Para o SeaWorld, a morte foi um acidente, não um assassinato deliberado.

Além da morte de Brancheau e das discussões sobre como o SeaWorld administra suas instalações, há ainda um desacordo fundamental quanto a se as orcas e outros cetáceos – grupo de mamíferos marinhos que inclui baleias, golfinhos e botos – deveriam ser mesmo mantidos em cativeiro.

Trata-se de um debate que lembra, em muitos aspectos, o movimento para transferir todos os chimpanzés cativos para santuários, que recentemente obteve duas conquistas importantes, quando o Instituto Nacional de Saúde decidiu aposentar a maioria de seus chimpanzés e o Serviço de Pesca e Vida Selvagem propôs classificar todos os chimpanzés como ameaçados de extinção, impondo novos obstáculos a testes.

A situação das “baleias assassinas”, no entanto, é diferente. Há bem menos delas em cativeiro – um total de 45 em todo o mundo, de acordo com a organização Whale and Dolphin Conservation – e milhares de pessoas passaram a adorá-las, em parte por causa das próprias exposições em parques aquáticos como o SeaWorld que tanto incomodam aqueles que se opõem a manter as baleias em cativeiro. Vários estudos científicos sobre os mamíferos marinhos também têm sido realizados nesses parques.

Porém, até mesmo alguns cientistas que trabalharam com golfinhos em cativeiro mantêm as orcas separadas por causa do tamanho do animal, do alcance dos seus movimentos em meio natural, e da natureza coesa de seus grupos sociais.

Diana Reiss, do Hunter College, que estudou o auto reconhecimento entre golfinhos em cativeiro, e que não esteve envolvida no filme Blackfish, disse que a questão da manutenção de animais como golfinhos em cativeiro é importante e deve ser discutida.

No entanto, Reiss não acha que o caso levanta tantas dúvidas. “Eu nunca achei que devíamos manter as orcas em cativeiro”, disse. “Acho que isso é errado tanto em um sentido moral quanto em termos científicos.”

O animal em questão, a Orcinus orca, é, na verdade, o maior dos golfinhos que existem. Seu nome, aparentemente, não se origina da ideia de ela ser uma baleia violenta, mas do fato de que ela caçava baleias.

A espécie como um todo tem uma alimentação variada, sendo que alguns grupos se especializam na ingestão de peixe, e outros preferem as focas. Já se teve notícia de que o animal come também pinguins e outras aves marinhas, ocasionalmente lulas e tartarugas, e até mesmo alces e veados aquáticos.

Os machos podem chegar a 10 metros de comprimento e pesar até uma tonelada. As fêmeas são menores, podendo chegar a até 7.500 quilos, mas vivem por mais tempo. Enquanto os machos vivem em média cerca de 30 anos e podem chegar a 60, as fêmeas normalmente vivem cerca de 50 anos, mas podem chegar a 90. Os animais vivem em grupos ou aglomerados familiares, geralmente indo de um casal até 15 animais juntos, embora possam se juntar temporariamente em grupos de 200 ou mais.

Elas podem ser encontradas em várias partes do mundo, e os seus subgrupos diferem em termos de alimentação, comportamento e características físicas. Um subgrupo que vive no noroeste do Pacífico, conhecido como a população residente do sul, é listada como ameaçada sob a Lei das Espécies Ameaçadas dos Estados Unidos.

As orcas podem viajar grandes distâncias. “Elas podem percorrer 160 quilômetros em um dia”, disse Lori Marino, pesquisadora da Universidade de Emory, que trabalhou com Reiss e um ativista, que aparece em Blackfish e é contra a criação de golfinhos e orcas em parques aquáticos.

As orcas têm cérebro complexo, e o comportamento dos diferentes grupos são tão diversos que os cientistas falam sobre elas como tendo diferentes culturas.

A oposição à manutenção desses animais em cativeiro é baseada em parte em evidências de que elas são inteligentes, sociáveis e percorrem longas distâncias. Esses fatos, assim como o princípio de que os seres humanos devem proporcionar uma boa vida às orcas que vivem em cativeiro, não são muito contestados.

Os opositores do cativeiro citam uma série de problemas físicos e psicológicos vivenciados pelas orcas, incluindo comportamentos repetitivos, problemas dentários e ataques a treinadores, como o que vitimou Brancheau.

No entanto, aqueles que se opõem ao cativeiro reconhecem que os animais, para sua própria segurança, não podem simplesmente ser soltos na natureza, e por isso não estão pedindo o fechamento do SeaWorld ou outros parques aquáticos. Em vez disso, dizem eles, eles gostariam que os parques mantivessem as orcas em ambientes maiores e mais naturais, como espécies de baias fechadas por redes colocadas em áreas costeiras do oceano.

Naomi Rose, bióloga especializada em baleias que está deixando a Humane Society dos Estados Unidos para ingressar no Instituto do Bem-Estar Animal, foi coautora de um artigo publicado pela Humane Society em 2011, no qual expressou sua oposição à manutenção de orcas em cativeiro. Segundo ela, a criação de santuários para orcas é “perfeitamente viável”, e pode e deve ser feita por empresas como o SeaWorld, que tem 22 orcas, quase a metade do total que vive em cativeiro.

A Merlin Entertainment, que possui parques de diversões como a Legoland e alguns aquários de vida marinha, principalmente na Europa, tem explorado a possibilidade de criar um santuário para golfinhos-nariz-de-garrafa junto à Whale and Dolphin Conservation. Cathy Williamson, gerente do programa de cativeiros da organização, disse ter sido “bastante complicado” encontrar um local na Europa onde uma grande área natural, uma enseada ou baía, pudesse ser reservada. No entanto, segundo ela, é possível delimitar “uma área de ótimo tamanho com uma rede, de modo que as baleias permaneçam em cativeiro, mas não estejam fazendo acrobacias para os turistas verem”. O mesmo tipo de santuário também poderia funcionar para as orcas, disse ela.

No entanto, tanto o SeaWorld quanto a Associação de Zoológicos e Aquários dizem que esses santuários seriam apenas uma solução para um problema que não existe. A associação tem 222 membros, sendo 212 dos Estados Unidos, incluindo os parques SeaWorld em Orlando, San Antonio e San Diego.

A organização define os padrões de acreditação de acordo com requisitos de bem-estar físico, social e psicológico dos animais. “Isso seria verdadeiro no caso de uma orca, um tigre e um chimpanzé”, disse o porta-voz Steven Feldman.

No entanto, embora a organização se oponha ao uso de chimpanzés para fins de entretenimento – e mesmo tendo ela também se unido ao Serviço de Pesca e Vida Selvagem para classificar os chimpanzés que vivem em cativeiro como animais ameaçados -, ela considera os saltos, mergulhos e outros comportamentos que as orcas e outros mamíferos marinhos apresentam em parques marinhos como de natureza educativa, e não apenas puro entretenimento.

“São comportamentos naturais”, disse Paul Boyle, vice-diretor sênior de preservação e educação na associação. 

“Eles estão muito bem coordenados e as pessoas gostam de assisti-los”.

Christopher Dold, vice-diretor de serviços veterinários do SeaWorld, argumenta que as orcas mantidas nas instalações do SeaWorld já tem “uma fenomenal qualidade da vida”. O SeaWorld e a Associação de Zoológicos e Aquários dizem que o SeaWorld oferecem um alto nível de assistência veterinária e programas de apoio psicológico para os animais em cativeiro.

Eles também dizem que lá têm sido desenvolvidas pesquisas sobre a cognição, o comportamento e a fisiologia das orcas e outros cetáceos, argumentando que tais estudos não poderiam ser feitos de outra maneira. Dold acrescenta que o conhecimento e a oportunidade do público ver os animais em ação podem educar o público e apoiar a causa da preservação.

“É por isso que as baleias assassinas que se conectam com as pessoas nos zoológicos todos os dias são tão importantes para nós como sociedade”, disse ele.

Rose, que se opõe à manutenção de orcas em cativeiro, também afirma que grande parte das pesquisas científicas já realizadas foi iniciada em estudos desenvolvidos em parques marinhos. “A história conta que a nossa ciência foi construída sobre as costas das pessoas que começaram carreira na indústria da exposição pública”, disse ela. “É uma questão com a qual a nossa comunidade não gosta de lidar”, acrescenta. É ela que Rose espera remediar.

Em uma reunião da sociedade de Mamologia Marinha a ser realizada na Nova Zelândia, Rose será um dos vários pesquisadores que vão apresentar trabalhos sobre a sobrevivência de orcas em cativeiro. Seu trabalho, conta ela, pretende mostrar que as orcas mantidas em cativeiro não vivem tão bem quanto as selvagens, e que as mudanças na maneira como os animais são cuidados, assim como o aumento no percentual de animais nascidos em cativeiro desde 1995, não proporcionaram melhoras nas taxas de sobrevivência.

Existem algumas “verdades difíceis”, segundo ela, que a comunidade científica precisa encarar. 

Fonte: UOL

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