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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Em busca do milagre energético

A Lockheed Martin tem um plano para transformar o sistema energético mundial: um tipo viável de fusão nuclear. Bill Gates e outro veterano da Microsoft, Nathan Myhrvold, já despejaram milhões de dólares em um reator de fissão que poderia funcionar à base de resíduos nucleares. A China aproveitou uma pesquisa descartada nos EUA para tentar desenvolver um reator mais seguro, baseado num elemento abundante chamado tório.

Muita gente inteligente está chegando à conclusão de que o problema energético será o maior desafio do século 21. Temos de fornecer energia e transporte a uma população que chegará a 10 bilhões de indivíduos, mas também precisamos limitar as emissões de dióxido de carbono (CO2) que ameaçam nosso futuro.

Muitos ambientalistas creem que as energias eólica e solar poderão ser ampliadas para atender à crescente demanda. Mas diversos analistas afirmam que as energias renováveis não poderão nos levar nem até a metade desse caminho.

Jovens brilhantes estão trabalhando para melhorar o armazenamento de eletricidade. Também já começaram a ser desenvolvidas tecnologias futuristas que possam retirar o CO2 da atmosfera de forma barata.

Mas, diante da premente necessidade de milhares de usinas geradoras de energia que funcionem noite e dia sem emitir CO2, muitos tecnólogos continuam revisitando as possibilidades de aperfeiçoamento da energia nuclear.

"Precisamos de milagres energéticos", declarou Gates três anos atrás, ao lançar sua iniciativa. Gates e Myhrvold planejam construir o chamado "reator de onda viajante". Em princípio, ele poderia operar de forma segura por meio século (ou mais) sem ser reabastecido e seria alimentado com resíduos perigosos das atuais usinas.

Esse método, como os dos reatores existentes, baseia-se na fissão, ou seja, na quebra de átomos pesados, usando a energia resultante para acionar turbinas elétricas.

A abordagem da Lockheed Martin envolve a fusão de variantes do hidrogênio em elementos mais pesados, uma reação semelhante àquela que mantém o Sol "aceso".

Em discurso neste ano, um dos líderes desse programa, Charles Chase, sugeriu que a meta é desenvolver reatores de fusão pequenos e modulares que possam ser montados em fábricas.

Entre as novas abordagens nucleares, os reatores de fissão à base de tório oferecem vantagens em termos de segurança. Os conceitos básicos foram provados em pesquisas da década de 1960 nos EUA, mas a ideia acabou abandonada.

Um engenheiro do Alabama, Kirk Sorensen, ajudou a resgatar esse trabalho e fundou uma empresa, a Flibe Energy, para levar isso adiante. Mas a China está à frente dos EUA nesse campo, com centenas de engenheiros desenvolvendo reatores de tório.

"Eles estão dando voltas na pista, e nós nem decidimos se vamos amarrar nosso tênis", afirmou Sorensen.

No entanto, mesmo que essas tecnologias funcionem, é possível que elas só sejam amplamente instaladas nas décadas de 2030 e 2040. Os climatologistas nos dizem que seria tolice esperar tanto tempo para começar a confrontar o problema das emissões.

As duas abordagens para a questão -gastar dinheiro na tecnologia atual ou investir em avanços futuros- são às vezes apresentadas como conflitantes. Mas os especialistas mais inteligentes dizem que temos de perseguir ambas, agressivamente.

Uma política climática ambiciosa por parte dos EUA, ancorada por um preço elevado sobre as emissões de CO2, atenderia simultaneamente aos dois objetivos, acelerando a tendência de substituição das usinas termoelétricas a carvão por usinas a gás natural e direcionando investimentos para as atuais tecnologias de baixa emissão de carbono, como a eólica e a solar.

Também haveria maior recompensa econômica para o desenvolvimento de novas tecnologias -reatores nucleares de nova geração, células solares melhoradas ou alguma coisa inteiramente imprevista.

Na prática, a política dos EUA é esperar por milagres energéticos, sem muito esforço para que eles aconteçam. Mas, certamente, nos sentiríamos bem melhor em relação ao futuro se o pleno poder criativo do capitalismo americano fosse liberado para o problema climático.

Fonte: Folha Online

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