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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Extração de xisto (fracking). O ‘progresso’ a qualquer custo. Entrevista com Suzana Padua

“Muitas medidas que parecem boas para a economia podem ser danosas ao meio ambiente, como o gás de xisto”, adverte a ambientalista.

A extração do gás não convencional, conhecido popularmente como xisto, pode causar impactos ambientais “irremediáveis”, alerta Suzana Padua, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo ela, “o processo de exploração do gás de xisto contamina a água por causa do local em que o xisto se encontra, aprisionado em pequenas bolhas de formações rochosas altamente impermeáveis”.

Ela explica: “Enquanto o gás natural e do petróleo ocorrem em estruturas geológicas e nichos próprios, o gás de xisto está impregnado nas rochas e na própria formação geológica. Sua extração tornou-se eficiente e econômica em tempos recentes por conta de avanços tecnológicos. A eficácia nas perfurações horizontais e o procedimento de fraturar a rocha, conhecido como ‘fracking’, injeta, sob alta pressão, grandes quantidades de água, explosivos e substâncias químicas. É nesse processo que ocorrem vazamentos e a contaminação de aquíferos de água doce, que estão localizados acima do xisto”.

Na avaliação da ambientalista, a possível extração de xisto no Brasil pode contaminar o Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água subterrânea do país. “Qualquer país com inteligência e sagacidade em relação ao futuro estaria defendendo o Aquífero Guarani com unhas e dentes, ao invés de planejar formas de danificá-lo por conta de divisas que serão resultado de práticas insustentáveis e irresponsáveis”, frisa.

Suzana Padua é doutora em Educação Ambiental pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília e mestre pela Universidade da Flórida. É presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ e membro da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Hoje se fala em uma “revolução do xisto” nos EUA. O que isso significa? Trata-se de uma nova revolução energética?

Suzana Padua - Não sou especialista neste assunto, mas estou divulgando o tema por considerar de grande risco. Copiar um país como os EUA, que vem buscando meios de alavancar sua economia com práticas que podem ser danosas para o meio ambiente, não me parece ser prudente. A falta de estudos prévios e de uma visão de longo prazo são fatores que preocupam os especialistas nesta área. Foi assim com os agrotóxicos, os transgênicos e tantas outras “tendências” danosas que se implantaram em nosso país – e agora é a vez do xisto. O Brasil copia, adota e depois se torna campeão de uso, dependente das grandes empresas multinacionais que são as fabricantes desses produtos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana, mas depois tem de lidar sozinho com as consequências nefastas que permanecem em nosso território. O fato é que muitas medidas que parecem boas para a economia podem ser danosas ao meio ambiente, como o próprio gás de xisto. Sua exploração causa impactos ambientais, que podem ser irremediáveis, o que já foi observado nos locais em que vem sendo extraído. Por conta disso, há países que têm evitado entrar na onda de explorar o xisto, mesmo perdendo a chance de ganhar divisas econômicas. Outros, que querem entrar, vêm encontrando barreiras com a opinião pública, como ocorreu recentemente no Reino Unido, quando a população manifestou-se fortemente contra essa prática.

IHU On-Line – O Brasil está entre os países que possui as maiores reservas de gás não convencional. Como o país deve se posicionar diante da chamada “revolução do xisto”?

Suzana Padua - O Brasil é um dos poucos países do planeta a ter uma posição confortável em termos de recursos naturais. Por isso, deveria estar ditando regras, e não cedendo a pressões econômicas internacionais. Segundo o geólogo e professor emérito da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, Luiz Fernando Scheibe, especialista na questão do gás de xisto, nosso país nem precisa de gás neste momento, menos ainda entrar no processo de explorar o gás de xisto sem precisar. Ele defende uma moratória de cinco anos, período em que estudos podem ser realizados para aumentar as chances de se evitar danos maiores, especialmente ao maior patrimônio da atualidade: a água. Qualquer país com inteligência e sagacidade em relação ao futuro estaria defendendo o Aquífero Guarani com unhas e dentes, ao invés de planejar formas de danificá-lo por conta de divisas que serão resultado de práticas insustentáveis e irresponsáveis.

IHU On-Line – Quais as implicações ambientais da extração do gás não convencional (xisto) para o Aquífero Guarani?

Suzana Padua - O processo de exploração do gás de xisto contamina a água. A razão é o local em que o xisto se encontra, aprisionado em pequenas bolhas de formações rochosas altamente impermeáveis. Enquanto o gás natural e o petróleo ocorrem em estruturas geológicas e nichos próprios, o gás de xisto está impregnado nas rochas e na própria formação geológica. Sua extração tornou-se eficiente e econômica em tempos recentes por conta de avanços tecnológicos. A eficácia nas perfurações horizontais e o procedimento de fraturar a rocha, conhecido como “fracking”, injeta, sob alta pressão, grandes quantidades de água, explosivos e substâncias químicas. É nesse processo que ocorrem vazamentos e a contaminação de aquíferos de água doce, que estão localizados acima do xisto. Trata-se, portanto, de uma tecnologia que se baseia em processos invasivos da camada geológica portadora do gás, por meio da fratura hidráulica (shale gas fracking), que resulta em danos ambientais ainda não totalmente conhecidos, mas que podem ser irreversíveis.

IHU On-Line – Como vê a intenção do governo brasileiro de incluir o gás de xisto na matriz energética brasileira?

Suzana Padua - O Brasil parece querer progresso a qualquer custo. Ainda não acordou para o grande valor do que temos em nosso território em termos de biodiversidade e outras riquezas naturais. Deveríamos estar investindo maciçamente em tecnologias sustentáveis e salvaguardando nosso patrimônio natural. Temos feito o inverso, o que é uma lástima. Uma vez que a natureza seja impactada, jamais retorna ao estado original. Mesmo em casos de sucesso, como a recuperação de áreas degradadas, ou a despoluição de rios, por exemplo, o resultado final jamais alcança a diversidade do que havia originalmente. São bilhões de anos de evolução para se ter a vida encontrada em biomas como os encontrados no Brasil, mas para se destruir é rápido. Não que tenhamos de tratar a natureza como intocável. Não é isso. Simplesmente, é optar consciente e responsavelmente por caminhos que levem à vida e não à morte. Todos queremos desenvolvimento, conforto e progresso. Mas que tipo e a que preço é o que precisamos pensar agora. Se investíssemos em alternativas sustentáveis e limpas, chegaríamos a níveis altos de satisfação sem colocarmos em risco o que temos ainda em nosso território. As escolhas determinarão nosso destino, e o xisto é apenas mais um elemento que está mostrando a força do poderio econômico frente à nossa própria preservação nessa Terra. Quando não houver mais água, e oxalá isso não aconteça, espero que lembremos que foi por conta de escolhas irresponsáveis que ficamos à deriva de um destino nada promissor.

Fonte: EcoDebate

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