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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Inseticidas Domésticos, Parte 1/3, artigo de Roberto Naime

CASTRO e ROZEMBERG (2015) fazem análise e discutem sobre as estratégias adotadas pelas propagandas de inseticidas para uso no ambiente doméstico, e suas implicações para a saúde pública.


Analisam peças publicitárias de inseticidas veiculadas na mídia televisiva no período de 2008 a 2010. O método utilizado foi a análise de conteúdo. As categorias geradas pela análise foram apelo ao “status” do usuário, ocultação e minimização dos riscos, símbolos de modernidade e cientificidade, representações de um mundo asséptico e representações de força, poder e controle.

CASTRO e ROZEMBERG (2015) concluem que todas as propagandas analisadas utilizaram estratégias que ocultam os riscos toxicológicos dos inseticidas no ambiente doméstico e não cumprem a legislação brasileira.

O Brasil apresenta uma complexa situação no que se refere ao controle de doenças transmissíveis. As ações implementadas visando a erradicação dos agentes patogênicos, ou dos seus vetores, se dão através de controle químico com a utilização de agrotóxicos.

Em todo o mundo, 100 mil agentes químicos sintéticos estão atualmente no mercado. A cada ano, mil novas substâncias são lançadas, a maioria delas sem serem testadas ou avaliadas adequadamente, segundo CASTRO e ROZEMBERG (2015)

A legislação brasileira diferencia os produtos de uso na agricultura dos utilizados em ambientes confinados. Os primeiros, segundo a Lei n. 7.802, de 11/07/1989, são classificados como agrotóxicos, os segundos são classificados, pela Lei n. 6.360, de 23/09/1976, como saneantes domi-sanitários, sendo definidos como “substâncias ou preparações destinadas à higienização ou desinfestação domiciliar, em ambientes coletivos ou públicos”.

A lógica empregada nas políticas de controle dos vetores em ambiente doméstico, baseada no uso de inseticidas, é semelhante ao modelo de uso de agrotóxicos para controle fitossanitário na agricultura.

Tem ocorrido se acumularem críticas bastante consistentes sobre a insustentabilidade do modelo agrícola químico-dependente. Já no ambiente urbano, são poucas as críticas e relativamente escassos os estudos evidenciando as decorrências deste modelo de “proteção à saúde”, dedicado ao controle das chamadas “pragas urbanas e domésticas” (CASTRO e ROZEMBERG, 2015)

A categoria em aerossol teve o crescimento mais expressivo em volume, com 5,1%. Destaque também para os inseticidas elétricos com novas versões automáticas, que liberam o produto periodicamente para a proteção contra pernilongos, mosquitos e moscas.

Segundo dados de pesquisa da Nielsen Brasil, o mercado de inseticidas no país teve um crescimento de 240% nos últimos cinco anos. Os inseticidas são comercializados durante todo o ano, mas as maiores vendas se concentram nos meses mais quentes e úmidos, quando os insetos domésticos aparecem com mais frequência.

Os produtos são facilmente encontrados nas grandes redes de supermercado e também nos pequenos varejos e mercearias de bairro.

Nos supermercados, encontramos uma variedade de produtos e marcas de inseticidas líquidos, em pó, em pasta e até elétricos, com uma grande de diversidade de princípios ativos, o que acarreta possíveis riscos à saúde humana.

O consumidor é atraído pela mídia, que oferece esses produtos como protetores da saúde e como um sinônimo de limpeza (CASTRO e ROZEMBERG, 2015).

O surgimento de cepas resistentes aos inseticidas faz com que o consumidor insista no uso, aumentando o risco de intoxicação. A resistência a pesticidas tem sido documentada em mais de 100 espécies de mosquitos e em muitas espécies de outros artrópodes importantes na área da saúde, tais como moscas, piolhos, percevejos, pulgas, baratas e carrapatos.

Há mais de trinta anos se discute e se questiona, a aspersão ambiental de pesticidas para o controle urbano da dengue por meio da tecnologia que supõe eliminar larvas e o inseto alado. O uso prolongado acarreta o desenvolvimento de resistência por parte das espécies e a contínua expansão do número de casos da doença.

A precariedade da forma com que as substâncias químicas são utilizadas em nosso país, bem como o uso simultâneo de várias delas, geralmente em grandes quantidades, aponta a existência de risco elevado, que pode se tornar, num curto espaço de tempo, um problema de graves consequências para a saúde pública e para o meio ambiente.

A população desconhece as propriedades tóxicas dos componentes dessas formulações tanto princípios ativos, como solvente, propelentes e sinergias mobilizadas. A falta de preocupação e o desconhecimento da toxidade dos produtos utilizados, por parte de diferentes segmentos sociais, é uma constatação geral.

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Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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