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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Polêmico canal interoceânico na Nicarágua deve fortalecer China

A construção na Nicarágua de um polêmico novo canal como o do Panamá, entre os oceanos Pacífico e Atlântico, deve fortalecer economicamente e geopoliticamente a China, disseram analistas ouvidos pela BBC.
Estima-se que o projeto, o maior da história da Nicarágua e um dos maiores da América Latina, terá um custo de US$ 40 bilhões (cerca de R$ 85 bilhões), aproximadamente quatro vezes o PIB nicaraguense.

Antes mesmo da inauguração do Canal do Panamá, em 1914, já se discutia a possibilidade de se construir uma via marítima para ligar os dois oceanos que banham suas costas. O projeto, porém, vinha enfrentando críticas de deputados da oposição nicaraguense, que temem os efeitos que ele terá sobre a população indígena do país e também sobre o Lago Nicarágua.

A empresa HK Nicaragua Canal Development Investment Co. Limited (HKND Group), com sede em Hong Kong e dirigida pelo magnata das comunicações chinês Wang Jing, ganhou uma concessão de 50 anos para construir e operar o canal, e espera finalizar a obra em dez anos.

Embora o governo chinês não esteja participando oficialmente da obra, a expectativa é de que não só o país seja beneficiado por ela como também seus parceiros comerciais, de acordo com analistas ouvidos pela BBC.

O que não está claro, porém, é se o novo canal acirrará a disputa entre China e Estados Unidos pelos mercados latino-americanos.

Competitividade – Analistas acreditam que um canal deste tipo poderia beneficiar a China da mesma forma que o Canal do Panamá beneficiou os Estados Unidos no início do século 20, em um momento em que a potência asiática lança uma agressiva expansão comercial e política a nível global.

Atualmente, 5% do comércio mundial circula pelo canal panamenho. Se for construído, o canal nicaraguense vai cortar o Lago da Nicarágua e terá três vezes a extensão do Canal do Panamá, que mede cerca de 80 quilômetros.

A perspectiva é que, economicamente, o canal possa ampliar a competitividade dos produtos chineses na América devido à diminuição dos custos de transporte. Isso é especialmente atraente dado o tamanho do mercado consumidor nos EUA.

“Para a China, é um golaço geopolítico nos Estados Unidos”, disse à BBC Mundo Heinz Dietrich, pesquisador da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM) do México. “(A China) teria uma acesso estratégico muito melhor à América do Norte, algo que não tem neste momento.”

Dietrich diz que o canal é “uma resposta ao que faz Washington, ao estabelecer alianças” na região vizinha ao país asiático. “É como um xadrez. A China diz: vocês procuram construir um muro de contenção na nossa vizinhança, então nós podemos fazer o mesmo com Costa Rica, México e agora a Nicarágua.”

América Latina – Para os países da região, a perspectiva é de que o novo canal possa também ter um impacto econômico positivo. “Não é útil apenas para a China, é uma demanda antiga de longa data do comércio que passa pela América Central. Faz muitos anos que o Canal do Panamá está saturado”, diz José Luis León Martínez, pesquisador do departamento de Política e Cultura da UAM.

“Uma das razões de a Venezuela não ter ampliado a venda de petróleo à China é porque os venezuelanos não tem costa no Pacífico. Com um canal pelo qual esse tipo de produto possa ser transportado, certamente vai cair muito o custo de transporte das matérias-primas produzidas na América Latina para a China”, afirmou.

Isso não quer dizer, necessariamente, que a tensão entre Estados Unidos e China vai aumentar em meio a uma disputa pelos mercados da região.

“A relação entre China e Estados Unidos é íntima, entre eles há mais harmonia do que conflito”, diz Arturo Cruz Sequeira, professor do Instituto Centro-Americano de Administração de Empresas.

Ele acredita que, embora “implicitamente” os EUA “tenham poder de veto” neste projeto, é improvável que Washington adote tal postura.

“A verdade é que este projeto pode unir Estados Unidos e China, em vez de separá-los”, disse Sequeira.

Meio ambiente – O projeto de lei para a construção do canal foi aprovado na quinta-feira no Congresso da Nicarágua por 61 votos a 25 após três horas de debate.

O governo comemorou a aprovação do projeto dizendo que “este é um dos dias mais importantes do desenvolvimento histórico e econômico do país” e afirmou que o canal vai garantir um crescimento econômico de 10% a 15% em curto prazo e a criação de milhões de empregos formais nos próximos anos.

Segundo o site Nicaragua Dispatch (com notícias da Nicarágua em inglês), a lei que o presidente Daniel Ortega enviou com caráter de urgência à votação prevê que a companhia chinesa também construa um oleoduto, uma ferrovia, dois portos e uma série de zonas de livre comércio, todos relacionados com o canal interoceânico.

Entretanto, deputados da oposição nicaraguenses questionaram o impacto do projeto, argumentando que populações indígenas que terão suas terras afetadas pelo canal não foram consultadas.

A polêmica também gira em torno do desconhecimento sobre o traçado exato do canal. Além disso, ativistas estão preocupados com o fato de o Lago da Nicarágua ser a fonte de água doce mais importante do país.

A companhia chinesa disse que está em contato com uma das principais empresas consultoras em meio ambiente para medir o impacto do canal no ecossistema local.

Fonte: Terra

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