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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Manifestações populares. Lá fora é lindo de se ver, artigo de Montserrat Martins


A “primavera árabe” comoveu o mundo inteiro, o “Occupy Wall Street” e os jovens do M-15 da Espanha também despertaram simpatias generalizadas, mas quando os manifestantes são daqui – como os contra o aumento das passagens em SP e no RS – então eles passam a ser chamados de “baderneiros e vândalos”, dito pelo governador Alckmin esta semana, linha de raciocínio seguida também pelo prefeito Haddad, um pouco menos explícito. Quer dizer, manifestante bom é manifestante dos outros países, lá fora é lindo de ver.
No auge da guerra fria entre EUA e URSS, Millôr Fernandes dizia que a melhor maneira de saber a verdade sobre os Estados Unidos era ler os jornais da Rússia e vice-e-versa. Quando dois lados brigam, os dois podem ter razão – um sobre os defeitos do outro, como na “sacada” de Sartre de que “o inferno são os outros”. As mesmas autoridades que demonizam os ativistas aplaudem o palestrante Manuel Castells, quando ele descreve a relevância dos movimentos sociais hoje. No papel e no discurso, também é sempre mais bonito que nas ruas, ideias organizadas e concatenadas que explicam o mundo fazem todo o sentido – quando não se tornam realidade dentro da casa da gente. Na questão ambiental acontece o mesmo, disse estes dias o Gabeira: o Brasil faz o papel de defensor da sustentabilidade nas conferências internacionais sobre o clima, mas internamente voltou a aumentar os índices de desmatamento, depois da “flexibilização” do Código Florestal.

Castells foi precursor em identificar nos movimentos por causas específicas – quer dizer, sem um partido ou força política tradicional à frente – uma tendência do século XXI, que ele chamou de sociedade em rede. “O Manifestante” foi eleito a “Personalidade do Ano” da Revista Time, em 2011 e naquele momento ninguém questionou se os movimentos cometiam exageros, depredações, só se exaltou seu caráter de representatividade popular, democrático, da força do povo. Os governantes árabes, é claro, foram os primeiros a apontar aquelas multidões como de baderneiros, como agora diz Alckmin e insinua Haddad.

Já sobre o preço das passagens de ônibus – o motivo dos protestos, afinal – não há respostas significativas, nem mesmo promessas. Uma velha tática política sempre foi mudar de assunto, os alvos se colocarem no lugar de vítimas e culparem quem reclama de cometerem “abusos”. E os preços por acaso não são abusivos, a revolta não é justa? No Egito, com certeza seria, em São Paulo parece que não. Em Porto Alegre, onde uma decisão do TCE está barrando o reajuste, o prefeito e o governador evitaram declarações, ficando para a Brigada e para a mídia o papel de salientar as depredações. Millôr Fernandes, Sartre e cia. já tinha matado essa charada, protesto só é bom na casa dos outros. Lá fora, mesmo, é que é lindo de se ver.

Montserrat Martins

Fonte: EcoDebate

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