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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Aquecimento segue mesmo com ‘hiato’ de 15 anos, diz relatório

Para os líderes do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática), a desaceleração na subida de temperaturas terrestres nos últimos 15 anos é um fenômeno científico curioso, mas não viola a tendência de aquecimento global no longo prazo.Segundo os cientistas que compõem o painel da ONU, os modelos que a entidade usa para simular o clima só estariam errados se as temperaturas pararem de subir rápido durante mais 15 anos.

“Eu diria com grande confiança, porém, que isso não é uma hipótese com a qual lidamos, dado o nível de emissões de gases-estufa que medimos todo ano e que está atingindo níveis sem precedentes”, afirmou Thomas Stocker, copresidente do Grupo de Trabalho 1 do IPCC, em entrevista coletiva.

Na opinião do climatologista, o problema em dar muito peso a esse fenômeno no curto prazo é que o aquecimento só desacelerou na medição da temperatura do ar.

Os oceanos, que dominam a absorção de energia na Terra, e as geleiras, continuam a se aquecer. Não houve hiato nos mares, que, segundo o novo relatório do IPCC, absorveram mais de 90% da energia extra que a mudança climática aprisionou no planeta entre 1971 e 2010.

O calor extra, sugerem estudos recentes, pode estar indo para o fundo do mar, sobretudo por meio de padrões de circulação anômalos no Pacífico. “O problema é que ainda não existe muita literatura científica que nos permita tratar essa questão emergente com a profundidade necessária.”

Neste caso, falta literalmente profundidade aos termômetros que monitoram o aquecimento pan-oceânico.

Dois estudos relevantes sobre o tema, afirmou a direção científica da entidade, não foram publicados a tempo de serem avaliados pelo AR5, o quinto relatório de avaliação do painel, que começou a ser divulgado ontem.

O novo documento do IPCC, portanto, não se arrisca a listar mecanismos físicos para explicar o hiato de 15 anos. Restou ao painel mostrar que outros hiatos semelhantes não resultaram em freada da mudança climática, tese de grupos que negam o aquecimento global.

O texto final do documento, alterado após quatro dias de negociações em Estocolmo, deu ao hiato uma importância menor, comparada à que ele recebia no esboço do texto submetido a governos para comentários em junho.

A versão final diz que a temperatura média global de superfície “exibe substancial variabilidade interanual e decadal” apesar de um “robusto aquecimento multidecadal”. “A taxa de aquecimento nos últimos 15 anos (0,05°C por década), que começam com um forte El Niño, é menor que a taxa calculada desde de 1951 (0,12°C por década)”, diz o texto.

“Há uma recomendação da WMO (Organização Meteorológica Mundial) para que, quando analisamos questões sobre o clima, olhemos as tendências de longo prazo”, diz Michel Jarraud, secretário-geral da organização mãe do IPCC. 
 
“O consenso é que uma das melhores escalas de tempo para analisar tendência no clima é aquela da ordem de 30 anos.”

Críticas – A argumentação do IPCC não parece ter dobrado a opinião dos que negam o aquecimento. O americano Anthony Watts, meteorologista de uma afiliada da TV Fox News que tem um dos blogs antiaquecimento global mais lidos nos EUA, criticou o relatório do painel do clima.

Para ele “o registro de temperaturas desde 1998 faz o aquecimento global ficar cada vez mais com cara de variabilidade natural”.

O diretor-geral do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Achim Steiner, foi cuidadoso na sexta (27) ao não desqualificar o simples ato de questionar as conclusões do IPCC.

“Haverá quem prefira enfocar os pontos de interrogação do novo relatório, e isso não é inapropriado”, disse. “Mas um conhecimento perfeito não pode ser a condição para que a humanidade tome decisões. Podemos não saber tudo, mas sabemos o suficiente para avaliar os riscos de não agir.”

Incerteza - Quem esperava ver o IPCC emitir um relatório tímido em razão do hiato testemunhou os cientistas subirem o tom de alerta. O “Sumário para Formuladores de Políticas”, documento destinado a governos, dá bastante destaque ao fato de as últimas três décadas terem sido as mais quentes da história, batendo recorde após recorde.

No final deste século, a temperatura média da superfície terrestre provavelmente vai exceder um aumento médio de 1,5°C até 2100, em relação à média de 1850 a 1900. Isso vale para todos os cenários, exceto o mais otimista, no qual emissões sofrem cortes drásticos, atingindo um pico daqui a dez anos e caindo para zero 50 anos depois.

Em um cenário intermediário, no qual as emissões dobram até 2060 e recuam a um nível maior do que o atual antes de 2100, a temperatura provavelmente excederá um aumento de 2°C, limite considerado perigoso por cientistas. No pior cenário, em que se triplica a emissão de gases-estufa até 2100, a temperatura média provavelmente subiria até 4,8°C.

As projeções de aumento no nível do mar foram revistas para cima. A linha d’água pode subir 98 cm até o fim do século, avançando em média 82 cm entre 2081 e 2100. No cenário mais otimista, ela ainda provavelmente sobe acima de 26 cm, mais do que a elevação do século 20.

A palavra “provavelmente”, na linguagem do painel, significa uma propensão acima de 66%, a melhor confiabilidade possível para projeções futuras.

Ao avaliar o efeito das emissões de gases-estufa no clima passado, o relatório dá 95% de certeza de que o aquecimento desde o meio do século 20 seja resultado da influência humana. Em 2007, o relatório dizia que o mesmo era “muito provável” (90%).

Fonte: Folha.com

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