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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sobre qualidade e contaminação

O filósofo L. Feuerbach disse, por volta de 1850, que “o homem é o que come”. A frase descreve bem o que acontece com nosso organismo. Se comemos algo saudável, ficamos mais saudáveis, ou quando comemos algo imprestável, acabamos por ficar doentes.

Não podemos escapar da realidade de ter que nos alimentar. A questão é: o que devemos comer?

Com o avanço da química e da genética passamos a considerar o alimento como objeto no food design, passando a consumi-lo de maneira mais veloz e pronta no fast food e de maneira totalmente inconsciente, engolindo tudo que se apresenta à nossa frente, enquanto fazemos negócios, vemos televisão ou caminhamos pela cidade, o novel food.

“Considerando que os alimentos são desenhados geneticamente, contaminados com inseticidas, herbicidas, fungicidas, bactericidas, hormônios e posteriormente processados, tendo adição de emolientes, estabilizantes, acidulantes, diluentes, corantes, aromatizantes, vitaminas, reforçadores de sabor (entre outros são 2.700 aditivos para alimentos), percebemos que do campo ao prato, provavelmente alteramos os alimentos de tal maneira que torna difícil avaliar realmente o que estamos comendo” –  Manfred Klett.

A questão das doenças degenerativas do sistema cerebral e neuro-sensorial nos seres humanos ultrapassa hoje qualquer limite de compreensão científica. Estatísticas mostram que em países desenvolvidos, se a pessoa tem 85 anos ela tem quase 50% de chance de estar com doença de Alzheimer (US Census Bureau and Institute on Aging).

As hipóteses mais recentes em relação à atuação dos radicais livres que estariam degradando, envelhecendo o organismo humano precocemente, leva hoje a camada mais esclarecida da população a consumir vitaminas, minerais e substâncias neutralizadoras dos radicais livres, buscando harmonizar a função celular e a função do organismo como um todo.

Substâncias ingeridas que perturbam as sinapses terminais das células nervosas do organismo onde ocorre transmissão de informações, acabam levando também à degeneração das células nervosas como um todo. Uma melhor eliminação dos efeitos de substâncias nocivas como cigarro, álcool e agentes químicos formadores de radicais livres, como estabilizantes e aditivos químicos, é possível através da adição à dieta de alimentos que contenham antioxidantes. Harmonizadores das ligações sinápticas como as proteínas vegetais derivadas, iogurtes e óleos vegetais, são hoje recomendáveis e se aliam às dietas adotadas em todo o mundo por populações com altos índices de longevidade saudável.

Um exemplo extremo de má alimentação originada de uma visão materialista e reducionista é a questão da vaca louca (Síndrome Bovina Espongiforme) que pode ser visto como mais um sintoma de um fenômeno que acontece quando desvirtuamos a qualidade original dos alimentos, desviando-o do design evolutivo, adaptado ao ambiente e ao ser humano (co-evolução adaptativa). Ao forçarmos um animal ruminante a consumir carcaças proteicas de outros animais, estamos dando um exemplo de incompetência técnica e científica que mostra que o direcionamento técnico moderno está bastante deturpado e longe da compreensão de como funciona a natureza. No cérebro do doente com Doença de Kreutzfeld-Jacob (forma humana da doença da vaca louca) aparecem os príons, estranhas proteínas replicáveis, e na Doença de Alzheimer, as placas e emaranhados amiloides também aparecem, ambos de natureza proteica, sintomas nessas duas terríveis doenças neuro-degenerativas. Há erros na concepção da alimentação a animais e, por consequência, na alimentação humana.

A qualidade dos alimentos convencionais e orgânicos

Os alimentos convencionais, aqueles que são produzidos com a utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos, estão hoje na mira. Eles sofrem forte crítica na mídia, no meio acadêmico e por parte do consumidor. Os muitos acidentes ambientais, o uso desenfreado dos agrotóxicos (alguns componentes de plásticos e detergentes também) confere aos alimentos características pouco desejáveis que, em longo prazo, resultam nas seguintes consequências para a saúde humana, já comprovada cientificamente: câncer em vários órgãos como pulmão, intestino, mama, fígado, pâncreas e próstata; atrofias sexuais, disfunções hormonais, alergias, irritações e, finalmente, amadurecimento sexual precoce, entre outros.

Os animais também são vítima de intoxicações, quando vítimas de manejo de endo ou ecto parasitocidas, como por exemplo, os que combatem a mosca do berne no gado de leite. Os resíduos deste parasiticida permanecem até 21 dias no sangue e leite, em doses consideradas perigosas pela Organização Mundial de Saúde.

Os ambientes e ecossistemas onde estes alimentos convencionais estão sendo produzidos estão, por sua vez, extremamente contaminados. Não somente os seres humanos que neles vivem, mas os animais e plantas também. Análises de solo e plantas de produção frequentemente revelam aos especialistas índices de contaminação nada desprezíveis.

Esta realidade afeta os seres humanos já nas primeiras fases de desenvolvimento, quando recebem agrotóxicos por meio do leite materno ou são contaminados pela fumaça do cigarro tragado ou por água de subsolo contaminada. Estas ações contribuem para o adoecimento geral da população aumentando sobremaneira as despesas públicas e privadas no âmbito da saúde. Pesquisas relacionam ao surgimento de doenças de Parkinson, o trabalho com a agricultura, dificultando ainda mais a manutenção da saúde paras as populações.

Outras pesquisas relacionam o surgimento de câncer e dano cromossômico com o uso de herbicidas e pesticidas e, surpreendentemente, conclui-se cada vez mais que os pesticidas são químicos que têm a capacidade de romper o sistema endócrino, interferindo nos hormônios do corpo humano. Organizações como o Departamento do Meio Ambiente da Grã- Bretanha, a Agência Federal Alemã para o Meio Ambiente, a União Européia, a Comissão Oslo-Paris e o WWF identificaram no total mais de 40 pesticidas rompedores do sistema endócrino.

Pesquisas recentes indicam que em Petrolina (região de intensa produção de frutas e consequentemente de uso intenso de agrotóxicos), as mulheres estão menstruando mais cedo que as mulheres vivendo em regiões urbanas. Outros sintomas como abortos também estariam ligados ao uso de agrotóxicos, comparando-se as populações de Petrolina e Recife.

Sem dúvida nenhuma, as hipóteses e explicações de que os agrotóxicos “mimetizam” os hormônios, causando desequilíbrios no sistema hormonal dos animais e seres humanos, é algo que não deve ser desconsiderado, tomando-se por base os testes já feitos, mesmo porque os hormônios usados em animais para aumento de produtividade em leite e carne, banidos na Europa mas aceitos nos EUA e em parte contrabandeados para uso no Brasil, também estão sob foco de crítica com indicações de que induzem ao câncer.

A agricultura convencional, que fundamenta toda a sua cartilha no uso de herbicidas causa polêmica quando análises revelam presença do herbicida em urina humana em vários países.

Por sua vez a qualidade dos alimentos orgânicos pode ser comprovada a partir de trabalhos internacionais que, em testes comparativos, indicam e atestam cientificamente, maior concentração de nutrientes, vitaminas, sais, proteínas, assim como maior vida de prateleira, eliminando o risco dos sintomas acima descritos para alimentos convencionais por serem, por princípio, produzidos sem o uso dos agrotóxicos.

Os produtores agrícolas, assim como os técnicos agropecuários, são os médicos da Terra. Ao produzirem, moldam, dimensionam a agricultura e a paisagem. Às vezes curam e muitas vezes destroem….

Frente aos diagnósticos clínico e analítico irrefutáveis sobre o estado atual da Terra, urge sensibilizarmos os técnicos e produtores de que se não houver uma reversão na qualidade dos manejos de produção de alto desempenho produtivo, o organismo Terra não suportará essa intervenção que não permite nem saúde nem longevidade. Assim corremos o risco de constatar que a operação – o ato da agricultura para a Terra produzir – foi um sucesso, mas que o paciente morreu…

Observa-se em todo o planeta uma queda vertiginosa na qualidade ambiental e na sustentabilidade geral dos sistemas produtivos, perdas qualitativas dos alimentos gerados, poluição, destruição ambiental e contaminações prejudiciais à saúde.
Recentes pesquisas em institutos nacionais e estrangeiros relacionam uma maior incidência de doenças degenerativas com a contaminação direta ou indireta por pesticidas.

O consumo de produtos orgânicos permitirá reduzir as contaminações ambientais, animais e humanas e as doenças degenerativas.

Fonte: Mercado Ético

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