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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Produção de açúcar que supre gigantes Coca-Cola, Pepsi e ABF está expulsando comunidades de suas terras, diz Oxfam

Relatório inédito da ONG internacional denuncia omissão de grandes empresas de alimentos e bebidas quanto à apropriação injusta de terras em suas cadeias de fornecimento

Produção de açúcar que supre gigantes Coca-Cola, Pepsi e ABF está expulsando comunidades de suas terras, diz Oxfam

Foto: Tatiana Cardeal / Oxfam

A Oxfam, confederação de 17 organizações que lutam pelo fim da desigualdade e da pobreza em 94 países, divulgou nesta quarta-feira, 2 de outubro, um estudo inédito em que aponta a omissão de três grandes empresas do setor de alimentos e bebidas quanto a apropriações de terras em suas cadeias de fornecimento.

No relatório O GOSTO AMARGO DO AÇUCAR – O direito à terra e as cadeias de fornecimento das maiores empresas de alimentos e bebidas, a Oxfam denuncia disputas por terras ligadas a empresas do ramo sucroalcooleiro, que fornecem açúcar à Coca-Cola e à PepsiCo – e cita casos semelhantes na cadeia de fornecimento da Associated British Foods (que, no Brasil, detém a marca Ovomaltine).

A partir do relatório, a Oxfam está conclamando as três gigantes do setor alimentício a se comprometerem com um nível de tolerância zero quanto a apropriações de terras em suas cadeias de fornecimento que ameaçam a subsistência de populações locais – e desrespeitam ou atravancam o processo de demarcação de terras indígenas.

Para a organização, elas devem divulgar de quem e de onde compram suas commodities; publicar avaliações sobre como o açúcar que compram afeta o direito à terra das comunidades locais; e usar o seu poder para estimular governos e a indústria alimentícia como um todo a respeitarem este direito.

As três empresas tiveram desempenho “ruim” ou “muito ruim” quanto às suas políticas para terras no ranking da campanha Por Trás das Marcas da Oxfam, que avalia o desempenho de dez gigantes do ramo alimentício quanto às suas políticas com maior impacto social e ambiental.

BRASIL – Segundo o relatório publicado nesta semana pela Oxfam, há diversas evidências de disputas em torno da apropriação de terras no Brasil, um dos maiores produtores, exportadores e consumidores de açúcar do mundo:

• Uma comunidade de pescadores em Pernambuco vem lutando pelo acesso a suas terras e zonas pesqueiras depois de ter sido expulsa violentamente, em 1998, por uma usina de produção de açúcar que supre a Coca-Cola e a PepsiCo. Como consequência, muitas famílias hoje lutam para sobreviver em favelas da região de Barra de Sirinhaém e do Recife.

• No Mato Grosso do Sul, comunidades indígenas lutam contra a ocupação de suas terras por plantações de açúcar que abastecem uma usina de propriedade da Bunge. A Coca-Cola compra açúcar da Bunge no Brasil. As plantações de açúcar devastaram as florestas das quais estas comunidades dependiam para se alimentar e viver.

No estudo, a Oxfam cita também um caso de Camboja – outro país, como o Brasil, no qual a apropriação de terras ocorre de forma historicamente injusta.

AS MARCAS – Os números que cercam estas três gigantes da indústria alimentícia são contundentes:

• A Coca-Cola é o maior comprador mundial de açúcar e controla 25% do mercado global de refrigerantes. Seu portfolio de 500 marcas inclui Diet Coke, Fanta e os sucos Del Valle.

• A PepsiCo controla 18% do mercado de refrigerantes e possui 21 marcas em seu portfolio, incluindo Pepsi, Tropicana e Doritos.

• A Associated British Foods é a segunda maior produtora de açúcar do mundo e, globalmente, é proprietária de marcas como Ovomaltine, Silver Spoon Sugar, Kingsmill e Patak’s.

NEGÓCIO BILIONÁRIO – Hoje, o comércio global de açúcar movimenta cerca de US$47 bilhões. O mundo produziu 176 milhões de toneladas de açúcar no ano passado – e a indústria de alimentos e bebidas consome mais da metade deste volume. Prevê-se que a produção de açúcar aumente em 25% até 2020.

Ao passo que o crescente apetite por açúcar vem gerando preocupação entre os profissionais de saúde, a Oxfam alerta que o fato de o comércio de açúcar estar fomentando a apropriação de terras e disputas vem sendo negligenciado. Ao todo, 31 milhões de hectares – uma área equivalente à Itália – já estão sendo usados para produzir açúcar, a maioria em países em desenvolvimento.

A questão da apropriação de terras se revela grave onde comunidades locais que dependem das terras são expulsas sem qualquer consentimento prévio ou compensação. Segundo a campanha Por Trás das Marcas da Oxfam, as dez maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo carecem de políticas suficientemente fortes para impedir que a apropriação e disputas por terras façam parte de suas cadeias de fornecimento.

Segundo a diretora-executiva da Oxfam, Winnie Byanyima, “o açúcar, já relacionado a graves problemas de saúde, está também por trás do amargo problema da apropriação de terras”. A Coca-Cola, a PepsiCo e a Associated British Foods são as maiores produtoras e compradoras de açúcar do mundo, mas estão fazendo muito pouco para garantir que o açúcar de seus produtos não esteja sendo produzido em terras que foram arrancadas de comunidades pobres”.

“As pessoas que consomem estes produtos esperam mais destas empresas. Estamos convidando-as a unirem-se a nós para exigirmos que a Coca, a Pepsi e a Associated British Foods ajam agora para acabar com as apropriações de terras. Estas três empresas têm enorme poder e influência. Se agirem, conseguem transformar a indústria do açúcar”, disse a diretora.

A CAMPANHA – A Por Trás das Marcas integra a campanha Cresça, conduzida pela Oxfam em mais de 40 países, e que defende mudanças na forma de produção e consumo de alimentos. A organização espera, por meio da divulgação deste estudo e da mobilização online de consumidores no mundo inteiro, fazer com que as empresas desempenhem um papel de liderança na promoção um modelo sustentável e justo de produção de alimentos.

MAIS INFORMAÇÕES:

Ranking e pontuação final das empresas

Fonte: EcoDebate

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